Furacão Florence foi amplificado pelo aquecimento global antropogênico, confirma estudo

Um estudo publicado na Science Advances (1), e liderado pelo pesquisador Kevin Reed, professor assistente na Escola da Marinha e de Ciências Atmosféricas (SoMAS), encontrou que o Furacão Florence produziu chuvas mais intensas e foi espacialmente maior devido às mudanças climáticas induzidas pelo aquecimento global antropogênico

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A atribuição de causalidade para eventos temporais extremos é sempre complicada. Assim como para qualquer fenômeno complexo, a gênese de um ciclone tropical ocorre quando o estado do sistema atmosfera-oceano é favorável para sua ocorrência. O papel das mudanças climáticas antropogênicas sobre a existência de um ciclone tropical, se houver um, é manifestada através de mudanças na magnitude ou na frequência dessas condições causais. Declarações de atribuição a esses eventos são, portanto, declarações sobre as mudanças na magnitude ou na probabilidade de um evento climático-temporal. Para se determinar essa potencial atribuição, as seguintes condições são impostas:

i) Mudanças induzidas pelas atividades humanas na composição da atmosfera, incluindo gases de efeito estufa e aerossóis;

ii) Estimativas críveis de mudanças induzidas pelas atividades humanas nas temperaturas da superfície oceânica e no estado médio atmosférico acima;

iii) A ciclogênese precisa ter ocorrido sob um ambiente sinóptico [ambiente onde é possível ver de uma só vez as diversas partes de um conjunto] plausível.

Essas estritas condições, principalmente a última, tornam desafiadora uma conclusiva atribuição do aquecimento global antropogênico como causa para eventos temporais extremos. Modelos teóricos e integração de dados acumulados sobre ciclones tropicais sugerem que esses eventos temporais se tornam mais frequentes e mais intensos em um clima mais quente, mas a detecção dessas mudanças teoricamente previstas são questionáveis.

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No novo estudo, os pesquisadores buscaram esclarecer essa questão usando o Furacão Florence, um poderoso evento temporal extremo de longa duração que devastou as Carolinas (estados Norte-Americanos da Carolina do Norte e da Carolina do Sul) em setembro de 2018. Dois dias antes da chegada em terra firme do Furacão Florence, os pesquisadores publicamente chegaram a prever via simulações - sem saber a trajetória e outros importantes dados atmosféricos e oceânicos só mais tarde reunidos - que:

i) O Furacão Florence seria levemente mais intenso (pressão superficial mais baixa) por uma mais longa porção do período previsto devido às mudanças climáticas;

ii) As quantidades de chuva associadas ao evento sobre as Carolinas seriam aumentadas acima de 50% devido às mudanças climáticas e foram ligadas a temperaturas da superfície marítima mais altas e consequente maior umidade na atmosfera;

iii) Furacão Florence seria cerca de 80 km maior devido ao efeito das mudanças climáticas sobre o ambiente de grande escala ao redor da tempestade.

Agora, em uma robusta análise pós-tempestade, e com bem mais dados a disposição, os pesquisadores encontraram que certas predições sobre o aumento do tamanho da tempestade e aumento das chuvas foram acurados, mesmo os números e proporções não estando acurados. As novas análises mostraram que o Furacão Florence foi cerca de 9 km maior na média máxima de diâmetro devido ao aquecimento global antropogênico. Já o total de chuvas sobre grandes extensões territoriais também aumentaram significativamente, com a quantidade máxima associada ao núcleo da tempestade aumentada em 4,9 ± 4,6%, e com máximos locais aumentados em 3,8 ± 5,7% devido ao aquecimento global antropogênico.

O estudo, além de trazer mais evidências conclusivas sobre os impactos já experienciados pelas mudanças climáticas induzidas pelas atividades humanas, fornece agora novas ferramentas teóricas para a previsão de complexos eventos temporais, os quais, diferentes de eventos climáticos (longo prazo), são muito difíceis de serem previstos com razoável acuracidade pelos atuais sistemas computacionais de simulação.


(1) Publicação do estudo: Science Advances