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Reflorestamento e proteção florestal podem solucionar o problema das mudanças climáticas


- Atualizado no dia 14 de novembro de 2023 -


Dois robustos estudos publicados em 2019 concluíram que reflorestar enormes áreas do planeta não só é possível mas como pode solucionar o problema das mudanças climáticas e salvar diversas espécies de plantas e de animais em risco de extinção. O primeiro estudo, publicado na Science Advances (Ref.1) revelou que mais de 100 milhões de hectares de floresta tropical úmida perdidos podem ser recuperados (hotsposts de restauração) ao longo da América do Sul e Central, África e Sudeste Asiático. Já o segundo estudo, publicado também no periódico Science (Ref.2) foi além e revelou que existe potencial para reflorestar uma área maior do que o Brasil ao redor de todo o mundo e  que essa ambiciosa meta é a mais efetiva solução hoje para frear de vez as mudanças climáticas ao capturar dois terços das emissões de carbono oriundas de atividades humanas (!).


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ATUALIZAÇÃO

  • (!) O estudo de 2019 publicado na Science foi recebido com bastante ceticismo dentro da comunidade científica, em especial devido ao número sugerido de 205 gigatoneladas de carbono que poderiam ser potencialmente sequestrados com o reflorestamento de áreas e à predição no paper de que as atuais mudanças climáticas resultariam em uma perda de 450 milhões de hectares de florestas tropicais até 2050. Ref.3-4
  • Um estudo mais recente publicado na Nature encontrou que a restauração e proteção de florestas ao redor do mundo podem ajudar a remover cerca de 226 gigatoneladas de carbono da atmosfera. Isso é equivalente a cerca de 20 anos de emissões a partir das atuais taxas de queima de combustíveis fósseis e outras fontes. Se florestas forem permitidas de maturar e ficar velhas (e protegidas do desmatamento), o potencial de captura de carbono armazenado em árvores, solo, raízes, etc. é de ~138 gigatoneladas de carbono. Se áreas previamente cobertas com árvores - mas agora desmatadas ou fragmentadas - forem restauradas, outras 88 gigatoneladas de carbono podem ser capturadas - um número bem inferior àquele encontrado no estudo de 2019. São medidas que podem ajudar a solucionar a crise climática e ainda preservar a biodiversidade global. Ref.5

> As contínuas crises climáticas e de biodiversidade ameaçam ecossistemas e a humanidade. Representando 80-90% da biomassa global de plantas e grande parte da biodiversidade da Terra, as florestas atuam de forma crucial no combate ao aquecimento global ao sequestraram quantidades massivas de carbono (ex.: uso de dióxido de carbono na fotossíntese). Até o momento, humanos já removeram quase metade das florestas naturais do planeta, e continuamos perdendo 0,9-2,3 gitatoneladas equivalentes de carbono todos os anos com o desmatamento (cerca de 15% das emissões antropogênicas de carbono).

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O primeiro estudo, conduzido por 12 cientistas de diferentes países, incluindo o Brasileiro Pedro Brancalion, da USP, como autor principal, utilizou imagens de satélite de alta resolução, estudos prévios sobre quatro benefícios florestais (biodiversidade, freio das mudanças climáticas, adaptação às mudanças climáticas e seguridade de águas) e três aspectos do esforço de restauração (custo, risco de investimento e a probabilidade das florestas restauradas sobreviverem no futuro) para avaliar o potencial de restauração das áreas florestais com menos do que 90% da cobertura original de vegetação. Áreas de hotsposts foram determinadas como aquelas cuja restauração trariam os maiores benefícios e com os menores custo e risco.

Os pesquisadores encontraram que os 15 países com maiores hotsposts de restauração se encontravam nos biomas de florestas tropicais, ou zonas: três nos Neo-trópicos, cinco nos Afro-trópicos e sete na Indo-Malásia e na Australásia. Os países com os maiores hotspots identificados foram o Brasil, a Indonésia, a Índia, Madagascar e a Colômbia. Os países com os maiores potenciais de benefícios oriundos do reflorestamento foram encontrados em Ruanda, Uganda, Burundi, Togo, Sudão do Sul e Madagascar, todos na África. Além disso, 87% dos hotsposts de restauração foram encontrados dentro de áreas de alta biodiversidade, onde diversas espécies são únicas e muitas estão ameaçadas, e 73% desses hotsposts estão localizados em países que realizaram compromissos de reflorestamento como parte do Bonn Challenge, um esforço global para recuperar 150 milhões de hectares de áreas desflorestadas e degradas até 2020, e 350 milhões até 2030; ou seja, um incentivo extra. Hoje, menos do que 50% das florestas tropicais do mundo permanecem de pé, e mesmo esse restante enfrenta forte pressão de madeireiros, incêndios, minas, avanço agropecuário e urbano desenfreados, e implantação de grandes hidrelétricas.

Boa parte dessas áreas de hotspots se sobrepõem a grandes áreas privadas, incluindo áreas abandonadas, degradas e terras governamentais. Nesse sentido, os autores argumentam que é possível restaurar as florestas e ao mesmo tempo gerar produtividade, especialmente com o esforço conjunto de comunidades locais e dos grandes proprietários. Pastos podem ser enriquecidos com árvores, produtos derivados de florestas como o junco podem ser explorados, apicultura pode ser incentivada (fomentando o aumento de abelhas) e plantas de café e de cacau podem ser cultivadas sobre a abóboda das florestas. Diversas outras atividades sustentáveis e ecológicas podem beneficiar as comunidades locais e grandes propriedades de terra, e ainda beneficiar campos exclusivos de agricultura.

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Já o segundo estudo, ainda mais ambicioso, e realizado por pesquisadores do Crowther Lab, Suíça, foi o primeiro a quantificar quantas árvores a Terra pode sustentar, onde elas poderiam existir e quanto carbono elas poderiam fixar e armazenar (via utilização do dióxido de carbono do ar atmosférico para a construção dos seus tecidos). Os pesquisadores encontraram que é possível aumentar a área florestal em quase um terço (>25%) sem afetar as cidades existentes ou a agricultura. Uma vez maturas, as novas florestas - contendo mais de 500 bilhões de árvores - poderiam armazenar 205 bilhões de toneladas de carbono, e cerca de dois terços das 300 bilhões de toneladas extras de carbono que existem na atmosfera como resultado das atividades antropogênicas desde a Revolução Industrial. Além disso, os pesquisadores apontaram que ainda é possível aumentar ainda mais a cobertura de árvores ao explorar as áreas urbanas (plantio de árvores nas calçadas, parques, etc.).

Atualmente existem 5,5 bilhões de hectares de florestas (definidas pela Organização de Alimentos e Agricultura das Nações Unidas como terras com no mínimo 10% de cobertura com árvores e sem a presença de atividades humanas), com um total de 2,8 bilhões de hectares de cobertura com a abóboda de árvores. O novo estudo encontrou que existem 1,7-1,8 bilhão de hectares de terras que podem ser reflorestadas e que estão localizadas em regiões com baixa atividade humana e que não estão urbanizadas ou usadas para a agricultura. Esse reflorestamento extra adicionaria 0,9 bilhão de hectares coberto com abóboda de árvores. Mais importante, essas áreas não compreendem pântanos ou planícies, e, sim, terrenos que suportam a presença de árvores em variados níveis.

Se áreas agriculturáveis e urbanas fossem incluídas, seria possível reflorestar um adicional de 1,4 bilhão de hectares de terra, adicionando 0,7 bilhão de hectares de cobertura pela abóboda de árvores.

O estudo apontou que mais da metade do potencial de restaurar árvores pode ser encontrado em apenas seis países: Rússia (151 milhões de hectares), EUA (103 milhões), Canadá (78 milhões), Austrália (58 milhões), Brasil (50 milhões), e China (40 milhões). Foi apontado também inconsistências em relação ao Bonn Challenge. Cerca de 43% dos 48 países se comprometeram a restaurar menos do que metade das áreas que podem suportar novas florestas enquanto 10% se comprometeram a restaurar consideravelmente mais terra do que é possível para o crescimento de florestas.

Os pesquisadores alertaram que as ações de reflorestamento nesse sentido precisam ser iniciadas o mais rápido possível. Mesmo se o aquecimento global for limitado a 1,5°C, as áreas disponíveis para a restauração das florestas podem ser reduzidas em um quinto até 2050. Além disso, enquanto que áreas frias como a Sibéria podem experienciar um aumento da cobertura florestal com o aquecimento global - hoje áreas com coberturas de árvores de 30-40% -, áreas de densa floresta tropical, as quais tipicamente possuem 90-100% de cobertura de árvores, podem sofrer perdas incalculáveis e ofuscar quaisquer benefícios. Isso sem contar que levará décadas para que novas florestas cresçam e alcancem seus potenciais ótimos de biodiversidade e armazenamento de carbono. De acordo com o estudo, é de vital importância que as florestas hoje existentes sejam protegidas, que outras soluções para as mudanças climáticas continuem sendo perseguidas e que o uso de combustíveis fósseis seja reduzido ao máximo.

Ainda segundo os autores do estudo, enquanto que ações governamentais são essenciais para tornar possível a maior parte desse potencial de reflorestamento, essa é uma solução para as mudanças climáticas na qual todos podem estar envolvidos e realizando significativos impactos. Qualquer cidadão comum pode plantar árvores, doar recursos financeiros para organizações que fomentam o reflorestamento, ou apenas investir dinheiro de forma responsável em empresas que estão tomando ações efetivas contra as mudanças climáticas.

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No entanto, segundo os primeiro estudo (1), a restauração de florestas de modo a atingir o potencial ótimo de biodiversidade e de armazenamento seguro de carbono não depende apenas do plantio aleatório de árvores, sendo necessário assegurar que aqueles usando de alguma forma as terras ganhem benefícios compensatórios e estejam engajados com a preservação das áreas reflorestadas. Mas ambos os estudos reforçam que o reflorestamento de novas áreas e a preservação de antigas florestas é atualmente a melhor solução custo-benefício para combater o aquecimento global e resolver grande parte dos problemas ambientais, incluindo poluição e extinção de espécies, e sem implicar em sacrifícios para o setor produtivo dos países.


Leitura complementar: Floresta Amazônica: Protegê-la não é Ideologia, é Futuro

 

REFERÊNCIAS

  1. https://advances.sciencemag.org/content/5/7/eaav3223
  2. https://science.sciencemag.org/content/365/6448/767
  3. https://www.science.org/doi/10.1126/science.aaz0388
  4. https://www.science.org/content/article/forests-could-suck-226-gigatons-carbon-if-restored-and-protected-study-argues 
  5. Mo et al. (2023). Integrated global assessment of the natural forest carbon potential. Nature. https://doi.org/10.1038/s41586-023-06723-z


Reflorestamento e proteção florestal podem solucionar o problema das mudanças climáticas Reflorestamento e proteção florestal podem solucionar o problema das mudanças climáticas Reviewed by Saber Atualizado on julho 06, 2019 Rating: 5

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