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40% da Amazônia pode agora existir como floresta úmida ou como savana

 

O desmatamento excessivo seguido de massivos incêndios na floresta Amazônica estão levando esse bioma cada vez mais próximo de um ponto de não retorno (savanização). Florestas úmidas como a Amazônia são muito sensíveis às mudanças que afetam a taxa de chuvas por períodos estendidos. Se chuva cai abaixo de um certo limite, áreas podem passar para um estado de savana, deflagrando grande devastação em termos de biodiversidade. Na Amazônia, cerca de 50% da chuva que cai na região é fruto de reciclagem da própria floresta (via massiva evapotranspiração), e quanto maior o desmatamento, menor a evapotranspiração. Agora, um preocupante estudo publicado no periódico Nature Communications (1) encontrou que 40% da floresta Amazônica alcançou o ponto onde o ecossistema já pode existir tanto como uma savana quanto como uma floresta úmida, ou seja, quase metade do bioma é altamente vulnerável ao desmatamento.


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Florestas tropicais são importantes reguladores do clima global e os efeitos das suas perdas podem levar a deletérias consequências em cascata ao longo do sistema terrestre. Além disso, essas florestas mediam o clima regional ao aumentar a umidade atmosférica via reciclagem hídrica e, portanto, aumentando os níveis de chuva em escalas sazonais e anuais (I). Essas funções dependem de vários mecanismos de feedback que, ao mesmo tempo, afetam e são afetados pelas distribuições de florestas tropicais. Esses feedbacks operam em diferentes escalas espaciais.


> (I) Para mais informações, acesse: Rios Aéreos: Ignorar a Amazônia é ignorar a importância das chuvas no Brasil


Em uma escala regional (100-1000 km), florestas tropicais aumentam a quantidade de chuva. Quando as árvores fazem fotossíntese, elas extraem do solo umidade ou água subterrânea e liberam essa água absorvida na atmosfera. Desse modo, até um certo ponto, árvores podem manter fotossíntese durante secas, enquanto aliviam esses períodos mais secos com a reciclagem hídrica. Esse aumento na evapotranspiração pode exacerbar a pluviosidade sobre grandes áreas, especialmente considerando que água pode re-evaporar e cair na forma de chuva múltiplas vezes. Esse feedback floresta-chuva é um mecanismo auto-suficiente bem estabelecido que eleva os níveis regionais de chuva e reforçam a histerese (tendência de um sistema de conservar suas propriedades na ausência de um estímulo que as gerou) das florestas tropicais. 


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No novo estudo, pesquisadores da Universidade de Tuinenburg, Países Baixos (Holanda), analisaram a estabilidade de florestas tropicais úmidas nas Américas, África, Ásia e Oceania, buscando explorar como essas florestas respondem às mudanças nos níveis de chuva. Para isso, eles usaram os mais recentes dados atmosféricos e modelos de teleconexão com o intuito de simular os efeitos do desaparecimento de florestas para todas as florestas tropicais.


Os pesquisadores, com as ferramentas de simulação em mãos, investigaram então a resiliência das florestas tropicais úmidas respondendo duas perguntas: se todas as florestas nos trópicos desaparecessem, elas conseguiriam se recuperar novamente? E o inverso: o que aconteceria se as florestas úmidas cobrissem toda a região tropical da Terra? Simulando esses dois extremos cenários, os pesquisadores confirmaram que as florestas tropicais úmidas necessitam de grande umidade para se sustentarem, em grande parte via reciclagem hídrica. À medida que as florestas cresciam e se espalhavam, a chuva aumentava, levando a menos incêndios e maior crescimento da massa florestal.


No cenário onde toda a região tropical era coberta pelas florestas úmidas, isso levava a uma substancial instabilidade devido ao fato de várias regiões não possuírem suficiente nível de chuva para sustentar a floresta (escassez de umidade vindo dos oceanos, por exemplo). Nesse sentido, em vários lugares a floresta encolheu de volta devido à falta de umidade, consequência de um ciclo vicioso de maior seca, maiores incêndios e maior perda florestal.


Sob o atual cenário climático (2003-2014), sem contar o drástico aumento recente do desmatamento e dos incêndios no bioma, os pesquisadores encontraram que um mínimo de 4,83 milhões de quilômetros quadrados da floresta Amazônica (60% da atual extensão) eventualmente se recuperaria após completo desmatamento, e 5,87 milhões de quilômetros quadrados de floresta (72% da atual extensão) se recuperaria caso os níveis de chuva se tornassem estáticos com a mudança na cobertura florestal (ou seja, sem alteração dos efeitos da reciclagem hídrica). Em outras palavras, cerca de 40% da Amazônia possui agora um nível de chuva onde a floresta pode existir em qualquer um dos estados: floresta úmida ou savana.


Essa conclusão é mais do que preocupante, porque partes da região Amazônica estão atualmente recebendo menos chuva do que previamente e essa tendência é esperada de piorar à medida que as temperaturas na região aumentam devido ao aquecimento global antropogênico. Existe também estresses importantes enfraquecendo ainda mais a resiliência da Amazônia na forma do desmatamento (mineração, expansão da agropecuária e extração de madeira).


Enquanto na Australásia (na região costeira da Austrália e nas ilhas do sul Asiático, como Indonésia e Malásia) as florestas se recuperariam em até maior extensão após total desmatamento caso fosse permitido, devido ao fato das suas áreas ocupadas estarem cercadas de áreas oceânicas fornecendo abundante umidade, no continente Africano a situação é dramaticamente pior do que na América do Sul, onde apenas 22 mil quilômetros quadrados se recuperariam  (~1% da atual extensão), e 120 mil quilômetros quadrados sob a níveis estáticos de chuva (3% da atual extensão).


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E lembrando que a 'recuperação' referenciada aqui não ocorre do dia para a noite, levando várias décadas para a floresta derrubada voltar ao seu estado original, processo que acaba deflagrando graves perdas de biodiversidade. E isso se não houver interferência antropogênica destrutiva.


(1) Publicação do estudo: https://www.nature.com/articles/s41467-020-18728-7

40% da Amazônia pode agora existir como floresta úmida ou como savana 40% da Amazônia pode agora existir como floresta úmida ou como savana Reviewed by Saber Atualizado on outubro 07, 2020 Rating: 5

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