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Relatório do IPCC é devastador: Aquecimento global antropogênico não pode mais ser ignorado

 
Hoje o tão aguardado Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) reforçou de forma sem precedentes o alerta em relação às mudanças climáticas causadas pelo acelerado aquecimento global antropogênico (Ref.1). Segundo o IPCC, a situação já crítica tende a piorar muito mais se as emissões de gases estufas (1) - responsáveis por exacerbar o efeito estufa e promover o aquecimento global - continuarem positivas, e realçou que o futuro da humanidade depende em grande parte das escolhas que fazemos hoje. 


(1) Leitura recomendadaQuais os mecanismos do efeito estufa atmosférico?


Se as emissões globais antropogênicas zerarem (balanço final entre emissão e remoção) até meados deste século, o objetivo do Acordo de Paris em 2015 de limitar o aquecimento global em +1,5°C em relação aos níveis pré-industriais pode ainda ser alcançado. Mas essa tarefa está se tornando quase impossível.


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O sexto relatório do IPCC trouxe um detalhado entendimento do atual estado do clima, incluindo como ele está mudando e o papel da influência humana, o estado de conhecimento sobre possíveis cenários futuros do clima, informação relevante para regiões e setores, e limitação das mudanças climáticas humano-induzidas. As atualizações são baseadas em modelos climáticos mais poderosos e um acumulado de dados muito mais robusto e compreensivo. Resumindo os principais achados:


- Não existe mais dúvida de que as atividades humanas têm aquecido a atmosfera, oceano e terra, com consequentes amplas mudanças nesses ambientes. Isso corrobora o atual consenso de 100% entre os trabalhos de cientistas climáticos ativos (2) e um estudo recente publicado no periódico Nature Communications (Ref.2) que encontrou uma probabilidade menor do que 1% de que o desbalanço de energia na Terra nas últimas décadas ocorreu por causas naturais. O desbalanço de energia - uma medida da aceleração de calor recebido pelo planeta - tem aumentado em uma média global de 0,38 0.38 ± 0.24 Wm−2/década. Inicialmente causado pelo aumento de gases estufas na atmosfera (levando a um maior "aprisionamento" de infravermelho longo emitido pela superfície terrestre), nas últimas décadas as taxas de infravermelho emitidas pela Terra aumentaram por causa do aquecimento inicial, contrabalanceando o impacto direto dos gases estufas. Agora, os feedbacks das altas concentrações de gases estufas e consequente maior efeito estufa estão levando a uma robusta menor refletividade da radiação solar incidente, fazendo o planeta ganhar mais energia do que perde pelas emissões de infravermelho. Menor cobertura de gelo marinho, mudança na cobertura de nuvens, menor nível de aerossóis no ar são os principais fatores para essa menor refletividade e consequente maior desbalanço energético. Cerca de 90% do excesso de energia térmica está sendo absorvido pelos oceanos.


(2) Leitura recomendadaCientistas ativos alcançam 100% de consenso sobre o Aquecimento Global Antropogênico


- O significativo aumento da concentração de gases estufas na superfície da Terra desde ~1750 foi causado pelos humanos. As concentrações na atmosfera atingiram médias anuais de 410 ppm de dióxido de carbono (CO2), 1866 ppb para o metano (CH4) e 332 ppb para o óxido nitroso (N2O) em 2019. A concentração atmosférica de CO2 em 2019 estava muito maior do que qualquer período nos últimos 2 milhões de anos (alta confiança). Oceano e terra têm absorvido quase constantemente em torno de 56%/ano das emissões humanas de CO2. Nas próximas décadas, a capacidade das áreas continentais e dos oceanos de absorveram CO2 irá ser significativamente reduzida com o aumento cumulativo das emissões, resultando em uma proporção ainda maior de CO2 na atmosfera (alta confiança), e exacerbando também os feedbacks climáticos.


- Cada uma das últimas quatro décadas têm sido sucessivamente mais quentes do que qualquer outra década prévia desde 1850. Nos períodos de 2001-2020 e de 2011-2020, as temperaturas médias superficiais estão 0,99°C e 1,09°C mais altas do que 1850-1900. Em 2011-2020, ocorreu um maior aumento na terra (+1,59°C) do que nos oceanos (+0,88°C). O aquecimento acelerado dos oceanos aumenta dramaticamente o degelo nos polos Sul e Norte, e aumenta perigosamente a estratificação oceânica - com o aumento de estabilidade das diferentes camadas oceânicas, menor é a mistura de águas profundas e superficiais, ameaçando o equilíbrio no ecossistema marinho (incluindo prejuízos na fixação de CO2) (3). Nos últimos 50 anos, no verão, a estratificação tem aumentado 8.9 ± 2.7% por década, e se estendido em 5-10 metros de profundidade por década (Ref.3). O atual passo de aquecimento nos oceanos não é observado desde o final da última Era do Gelo há cerca de 11 mil anos.



(3) Leitura recomendadaRastros do Aquecimento Global Antropogênico se tornando cada vez mais explícitos


- É muito provável que os gases estufas antropogênicos foram a principal causa do aquecimento troposférico desde 1979, e extremamente provável que a depleção da camada de ozônio foi a principal causa do resfriamento na estratosfera inferior entre 1979 e meados de 1990 (4). Causas naturais mudaram a temperatura superficial global de -0,1°C a 0,1°C de 1850-1900 até 2010-2019, enquanto que a influência antropogênica causou um aumento estimado de 1,07°C. 


(4) Leitura recomendada


- Mudanças globais na precipitação sobre a terra provavelmente aumentaram desde 1950, com uma mais rápida taxa de aumento desde a década de 1980 (confiança média). Esse padrão provavelmente teve contribuição das atividades humanas, e é extremamente provável que as mudanças de salinidade oceânica próxima da superfície tiveram causa antropogênica (maior degelo e chuvas levando água não-salina para os oceanos).


- A influência humana muito provavelmente foi a principal causa do recuo das geleiras desde a década de 1990, da redução da área de gelo Ártico entre 1979-1988 e 2010-2019 (cerca de 40% em setembro e cerca de 10% em março) e, em parte, da redução na cobertura de neve durante a primavera do Hemisfério Norte, e de boa parte do derretimento acelerado do gelo superficial na Groenlândia. É esperado que antes mesmo de 2050 o Ártico passe a ficar livre de gelo em setembro (5).

 

(5) Leitura recomendada (incluindo vídeo): Veja o gelo marinho do Ártico afinando e desaparecendo


- É virtualmente certo que a parte superior dos oceanos (0-700 metros) se aqueceu desde a década de 1970 e é extremamente provável que a principal causa são as atividades humanas. É virtualmente certo que as emissões antropogênicas de CO2 foram a principal causa do atual nível de acidificação da superfície oceânica (6), alcançando um nível de pH anormalmente baixo nos últimos 2 milhões de anos (média confiança). Existe alta confiança que os níveis de oxigênio nos oceanos diminuíram desde meados do século XX, e média confiança de que a influência humana contribuiu para essa queda.


(6) Leitura recomendadaDióxido de carbono e acidez dos mares


- O nível médio global dos oceanos aumentou em 0,2 metro entre 1901 e 2018 (7). A taxa anual desse aumento alcançou 3,7 mm/ano entre 2006 e 2018, quase 3 vezes maior do que entre 1901 e 1971 (alta confiança). A influência humana muito provavelmente foi a principal causa para esses aumentos desde pelo menos 1971. 


(7) Leitura recomendadaOs níveis dos mares não estão aumentando?


- É virtualmente certo que extremos de altas temperaturas (incluindo ondas de calor) se tornaram mais frequentes e mais severas, enquanto extremos de baixa temperatura (incluindo ondas de frio) se tornaram menos frequentes e menos severos, com alta confiança de que as mudanças climáticas humano-induzidas são a principal causa dessas mudanças. Alguns extremos de alta temperatura seriam extremamente improváveis de ocorrerem sem a influência humana no sistema climático. Ondas marinhas de calor aproximadamente dobraram de frequência desde a década de 1980 (alta confiança), e com a influência humana muito provavelmente contribuindo para essa tendência. No futuro, eventos extremos que ocorriam uma vez a cada 50 anos nos últimos séculos provavelmente irão ocorrer a cada quatro anos se a Terra alcançar 2°C acima das temperaturas pré-industriais. Esse cenário piora com a intensificação da urbanização.


- A frequência e a intensidade de eventos de pesada precipitação aumentaram desde a década de 1950 sobre a maior parte das áreas continentais (alta confiança), com as atividades humanas como provável principal causa. Isso pode ter sido a causa para aumentos de ciclones tropicais observado nas últimas quatro décadas. É muito provável que esses eventos irão se intensificar e se tornar cada vez mais frequentes nos próximos anos, e precipitações diárias extremas são projetadas de se intensificar em cerca de 7% para cada +1°C (alta confiança). 


- Atividades humanas provavelmente aumentaram a chanca de eventos extremos compostos desde a década de 1950, especialmente o aumento na frequência de ondas de calor concorrentes com seca em escala global, e, em menor peso de evidências, na frequência de estações de fogo em algumas regiões e inundações em algumas localidades. No geral, as mudanças climáticas já estão significativamente afetando várias áreas do mundo com múltiplos eventos extremos (8), resultando em substanciais perdas humanas e em setores como o agropecuário, e tendendo a piorar muito nos próximos anos.


(8Leitura recomendada (consequências das mudanças climáticas já testemunhadas): 


- No caso da concentração de CO2 dobrar na atmosfera ('sensibilidade climática') em relação aos níveis pré-industriais, o IPCC estimou que o aumento final de temperatura superficial média global (equilíbrio de sensibilidade climática) será de 3°C ao longo do século XXI, em uma faixa de incerteza de 2,5°C (alta confiança) até 4°C (média confiança). Essa faixa de incerteza agora é consideravelmente menor do que no relatório anterior, aumentando a confiança de que o preocupante valor projetado de +3°C é o cenário mais provável. Se pouca mudança ocorrer nos níveis de emissão de gases estufas, a temperatura global média pode aumentar em 2,1-3,5°C até o final deste século, muito maior do que o limite de 1,5-2°C do Acordo de Paris. A última vez que a temperatura global superficial média aumentou 2,5°C em relação ao período de 1850-1900 foi há mais de 3 milhões de anos (confiança média). Mesmo se drásticas reduções nas emissões ocorrerem, é provável que o aumento ainda ultrapassará 1,5°C antes de cair no final deste século. Caso as emissões continuem aumentando para níveis muito altos, esse aumento pode ser de catastróficos 3,3-5,7°C. 


- Algumas regiões de latitude média e semi-áridas, e a região de Monção da América do Sul, estão projetadas de ver os maiores aumentos na temperatura dos dias mais quentes, a cerca de 1,5 a 2 vezes a taxa do aquecimento global (alta confiança). O Ártico é projetado de experienciar o maior aumento na temperatura dos dias mais frios, em torno de 3 vezes a taxa de aquecimento global (alta confiança).


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Segundo os autores do relatório (Ref.4), é ainda possível limitar o aquecimento global em +1,5°C, mas agressivas reduções em todos os gases estufas precisam ocorrer imediatamente e em larga escala, incluindo zerar no balanço final as emissões antropogênicas de CO2. Porém, estamos vendo limitada ou inexistente ação em várias partes do mundo. Nos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, como o Brasil, o desmatamento continua avançando rápido e tecnologias associadas a baixas emissões estão ainda engatinhando em termos de implementação. Mesmo as iniciativas "verdes" na União Europeia, ganhando grande destaque político e midiático, estão em boa parte sendo apoiadas no aumento da devastação ambiental de outros países (9).


(9) Leitura recomendadaO acordo "verde" da Europa é uma perigosa retórica para os biomas terrestres


Ainda segundo o relatório do IPCC, independentemente das ações para reduzir as emissões de gases estufas, muitas consequências das atuais mudanças climáticas serão irreversíveis nas próximas centenas e até milhares de anos, como o aumento acumulado da estratificação oceânica, acidificação dos oceanos e desoxigenação oceânica. Montanhas e geleiras polares continuarão derretendo por décadas ou séculos, incluindo especialmente o gelo na Groenlândia. Pesadas precipitações e associadas inundações irão se intensificar na maior parte da África, Ásia, América do Norte e (média confiança) na Europa. Os níveis dos mares continuarão aumentando ao longo do século XXI e além, e irão permanecer elevados por milhares de anos. Nos próximos 2 mil anos, o nível médio global pode aumentar de 2 a 3 metros se o aquecimento ficar limitado a +1,5°C; em um cenário mais trágico, o aumento pode ser de 19 a 22 metros com um aquecimento de +5°C.


> Para mais informações e detalhes sobre as mudanças climáticas, acesse: Aquecimento Global: Uma Problemática Verdade


REFERÊNCIAS

  1. https://www.ipcc.ch/report/sixth-assessment-report-working-group-i/
  2. https://www.nature.com/articles/s41467-021-24544-4
  3. https://www.nature.com/articles/s41586-021-03303-x
  4. https://www.nature.com/articles/d41586-021-02179-1
  5. https://www.sciencemag.org/news/2021/08/climate-change-unequivocal-and-unprecedented-says-new-un-report


Relatório do IPCC é devastador: Aquecimento global antropogênico não pode mais ser ignorado Relatório do IPCC é devastador: Aquecimento global antropogênico não pode mais ser ignorado Reviewed by Saber Atualizado on agosto 09, 2021 Rating: 5

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