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Encarar riscos e rotação mental diferem naturalmente entre homens e mulheres?


Explicações para a diferença salarial e o teto invisível (1), dois empecilhos na luta por igualdade sócio-econômica entre homens e mulheres, são baseadas em argumentos tanto biológicos quanto sócio-culturais. Entre os fatores geralmente considerados biológicos na literatura acadêmica temos a aversão ao risco e a rotação mental. Estudos e observações cotidianas mostram que as mulheres têm maior aversão ao risco do que os homens e possuem uma menor capacidade de resolver tarefas ligadas ao pensamento espacial. Porém, dois recentes e robustos estudos recentemente publicados desafiaram a noção de que essas diferenças são determinadas por fatores biológicos.

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(1) Leitura recomendada: Diferença salarial e o teto invisível: Obstáculos na luta pela igualdade entre homens e mulheres

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O primeiro estudo, publicado na PNAS (2), aproveitou uma rara oportunidade dentro da população Chinesa para analisar o porquê das mulheres possuírem - ou desenvolverem - uma maior aversão à tomada de riscos, algo que potencialmente dificulta a ascensão a cargos de liderança e o sucesso em empreendimentos diversos.

Na China, entre os vários grupos étnicos presentes no país, existem os Mosuo e os Han, estes os quais possuem normas de gênero bem distintas. Os Mosuo são o único grupo étnico minoritário na China que mantém uma cultura matriarcal. Uma família Mosuo tipicamente inclui membros ligados por laços do lado maternal, com avós geralmente sendo as chefes de família. Avós, tia-avós, mães, irmãos da mãe, irmãs da mãe, e crianças vivem no mesmo ambiente familiar. As crianças Mosuo são criadas pelas mães das famílias, com os pais frequentemente sendo excluídos do ambiente doméstico. Na sociedade Mosuo, as mulheres possuem um importante papel nas decisões familiares, as quais englobam a divisão do trabalho doméstico, escolhas nas plantações (agricultura familiar), as decisões de gasto, entre outros. Em geral, as mulheres nessa sociedade desfrutam de um status social que é maior ou igual ao dos homens.

Já em completo contraste, os Chineses Han têm sido influenciados pelo Confucianismo por milhares de anos. O sistema familiar tradicional Han é patriarcal e baseado na linhagem paterna. O chefe de família é tipicamente o homem mais velho, o qual é responsável pelas principais decisões. A liderança familiar é herdada através dos descendentes da linhagem masculina: filhos e seus filhos homens continuam o nome da família, e eles são esperados de darem suporte aos seus pais idosos. O status da mulher é tradicionalmente de subordinação aos homens. Apesar da Revolução Cultural na década de 1960 ter desafiado esses valores tradicionais, fortes vestígios de dominância masculina na cultura Han persistiram. Um claro exemplo disso é a notável maior chance de aborto quando os pais na sociedade Han descobrem que o feto é do sexo feminino.

Nesse sentido, existem evidências de que uma cultura matriarcal promove o desenvolvimento de maior tomada de risco entre as mulheres em relação aos homens. Como as mulheres Mosuo são chefes de família, decisões de risco podem ser traduzidas em maior renda, ou seja, podem ser compensatórias. Com mais responsabilidades econômicas e maior suporte da linhagem maternal, por exemplo, as mulheres acabam ganhando maior base para apostarem em atividades de maior risco.

Para determinar se de fato as causas para a diferença entre homens e mulheres nas atitudes de risco emergem do ambiente social, os pesquisadores investigaram escolas frequentada por alunos tanto da sociedade Han quanto da sociedade Mosuo, os quais são educados pelos mesmos professores e interagem entre si diariamente. As escolas em questão ficam localizadas no Distrito Yongning, na região de Ninglang, Província Yunnan. Em Yongning, existe a maior população Mosuo da China.

Os pesquisadores selecionaram quatro escolas - as quais possuíam os maiores números de estudantes Mosuo -, envolvendo um total de 185 e 167 estudantes do ensino básico em 2015 e em 2016, respectivamente. Os pesquisadores também selecionaram de forma aleatória 80 estudantes Han e Mosuo da única escola de ensino fundamental da cidade, de um total de 240 alunos da sétima série. Em seguida, os pesquisadores coletaram dados diversos dos alunos selecionados e usaram técnicas de experimentos econômicos que testam as atitudes individuais de risco.

Os achados do estudo mostraram que quando os estudantes entram na escola pela primeira vez, as crianças Mosuo e Han exibem normas de gênero (masculino e feminino) opostas: meninas Mosuo engajam mais em atividades de risco do que os meninos Mosuo, enquanto as meninas Han possuem maior aversão ao risco do que os meninos Han, refletindo diferenças culturais. No entanto, após os alunos Mosuo gastarem mais tempo com os alunos Han, as meninas Mosuo se tornam mais e mais aversivas ao risco. Aos 11 anos de idade, as meninas Mosuo ficam mais aversivas ao risco do que os meninos Mosuo. Os pesquisadores também observaram uma redução na diferença de aversão ao risco entre meninas e meninos Han ao longo do tempo, provavelmente devido à convivência com os alunos Mosuo. Meninos Mosuo que passavam mais tempo com os meninos Han (dormiam em quartos com menor prevalência do mesmo grupo étnico) se comportavam de forma mais similar aos seus colegas Han.

Os pesquisadores concluíram que as preferências de risco são moldadas pela cultura e são maleáveis em resposta a novos ambientes sociais.

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Já o segundo estudo, publicado na American Psychological Association (2), foi uma meta-análise da literatura acadêmica investigando diferenças sexo-baseadas na resolução de tarefas através de um tipo de pensamento espacial, conhecido como rotação mental. Na rotação mental, objetos multi-dimensionais precisam ser imaginados de diferentes pontos de vista. Podemos exemplificar com a tarefa de planejar a arrumação de uma mala de viagem, onde diferentes itens precisam ser encaixados na mala de forma a ocupar o menor espaço e permitir o mair número possível deles naquele espaço. Em geral, os homens conseguem melhor prever o posicionamento otimizado desses itens por possuírem uma melhor rotação mental.

Enquanto que diferenças em habilidades verbais e matemáticas entre homens e mulheres tendem a ser pequenas ou não existentes, duas vezes mais homens do que mulheres são os melhores em rotação mental, tornando essa habilidade uma das maiores diferenças cognitivas entre os sexos. A rotação mental é considerada uma das principais habilidades que marcam o pensamento espacial, e habilidades espaciais em geral predizem o sucesso em áreas justamente dominadas pelos homens, como ciência, engenharia e matemática. A rotação mental pode estar contribuindo para essa disparidade sexo-tendenciosa.

Nesse sentido, os pesquisadores resolveram investigar mais a fundo a questão, analisando 128 estudos que exploraram as diferenças no pensamento espacial entre homens e mulheres, combinando estatísticas de quase 40 mil crianças e adolescentes com idades de 3 a 18 anos.

Entre os achados da meta-análise, os pesquisadores não encontraram diferença nas habilidades de rotação mental entre crianças pré-escolares, mas uma pequena vantagem masculina emergia em crianças com idades entre 6 e 8 anos. Eles observaram também que é necessário toda a infância e a adolescência para a gritante diferença nessa habilidade espacial alcançar o mesmo nível da diferença vista entre homens e mulheres adultos.

Enquanto que o estudo não adereça as causas para a evolução dessa diferença de performances associadas com a rotação mental, os pesquisadores apontaram evidências prévias na literatura acadêmica de fatores sociais interferindo nessa evolução. Estudos já reportaram que os pais usam uma linguagem mais espacial quando estão falando com filhos pré-escolares do que filhas na mesma faixa de idade. Estudos também já encontraram que meninas reportam maior ansiedade quando precisam realizar tarefas espaciais do que meninos já pela 1° série, e que as crianças ficam cientes dos esteriótipos de gênero sobre a inteligência espacial durante o ensino básico. Além disso, as evidências mostram que as habilidades espaciais podem ser melhoradas através do treino independentemente do sexo.

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Os autores de ambos os estudos aconselham que os pais e educadores tentem promover ambientes mais igualitários no sentido de desenvolver ao máximo as habilidades espaciais e as atitudes de risco benéficas tanto nos meninos quanto nas meninas. No caso das habilidades espaciais, os pesquisadores sugerem, por exemplo, que os pais encorajem também as filhas a brincarem com blocos e outros itens de construção (Legos, ex.) e a praticarem esportes diversos, os quais podem ajudar a melhorar a capacidade de rotação mental.



(1) Publicação do estudo: PNAS

(2) Publicação do estudo: APA

Leitura complementar: O que é a tal da Ideologia de Gênero?

Encarar riscos e rotação mental diferem naturalmente entre homens e mulheres? Encarar riscos e rotação mental diferem naturalmente entre homens e mulheres? Reviewed by Saber Atualizado on julho 08, 2019 Rating: 5

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