Uso de maconha por adolescentes parece alterar negativamente áreas críticas do córtex pré-frontal

De acordo com um estudo apresentado esta semana no encontro anual da Society for Neuroscience, e realizado por pesquisadores da Universidade de Illinois, Chicago, o uso de maconha por adolescentes pode alterar como neurônios funcionam em áreas do cérebro associadas com o planejamento, auto-controle e tomadas de decisão. Esse estudo vem para trazer mais uma importante evidência que se acumula a diversas outras nos últimos anos (1), as quais apontam danos no cérebro decorrentes do consumo recreativo e indiscriminado de maconha.

(1) Para saber mais, acesse:

O foco dos pesquisadores nesse novo estudo foi procurar entender como os componentes da maconha podem interferir no desenvolvimento estrutural do córtex pré-frontal (CPF), este o qual controla funções cognitivas de alto nível. Dentro do PFC, uma estrutura de suporte chamada de 'rede perineuronal' forma uma grade de proteínas ao redor de células inibitórias, ajudando a assegurar suas conexões com neurônios excitatórios e a regular a atividade do CPF. A formação da rede perineuronal é sensível a diversas drogas, mas os efeitos da maconha sobre ela eram até agora desconhecidos.

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Nesse sentido, os pesquisadores usaram ratos na fase adolescente para estudar como um canabinoide sintético similar ao THC (tetraidrocanabinol, principal componente psicoativo da maconha e responsáveis pelo vício a essa droga) age no CPF. O sintético foi administrado nos roedores por 1 dia, 10 dias, ou 10 dias seguidos por um período de abstinência. Eles então compararam a estrutura da rede perineuronal nesses animais com aquela de um grupo de ratos livres de THC.

Os resultados das análises mostraram que os animais expostos ao THC tiveram uma redução no desenvolvimento da rede perineuronal ao redor das células inibitórias durante a adolescência, sendo essa redução mais comum nos ratos machos.

"Nossa evidência sugere que a exposição aos canabinoides durante a adolescência altera a maturação cerebral no córtex pré-frontal. Isso pode oferecer uma explicação mecanística para as mudanças funcionais e comportamentais nos adolescentes causadas pela exposição a essas substâncias", disse Eliza Jacobs-Brichford, autora principal do novo estudo, em entrevista para o jornal da Universidade de Illinois. "O período da adolescência é crucial para o acabamento final do balanço de neurônios excitatórios e inibitórios no cérebro, os quais se combinam para o controle preciso dos padrões de atividade cerebral. O uso de drogas durante a adolescência possui o potencial de levar danos à trajetória do desenvolvimento normal do PFC, com potenciais consequências a longo prazo para a tomada de decisões."

Com a tendência de legalização do uso recreativo e da venda de maconha em várias partes do mundo - já uma realidade no Canadá, Uruguai e alguns estados dos EUA -, é necessário existir um aumento das campanhas de conscientização sobre os efeitos da maconha no corpo humano, especialmente o fumo (2). Poucos sabem, por exemplo, que não se deve dirigir durante ou logo após o consumo de maconha. Além disso, uso recreativo e indiscriminado não é medicinal, e uso medicinal é apenas para pacientes, utilizando apropriadas vias de administração e sob orientação médica. A maconha está sendo promovida como algo 'natural', 'medicinal' e 'seguro' para todo o público, e os adolescentes de todas as idades estão cada vez mais usando essa droga, algo mais do que preocupante.

(2) Leitura recomendada: Fumo da maconha: Lobo sob pele de cordeiro

Referência: UIC