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Aquecimento global antropogênico está deslocando o eixo da Terra e mudando a duração das quatro estações

 

Nas últimas décadas, estamos testemunhando preocupantes consequências do Aquecimento Global Antropogênico, incluindo períodos mais longos de seca em várias regiões, e o aumento da intensidade e da frequência de incêndios, de furacões e de ondas de calor (marinhos e terrestres). O excesso de gases estufas emitidos pelas atividades humanas - especialmente via queima de combustíveis fósseis e desmatamento - vem exacerbando o efeito estufa desde o século XX, aumentando consequentemente a temperatura superficial global média, e deflagrando aceleradas mudanças climáticas. 


Nesse sentido, três recentes estudos publicados no periódico Geophysical Research Letters (Ref.1, 5-6) trouxeram mais três rastros do Aquecimento Global Antropogênico, os quais não podem ser explicados por fatores naturais, apenas pelo aumento de gases estufas na atmosfera. A interferência humana no clima está até mesmo deslocando de forma significativa o eixo de rotação da Terra em um período de poucas décadas.


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DERIVA POLAR


As localizações dos polos Norte e Sul da Terra em relação ao eixo de rotação do nosso planeta não são estáticos como muitos tendem a pensar, mudando continuamente de posição (inclinação) em alguma extensão devido a um número de fatores.


Esse movimento polar, caracterizado pelo movimento do eixo rotacional da Terra relativo à sua crosta, tem sido rotineiramente observado usando técnicas de observações geodésicas espaciais há mais de um século. Esse movimento é descrito em um quadro de referência Terra-fixado, onde a origem é a Origem Internacional Convencional e os eixos de coordenada X e Y apontam no sentido das longitudes 0° e 90° ao leste, e é dado em unidades de milissegundos de arco (mas; 1 mas = ~3 cm).


Geralmente, o movimento polar é engatilhado pela redistribuição e movimento da parte sólida da Terra, atmosfera e hidrosfera em variadas escalas temporais. Duas oscilações periódicas dominantes do movimento polar, ou seja, os balanços anual e de Chandler, são em sua maior parte excitadas por ventos, correntes oceânicas, flutuações na pressão atmosférica, e mudanças no fundo dos oceanos. Os componentes de baixa frequência do movimento polar, especialmente a deriva linear polar observada ao longo do século XX, são considerados de ser em maior parte relacionados à parte sólida da Terra, especialmente o processo de ajustamento isostático glacial (GIA) e a convecção do manto. Além dessas variações previsíveis, outros componentes irregulares do movimento polar, especialmente significativos movimentos interanuais e inter-décadas, são provavelmente relacionados ao clima.



Na década de 1990, notavelmente em 1995, foi observado um robusto deslocamento polar do sul para o leste. A velocidade média da deriva polar de 1995 até 2020 também aumentou cerca de 17 vezes da velocidade média registrada de 1981 a 1995.


No primeiro estudo (Ref.1), usando dados relativos à perda de massa glacial (geleiras na Groenlândia, Antártica, Ártico e em regiões montanhosas) e estimativas do bombeamento de água subterrânea, os pesquisadores encontraram que o acelerado declínio do armazenamento terrestre de água resultante do massivo derretimento de gelo provocado pelo aquecimento global antropogênico - com consequente redistribuição da massa da Terra - é a principal causa da rápida deriva polar sendo observada desde a década de 1990. Essa conclusão corrobora um estudo publicado em 2013 no mesmo periódico (Geophysical Research Letters) em 2013 (Ref.2), o qual estimou que 90% dessa rápida deriva polar era devido ao acelerado derretimento das geleiras ao redor do mundo. 


Os pesquisadores calcularam também que o acelerado derretimento de gelo em grandes áreas glaciais têm orientado o movimento polar no sentido de 26° ao leste e possui um velocidade de 3,28 mas/ano (9,84 cm/ano) pós-década de 1990. Nesse sentido, por causa principalmente do aquecimento global antropogênico, a posição dos polos da Terra foi deslocada em cerca de 4 metros de distância desde 1980. Esse deslocamento não afeta o nosso dia-a-dia, podendo aumentar o comprimento do dia em alguns milissegundos, mas mostra o nível do impacto das atividades humanas no nosso planeta.


Apenas na Groenlândia, é estimado que houve uma perda de gelo de 3,8 trilhões de toneladas entre 1992 e 2018, levando o nível dos mares a subir 10,6 milímetros (Para mais informações, acesse: A Groenlândia está perdendo gelo 7-10 vezes mais rápido do que na década de 1990). Um estudo publicado em janeiro deste ano no periódico The Cryosphere (Ref.3) revelou que a Terra perdeu 28 trilhões de toneladas de gelo entre 1994 e 2017, aumentando de uma taxa de 0,8 trilhões de toneladas/ano na década de 1990 para 1,3 trilhões de toneladas/ano em 2017, acompanhando o rápido aquecimento global atmosférico (0,25°C/década) - responsável por 68% da perda de gelo - e oceânico (0,12°C/década) - 32% da perda de gelo - desde a década de 1980.


O acelerado derretimento em áreas glaciais, porém, não explicou toda a deriva polar observada, e os pesquisadores sugeriram que o bombeamento não-sustentável de água subterrânea para a agricultura e outros fins pode ser o principal fator complementar.


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ESTAÇÕES MAIS LONGAS OU CURTAS


As quatro estações do ano - Verão, Outono, Primavera e Inverno - são períodos do ano, basicamente, definidos pelas diferenças de temperatura ambiente. Em condições normais, essas diferenças ao longo de um ano dentro de uma escala geológica específica são causadas por diferenças na incidência solar nos Hemisférios Norte e Sul ao longo do movimento de translação da Terra ao redor do Sol (1). Porém, no atual cenário de aquecimento global, com rápido aumento da temperatura média global, é esperado existam significativas variações na duração das diferentes estações em termos de fenologias sazonais e independentes da variação da incidência solar.


(1) Leitura recomendadaO que causa as Estações do Ano?


Em ecossistemas temperados ao redor do mundo, o início e duração desses eventos fenológicos está mudando, e vários estudos prévios têm ligado o aquecimento global a essas mudanças (Ref.4). De fato, uma série de fenômenos como florescimento prematura das plantas e migração prematura de aves têm sugerido que as quatro estações tradicionais mudaram nas últimas décadas.


No segundo estudo (Ref.5), pesquisadores focaram nas mudanças sazonais que ocorreram durante o período de 1952-2011 no Hemisfério Norte. Eles encontraram que as durações e as datas de início das quatro estações mudaram significativamente nesse hemisfério, com o verão aumentando de 78 para 95 dias, e com a primavera, outono e inverno diminuindo de 124 para 115, 87 para 82, e 76 para 73 dias, respectivamente.


Os pesquisadores concluíram que grande parte dessas mudanças sazonais são atribuíveis ao aquecimento global antropogênico. 


Nesse sentido, os pesquisadores também estimaram que no atual ritmo de aquecimento global, o verão é projetado de durar quase metade do ano a partir do ano de 2100, e com o inverno durando menos de 2 meses. Essas dramáticas mudanças projetadas podem engatilhar uma cadeia de robustas reações nas agricultura e no ecossistema como um todo. Enquanto algumas espécies podem se adaptar bem e até se beneficiarem com essas mudanças sazonais, outras podem sofrer severamente e ficarem gravemente ameaçadas.

 

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AUMENTO DA FORÇA GLOBAL RADIATIVA


A Força Radiativa Instantânea (IRF) é o desbalanço inicial da energia radiativa no topo da atmosfera da Terra em relação ao total de energia radiativa entrando no planeta a partir do Sol (radiação solar). Esse desbalanço é causado diretamente por uma mudança na composição atmosférica, como um aumento nos gases estufas (ex.: CO2, CH4), ou perturbação nas propriedades da superfície terrestre, como o desmatamento, derretimento de geleiras, entre outros. Todas as mudanças climáticas antropogênicas são uma resposta ao IRF, incluindo mudanças na temperatura da superfície terrestre e feedbacks radiativos associados (2).


(2) Para mais informações, acesseQuais os mecanismos do efeito estufa atmosférico?


Grande parte das diferenças de fluxo energético radiativo entrando e saindo da superfície terrestre é devido à absorção no espectro de infravermelho por gases estufas na atmosfera, como dióxido de carbono (CO2), vapor de água (H2O), metano (CH4) e óxidos de nitrogênio (NXOY). O infravermelho longo é produzido na superfície terrestre em grande quantidade pelo aquecimento com radiação solar, sendo "aprisionado" pelos gases estufas (2). Feedbacks do aquecimento global também acabam ajudando nesse aquecimento ao, por exemplo, acelerarem o derretimento das geleiras (diminuindo a reflexão da luz solar). Portanto, quanto mais gases estufas na atmosfera freando a saída desse infravermelho longo, menor a energia radiativa emitida para o espaço em um dado momento, e, teoricamente, maior a força radiativa.


O aumento das concentrações de gases estufas na atmosfera, portanto, leva a um aumento da força radiativa, e a temperatura superficial terrestre aumenta em resposta na tentativa de restaurar o balanço energético da entrada e saída radiativa. Esse é basicamente o efeito estufa. 


Observações de satélites nas últimas décadas têm registrado mudanças no total de radiação entrando e saindo - acompanhando o aumento de temperatura e de gases estufas na atmosfera -, mas não diretamente o aumento da força radiativa (desbalanço radiativo inicial) associada à exacerbação do efeito estufa.


No terceiro estudo (Ref.6), pesquisadores usaram uma técnica analítica (Kernel) para isolar a força radiativa das mudanças radiativas totais das observações de satélites. Os resultados mostraram que, de fato, houve um aumento da força radiativa de 0.53 ± 0.11 W/m2 de 2003 a 2018 contando por quase todo o crescimento de longo prazo no total do desbalanço radiativo no topo da atmosfera nesse período. Os pesquisadores também confirmaram que esse aumento na força radiativa foi causado em sua maior parte (0.43 ± 0.11 W/m2) pelo aumento das concentrações de gases estufas na atmosfera, junto com reduções em aerossóis reflexivos (0.1 ± 0.11 W/m2) - esse último fator devido às políticas governamentais de redução na emissão de aerossóis poluentes (particulados emitidos primariamente durante processos de combustão, como queima de combustível em carros).


REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS

  1. https://agupubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1029/2020GL092114
  2. https://agupubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/grl.50552
  3. https://tc.copernicus.org/articles/15/233/2021/ 
  4. https://royalsocietypublishing.org/doi/abs/10.1098/rstb.2010.0120
  5. https://agupubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1029/2020GL091753 
  6. https://agupubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1029/2020GL091585 

Aquecimento global antropogênico está deslocando o eixo da Terra e mudando a duração das quatro estações Aquecimento global antropogênico está deslocando o eixo da Terra e mudando a duração das quatro estações Reviewed by Saber Atualizado on abril 29, 2021 Rating: 5

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