Cientistas eliminam o vírus HIV de ratos infectados
Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Temple e do Centro Médico da Universidade de Nebraska, EUA, pela primeira vez conseguiram eliminar o HIV-1 DNA de replicação-competente - o vírus responsável pela AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Humana) - dos genomas de mamíferos humanizados infectados. O estudo reportando e detalhando o avanço clínico foi publicado na Nature Communications (1), e marca um passo crucial para o desenvolvimento de uma possível cura para infecção humana pelo vírus HIV.
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O atual tratamento para a infecção com HIV foca no uso de terapia anti-retroviral (ART) (2). A ART suprime a replicação do HIV mas não elimina o vírus do corpo. Portanto, a ART não é uma cura para a infecção, requerendo um tratamento vitalício para tornar o paciente assintomático e incapaz de transmitir o vírus. Se o tratamento é interrompido, o HIV volta novamente a se multiplicar furiosamente, a partir do próprio DNA do infectado, já que consegue integrar suas sequências genéticas nos genomas das células do sistema imune, onde permanece dormente e além do alcance das drogas antirretrovirais.
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(2) Para saber mais, acesse: Mais do que confirmado: HIV indetectável é intransmissível
Porém, a popular tecnologia de edição genética CRISPR-Cas9 (3) já tinha sido utilizada nos últimos anos para o desenvolvimento de uma terapia genética voltada para eliminar essas sequências virais do HIV do genoma dos infectados. Em ratos, experimentos tinham mostrado parcial sucesso nessa estratégia, mas não o suficiente para livrar o corpo da infecção.
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(3) Leitura recomendada: CRISPR-Cas9: O poder da edição genética!
Nesse sentido, os pesquisadores do novo estudo resolveram unir as duas estratégias: tratamento via ART e terapia genética via CRISPR-Cas9. Previamente, eles tinham modificado a ART, desenvolvendo um sistema terapêutico conhecido como LASER (liberação de ação-lenta lento-efetivo, na tradução literal da sigla em inglês) ART. O LASER ART visa santuários virais e mantém a replicação do HIV a baixos níveis por períodos estendidos de tempo, reduzindo a frequência da administração de ART. Isso foi possível graças à modificação dos fármacos antirretrovirais usados no coquetel do ART e o empacotamento desses em nanocristais, estes os quais são prontamente distribuídos aos tecidos onde o HIV está provavelmente dormente - incluindo tecidos linfoides, cerebrais, intestinais e do baço. Uma vez nos tecidos, os nanocristais, armazenados dentro das células por semanas, liberam lentamente os fármacos.
No estudo em si, os pesquisadores produziram ratos geneticamente modificados para a produção de células-T suscetíveis à infecção pelo HIV, permitindo uma infecção viral de longo prazo e uma latência ART-induzida. Uma vez que a infecção foi estabelecida, os ratos foram tratados com o LASER ART e subsequentemente com uma terapia genética baseada no CRISPR-Cas9. No final do período de tratamento, os ratos foram examinados para a aferição da carga viral. As análises revelaram uma eliminação completa do HIV dos genomas e dos corpos de um terço dos ratos humanizados infectados.
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Agora, os pesquisadores querem começar os testes clínicos em primatas não-humanos e, em seguida, em humanos. Caso o sucesso seja replicado e novas otimizações sejam feitas para aumentar a eficiência da nova estratégia de tratamento, podemos estar diante do primeiro tratamento que oferece real cura para o HIV de forma generalizada, não apenas casos raros e isolados como têm sido reportado nas últimas décadas.
Ao redor do mundo, segundo a UNAIDS, é estimado que mais de 36,7 milhões de pessoas estão infectadas com o HIV-1 (vírus da imunodeficiência humana tipo 1) e que acima de 5 mil novas pessoas são infectadas diariamente com o vírus.
Publicação do estudo: Nature
Cientistas eliminam o vírus HIV de ratos infectados
Reviewed by Saber Atualizado
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julho 03, 2019
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