Altos níveis de metano detectados em Marte

Segundo dados coletados pelo veículo de exploração Curiosty, o qual pertence à NASA e está desde 2012 explorando a superfície de Marte, detectou o mais alto nível de gás metano já encontrado na atmosfera do planeta. A leitura, realizada na semana retrasada na Cratera Gale - 21 partes por bilhão (ppb) - é três vezes maior do que o último recorde, detectado também pela Curiosity em 2013 (1). Já um estudo realizado por pesquisadores Dinamarqueses e publicado no periódico Icarus (2) pode ter encontrado o porquê dos picos de metano na atmosfera de Marte variarem tanto.

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A incessante busca por metano na superfície de Marte pelos cientistas explica-se pelo fato de que a presença desse gás pode ser um sinal de vida. Aqui na Terra, a maior parte do metano é produzida via processos bioquímicos, apesar de uma pequena quantidade ter origem de processos geológicos, como reações químicas envolvendo certas rochas. Várias sondas e telescópios já detectaram metano em Marte nos últimos 16 anos, mas o gás não aparece em nenhum padrão previsível, o que aumenta o mistério da sua origem e da sua dinâmica na atmosfera marciana.

A Curiosity tem medido metano várias vezes desde que aterrissou na Cratera Gale em 2012. O nível que vinha sendo registrado era tipicamente muito baixo, frequentemente partes por trilhão, e tais níveis parecem subir e descer à medida que as estações do ano Marcianas mudam. A última medida em dezenas de ppb foi uma grande surpresa. Porém, uma medição feita alguns dias depois revelou um nível de metano inferior a 1 ppb, sugerindo que o registro recorde ocorreu em meio a uma pluma transitória de metano.

Uma explicação já proposta para os padrões anormais de ocorrência do metano em Marte é que esse gás pode estar sendo muito diluído ou sendo destruído nas altas altitudes da atmosfera do planeta. Apesar de dúvidas nos últimos anos quanto à real presença do composto orgânico em Marte, estudos nos últimos anos confirmaram que sua dinâmica no Planeta Vermelho é real, mesmo que altamente irregular. Algum mecanismo faz o metano quase desaparecer da atmosfera em certos períodos. Destruição via raios UV já foi proposto, mas tal processo não consegue explicar o rápido desaparecimento do gás observado.

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Nesse sentido, pesquisadores da Universidade de Aarhus, Dinamarca, propuseram um novo mecanismo baseado nos processos erosivos que podem estar ocorrendo na superfície de Marte que consegue explicar o fenômeno. Simulando a composição mineral da superfície Marciana - incluindo minerais como basalto e plagioclásio - os pesquisadores mostraram que esses sólidos podem ser oxidados e que gases são ionizados durante os processos de erosão. Assim, metano ionizado reage com as superfícies minerais e se liga a elas. O experimento de simulação mostrou também que os átomos de carbono, como aquele do grupo metila (-CH3) do metano se liga diretamente ao átomo de silício no plagioclásio, o qual é um componente dominante na superfície de Marte.

Esse processo erosivo (saltação) descrito teoricamente e comprovado experimentalmente é muito mais efetivo do que processos fotoquímicos, permitindo que o metano seja removido da atmosfera dentro do tempo observado e, então, depositado no solo Marciano.

Mas o achado também tem implicações importantes para a possibilidade de vida em Marte. A dinâmica na superfície mineral proposta favorece também a formação de compostos altamente reativos, como peróxido de hidrogênio (água oxigenada) e radicais oxigenados, os quais são muito tóxicos para organismos vivos, incluindo bactérias. Organismos vivos, se existentes em Marte, podem existir somente em regiões subterrâneas bem afastadas da superfície do planeta.



(1) Referência: Nature (Blog)

(2) Publicação do estudo: Icarus