Cientistas mostram que essa Cacatua dança espontaneamente ao ritmo musical
- Atualizado no dia 2 de abril de 2023 -
As Cacatuas são aves pertencentes à família Cacatuidade e à ordem Psittaciformes, esta a qual engloba todos os papagaios. Possuindo uma distinta e notável crista móvel na cabeça e uma plumagem corporal bem simples, as cacatuas são nativas da Oceania, e são aves muito inteligentes (1), monogâmicas e que podem alcançar os 75 anos de longevidade. Infelizmente, são também bastante visadas no comércio de animais exóticos, fator que, aliado com o desmatamento, vem promovendo o declínio de várias espécies no meio selvagem.
(1) Para mais informações:
(1) Para mais informações:
- Alta inteligência parece ter evoluído de forma convergente entre humanos e papagaios
- Complexa cultura de aprendizado observada entre cacatuas na Austrália
- Cacatuas são capazes de inventar ferramentas e usá-las de forma coordenada!
- Cacatua de Goffin é a terceira espécie conhecida capaz de usar kit de ferramentas
Há alguns anos, uma cacatua chamada Snowball - da subespécie Cacatua galerita eleonora - ganhou bastante fama no YouTube e nos jornais do mundo todo pela sua notável habilidade de dançar ao ritmo da banda Backstreet Boys. Em 2019, pesquisadores das Universidades de Tufts e de Harvard publicaram um estudo no periódico Current Biology (Ref.1) mostrando que o Snowball não é nada limitado em seus movimentos de dança e, apesar da falta de treinos específicos, a ave dançarina responde a músicas com movimentos diversos e espontâneos usando várias partes do seu corpo.
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O achado foi mais do que uma novidade de entretenimento, sugerindo que o ato de dançar em resposta ao ritmo musical não é algo exclusivo dos humanos modernos (Homo sapiens), ou um produto único da cultura humana. Respostas corporais do tipo à música podem emergir quando certas capacidades cognitivas e neurais aparecem juntas nos cérebros de animais. Essa ideia é fortalecida pelo fato de Snowball não ter recebido nenhum treinamento para realizar os criativos movimentos e por responder a músicas que a ave nunca tinha ouvido.
Para qualificar e quantificar a capacidade de dança de Snowball, os pesquisadores filmaram a ave sob o som de dois clássicos da década de 1980: "Another One Bites the Dust!" e "Girls Just Want to Have Fun". As filmagens ocorreram em setembro de 2008, quando a ave tinha 12 anos de idade. Ambas as músicas foram tocadas três vezes em um total de 23 minutos. No vídeo abaixo, temos a performance para a música "Girls Just Want to Have Fun" (os movimentos são brevemente descritos em inglês; devido a problemas de direito autoral, apenas parte da música foi disponibilizada).
Para analisar os movimentos de Sanowball, a autora principal do estudo, R. Joanne Jao Keehn, uma neurocientista cognitiva e uma treinada dançarina clássica e contemporânea, usou análises quadro-a-quadro com o áudio mudo. Ela focou sobre cada "movimento de dança" ou sequência de passos repetidos. Segundo a pesquisadora (3), os movimentos de interesse foram claramente intencionais, mas sem evidentes objetivos externos da ave (não estava usando os movimentos para pedir comida, por exemplo). Ao todo, foram 14 movimentos isolados e dois movimentos compostos de dança, incluindo balanços, rodopio da cabeça e subidas-descidas ritmadas da perna direita.
Diferente do modo de dança típico dos humanos, Snowball tendia a dançar em curtos intervalos entusiásticos de cerca de três ou quatro segundos. Cada vez que ele ouvia uma melodia particular, Snowball dançava um pouco diferente, um sinal de flexibilidade e, talvez, até mesmo criatividade.
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Apesar do surpreendente achado, Snowball não é a primeira ave da ordem Psittaciformes a se movimentar em resposta ao som de músicas, mas existia incertezas sobre como tais movimentos eram adquiridos (se espontaneamente ou imitando um humano). Os pesquisadores propuseram uma evolução convergente de cinco traços fenotípicos para explicar a habilidade natural de dança de aves e de humanos: (I) aprendizagem vocal, (II) a capacidade para imitação não-verbal de movimentos, (III) a tendência de formar ligações sociais de longo prazo, (IV) a habilidade de aprender complexas sequências de ações, e (V) atenção a movimentos comunicativos.
Música e dança são universais ao longo da cultura humana e possuem uma antiga história. Várias hipóteses têm sido sugeridas para explicar as origens evolucionárias da música e da dança, como corte de acasalamento, coesão de grupo, e sinalização de coalizão. Desde estágios iniciais de desenvolvimento, bebês humanos espontaneamente engajam em movimentos como resposta à música. Mais tarde no percurso de desenvolvimento, esse movimento se torna mais acuradamente sincronizado com o pulso da música, com essa essa resposta sendo facilitada mais frequentemente em contextos sociais do que em contextos não-sociais. Esse último ponto sugere que as habilidades rítmicas avanças dos humanos podem ter sido selecionadas para coordenação entre múltiplos indivíduos. Em termos neurobiológicos, essa avançada habilidade rítmica é resultado de conexões próximas entre áreas auditórias e motoras no cérebro humano.
A resposta ao ritmo musical é ausente na maioria das espécies de animais, incluindo primatas não-humanos (!), mas a ocorrência em papagaios coincide com a habilidade dessas aves - assim como nos humanos - de aprenderem novas vocalizações e de possuírem cérebros contendo fortes conexões motora-auditivas, conferindo sofisticadas capacidades de processamento áudio-motor.
A resposta ao ritmo musical é ausente na maioria das espécies de animais, incluindo primatas não-humanos (!), mas a ocorrência em papagaios coincide com a habilidade dessas aves - assim como nos humanos - de aprenderem novas vocalizações e de possuírem cérebros contendo fortes conexões motora-auditivas, conferindo sofisticadas capacidades de processamento áudio-motor.
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(!) ATUALIZAÇÃO: Um estudo mais recente publicado no periódico PNAS (Ref.3) trouxe evidência de que chimpanzés-comuns (Pan troglodytes) respondem com movimentos rítmicos de balanço a batidas sonoras regulares e irregulares, especialmente os machos. Isso corrobora reportes prévios na literatura acadêmicos de que chimpanzés engajam em comportamentos chamados de "danças da chuva" no meio selvagem, onde indivíduos machos realizam movimentos rítmicos quando ouvem o som da chuva iniciar. Os achados desse estudo sugerem que a fundação biológica para a dança observada em humanos existia no ancestral comum dos chimpanzés e da nossa espécie há cerca de 6 milhões de anos, suportando uma origem evolucionária da musicalidade.
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Para humanos, dançar é geralmente uma forma de comunicação social, e as pessoas dançam mais frequentemente com outras pessoas do que sozinhas. Os pesquisadores estão atualmente investigando se isso também é válido entre as Cacatuas e outras aves próximo-relacionadas.
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IMPORTANTE: Não fomente o tráfico da vida selvagem. Evite a compra de animais exóticos de estimação e não mantenha ave de nenhuma espécie em cativeiro. Para mais informações, acesse: Animais exóticos de estimação: o lado sombrio da história
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REFERÊNCIAS
Para humanos, dançar é geralmente uma forma de comunicação social, e as pessoas dançam mais frequentemente com outras pessoas do que sozinhas. Os pesquisadores estão atualmente investigando se isso também é válido entre as Cacatuas e outras aves próximo-relacionadas.
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IMPORTANTE: Não fomente o tráfico da vida selvagem. Evite a compra de animais exóticos de estimação e não mantenha ave de nenhuma espécie em cativeiro. Para mais informações, acesse: Animais exóticos de estimação: o lado sombrio da história
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REFERÊNCIAS
- https://www.cell.com/current-biology/fulltext/S0960-9822%2819%2930604-9
- https://www.eurekalert.org/pub_releases/2019-07/cp-std070119.php
- Hattori & Tomonaga (2019). Rhythmic swaying induced by sound in chimpanzees (Pan troglodytes). PNAS, 117 (2) 936-942. https://doi.org/10.1073/pnas.1910318116
Cientistas mostram que essa Cacatua dança espontaneamente ao ritmo musical
Reviewed by Saber Atualizado
on
julho 09, 2019
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