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Rastros do Aquecimento Global Antropogênico se tornando cada vez mais explícitos


Nas últimas décadas, estamos testemunhando preocupantes consequências do Aquecimento Global Antropogênico, incluindo períodos mais longos de seca em várias regiões, e o aumento da intensidade e da frequência de incêndios, de furacões e de ondas de calor (marinhos e terrestres). O excesso de gases estufas emitidos pelas atividades humanas - especialmente via queima de combustíveis fósseis e desmatamento - vem exacerbando o efeito estufa desde o século XX, aumentando consequentemente a temperatura média global, e deflagrando aceleradas mudanças climáticas. Agora, três recentes estudos revelaram mais três rastros dessas mudanças climáticas que aumentam ainda mais o alerta de que, se nada for feito, podemos caminhar para um total colapso do ecossistema terrestre.


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AQUECIMENTO ASSIMÉTRICO


No primeiro estudo, publicado no periódico Global Change Biology (Ref.1), pesquisadores da Universidade de Exeter, Reino Unido, encontraram que o aquecimento global está afetando as temperaturas diurnas e noturnas de forma diferente, com um maior aquecimento à noite sendo bem mais comum ao redor do mundo. Analisando dados climáticos de 1983 até 2017, eles investigaram regiões com um aquecimento assimétrico de >0,5°C (equivalente à média de aumento da temperatura superficial global durante o século XX), buscando determinar as respostas em termos de cobertura de nuvens, umidade específica e precipitação.


A análise desses dados mostrou que onde as temperaturas durante a noite aumentaram em mais de 0,5°C a mais do que as temperaturas diurnas, a cobertura de nuvens, umidade específica e também a precipitação aumentavam. Reciprocamente, onde as temperaturas diurnas aumentaram em mais de 0,5°C  do que as temperaturas noturnas, a cobertura de nuvens, umidade específica e precipitação diminuíam. 


Fomentado primariamente pelo aumento da cobertura de nuvens diminuindo as temperaturas diurnas (menor incidência da luz solar na superfície terrestre) e um ar atmosférico mais úmido, os pesquisadores encontraram que mais de duas vezes a área terrestre ao redor do mundo experienciou um aquecimento noturno extra de >0,25°C em relação ao aquecimento diurno. O aquecimento assimétrico de >0,25°C (noturno e diurno) mostrou afetar durante o período de análise cerca de 54% da superfície terrestre (terra firme).


Esse maior aquecimento assimétrico durante a noite é explicado pelo feedback do vapor de água. O aquecimento global aumenta a evaporação dos corpos d'água, especialmente oceanos, aumentando a umidade atmosférica e, consequentemente, as nuvens (até um certo ponto de aumento das temperaturas) (I). Com mais vapor de água na atmosfera, mais energia térmica é aprisionada durante o dia e liberada à noite - o que exacerba também o aquecimento global e também aumenta as temperaturas noturnas. As nuvens, por outro lado, bloqueiam a incidência solar direta na superfície terrestre, diminuindo as temperaturas diurnas.


> (I) Leitura recomendada: Qual são os mecanismos do efeito estufa atmosférico?


Como diversos seres vivos possuem atividades ou diurnas ou noturnas, esse aquecimento assimétrico pode trazer sérias consequências deletérias para o equilíbrio ecológico. Por exemplo, temperaturas diurnas mais altas estão associadas com condições mais secas e, junto com o aquecimento global, aumentam a vulnerabilidade de espécies ao estresse térmico e à desidratação. 


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ESTRATIFICAÇÃO OCEÂNICA


Um estudo publicado no periódico Nature Climate Change (Ref.2) encontrou que o aquecimento global tornou os oceanos mais estratificados nas últimas décadas, com sérias consequências para a vida no ambiente marinho ao interferir no ciclo de nutrientes e de oxigênio, e para o clima global (feedback).


A maior parte do aquecimento solar é absorvido pela superfície terrestre, primariamente pela superfície oceânica. Isso cria um ar úmido aquecido próximo da superfície marinha e um baixo nível de instabilidade que é estabilizado por convecção. Abaixo da superfície oceânica, no entanto, esse aquecimento leva a águas mais quentes no topo de águas mais frias e uma configuração geral estável. Salinidade, associada com a diferença entre evaporação e precipitação, parcialmente regula essa configuração. Essa relação inversa entre a estabilidade do oceano e atmosfera possui importantes implicações climatológicas. 


A estratificação oceânica é quantificada pela mudança de densidade com a profundidade, a qual, por sua vez, é determinada pela distribuição vertical de temperatura e salinidade, em adição à pressão. A média climatológica zonal de distribuição de densidade mostra água marinha menos densa acima de águas mais densas. Como o aquecimento global têm alterado de forma fundamental as temperaturas e salinidade dos mares, impactos na estratificação são esperados. 


Um maior aquecimento das águas superficiais torna as camadas superiores mais quentes e ainda menos densas (uma maior estabilização da estratificação). Um maior degelo dos corpos de gelo (geleiras e calotas polares) leva mais água não-salina para os oceanos, diminuindo a salinidade nas camadas superficiais e a densidade dessas. Ambos os processos levam a uma maior estabilização da estratificação. Águas marinhas mais estratificadas inibem a mistura vertical via convecção (fica mais difícil das águas mais densas no interior subirem e as menos densas descerem), impactando nas trocas de calor, carbono, oxigênio dissolvido e nutrientes.


No caso do oxigênio dissolvido, por exemplo, as águas superficiais dos oceanos são riscas nesse gás tanto pelo contato direto com a atmosfera quanto pela presença do fitoplâncton, cuja fotossíntese produz oxigênio molecular. Com menos movimentos via convecção, menos água superficial acaba descendo para regiões mais profundas, tornando mais difícil a vida para inúmeros animais que dependem da respiração aeróbica e indiretamente para outros animais que dependem dos aeróbicos. Mais de 80% do declínio de oxigênio dissolvido nas águas oceânicas é devido ao fenômeno de estratificação.


Além disso, com menos nutrientes subindo das camadas mais profundas dos oceanos, menor é a capacidade de crescimento e fotossíntese dos fitoplânctons, reduzindo substancialmente a fixação de carbono (retirada de dióxido de carbono da atmosfera) por esses organismos e, consequentemente, exacerbando ainda mais o efeito estufa e o processo de aquecimento global. 


No novo estudo, os pesquisadores resolveram investigar o impacto do processo de aquecimento global antropogênico durante o período de 1960-2018 na estratificação dos oceanos ao redor do mundo , e ao longo de uma profundidade de 2000 metros, a partir de dados acumulados de temperatura e de salinidade. Eles encontraram que globalmente a estratificação aumentou 5,3% [5,0%-5,8%] nas últimas 6 décadas, uma substancial taxa de 0,9%/década. Evidência consistente indicou significativo aumento de estratificação na maioria das regiões oceânicas ao redor do mundo. A maior parte desse aumento (~71%) ocorreu até 200 metros do oceano, resultando em maior parte (>90%) das mudanças de temperatura, apesar de variações de salinidade terem impactado de forma importante localmente.


O aumento de estratificação dos oceanos também possui impacto na circulação oceânica dirigida por densidade, em particular a Circulação Meridional do Atlântico, a qual já mostra sinais de desaceleração.


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LAGOS CONGELADOS


Eventos climáticos extremos podem ter significativas consequências sobre os ecossistemas e, por extensão, às populações humanas. Mais de 50 milhões de lagos ao redor do mundo tipicamente congelam todo inverno, e a ausência de cobertura de gelo durante essa estação, em lagos onde gelo historicamente tem estado presente, pode ser caracterizado como um evento extremo.


Um estudo publicado no periódico Geophysical Research Letters (Ref.3) mostrou que os invernos mais quentes devido ao aquecimento global antropogênico estão fazendo com que lagos no Hemisfério Norte experienciem mais anos sem congelamento.


Para essa conclusão, os pesquisadores analisaram 78 anos de registros de gelo referentes a 122 lagos que tipicamente congelam todo inverno. Lagos livres de gelo em um dado ano foram considerados aqueles que não ficaram pelo menos 1 dia com total cobertura de gelo. Eles encontraram que os anos onde esses lagos ficam completamente livres de gelo se tornaram mais do que 3 vezes mais frequentes desde 1978 e que 11% dos lagos estudados experienciaram pelo menos um ano completamente livre de gelo desde 1939. Essa tendência foi fortemente ligada ao aquecimento global e os autores do estudo projetaram que a frequência de degelo irá continuar aumentando com o avanço das mudanças climáticas, com impactos deletérios ecológicos, culturais e econômicos. 


Comunidades ao redor de lagos frequentemente dependem desses congelamentos para eventos envolvendo atividades recreativas de inverno, como pesca no gelo e festivais de gelo - os quais geram centenas de milhares de dólares em um único final de semana. Sem o congelamento dos lagos, existe, por exemplo, um maior risco de proliferação explosiva de algas tóxicas, desequilibrando o ecossistema associado e tornando as águas mais perigosas para o nado e para a pesca.


No estudo, os pesquisadores também encontraram que lagos mais próximos de regiões costeiras e em regiões mais ao sul eram os mais vulneráveis.


> Leitura recomendada: Modelos climáticos e as Nuvens: Por que os negacionistas insistem nessas teclas?


REFERÊNCIAS

  1. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/gcb.15336
  2. https://www.nature.com/articles/s41558-020-00918-2
  3. https://agupubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1029/2020GL089608

Rastros do Aquecimento Global Antropogênico se tornando cada vez mais explícitos Rastros do Aquecimento Global Antropogênico se tornando cada vez mais explícitos Reviewed by Saber Atualizado on outubro 08, 2020 Rating: 5

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