Dois novos estudos reforçam que a maconha causa danos no cérebro e preocupantes sintomas de dependência
Na última semana, o Canadá foi o segundo país - após o Uruguai - a legalizar o uso, o plantio e a venda de maconha. Com a atual tendência de descriminalização e legalização dessa droga ao redor do mundo, especialistas de saúde estão começando a adereçar uma maior atenção ao consumo de cannabis, especialmente entre os mais jovens. Nesse sentido, dois estudos publicados recententemente aumentaram o alerta para o uso indiscriminado da maconha.
O primeiro estudo, publicado no periódico Molecular Psychiatry (I), e liderado pela pesquisadora Yasmin Hurd - Diretora do The Addiction Institute of Mount Sinai, da Escola de Medicina Icahn, New York, EUA - mostrou que a exposição de THC (9-tetrahidrocanabinol, o componente psicoativo e viciante da maconha) na adolescência leva a alterações na estrutura de neurônios e expressão de genes dentro dessas células cerebrais no córtex pré-frontal, uma região no cérebro que media tomadas de decisões e outras funções cognitivas.
A expressão de genes é crítica para a manutenção da plasticidade sináptica, desenvolvimento neuronal e organização da cromatina (mecanismos epigenéticos) e, junto com as mudanças estruturais, isso leva a uma redução nas ramificações dos neurônios pré-frontais corticais e o número de 'espinhas' dendríticas, as quais são críticas para a comunicação celular. Além disso, o conjunto de genes afetados pelo THC é similar àquele afetado em indivíduos diagnosticados com esquizofrenia, indicando que a exposição a esse composto pode aumentar a vulnerabilidade do indivíduo a transtornos psiquiátricos.
Essas mudanças a longo prazo geradas pelo THC foram detectadas via sequenciamento genômico e microscopia computadorizada no cérebro de modelos animais (ratos, no caso) - usados devido ao crescimento mais rápido e grande similaridade com o cérebro humano, especialmente da parte cerebral analisada -, expostos ao composto na adolescência e acompanhados até a fase adulta. O estudo também mostrou que as mudanças geram consequências permanentes na rede neural que afetam a fase adulta mesmo quando a exposição ao THC é cessada no fim da adolescência.
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O segundo estudo, publicado no periódico Drug and Alcohol Dependence (II), e conduzido por pesquisadores da Universidade de Columbia, EUA, mostrou que 12% dos fumantes frequentes de maconha - 3 vezes ou mais por semana - experienciam a Síndrome de Abstinência de Cannabis (SAC), a qual engloba sintomas emocionais, físicos e comportamentais. A SAC foi incluída na mais recente edição do Manual de Diagnósticos e Estatísticas de Transtornos Mentais (DSM-5) publicado em 2013.
O estudo englobou a análise de 1527 usuários frequentes dessa droga e entre os sintomas de abstinência reportados, os mais comuns foram nervosismo/ansiedade (76%), hostilidade (72%), dificuldade para dormir (68%) e depressão (59%). Sintomas físicos, com menos frequência, também foram reportados, incluindo tremores, dores de cabeça e também suor excessivo. A intensidade dos sintomas de abstinência mostrou-se diretamente associado com o número de baseados fumados diariamente.
Esses sintomas podem ser ainda mais preocupantes caso outros transtornos mentais acompanhem previamente o indivíduo, como depressão e transtornos de ansiedade. O estudo também vêm como um alerta importante para muitos que acreditam que a maconha não vicia, algo totalmente inverídico.
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Ambos os estudos se acumulam a vários outros recentes (1) para reforçar que o consumo da maconha passa longe de ser seguro como muitos alegam, especialmente o fumo (2). Aliás, especialistas comentaram em uma edição recente do CMAJ (Canadian Medical Association Journal) (III) que os efeitos a longo prazo do fumo da maconha são desconhecidos e que várias evidências nos últimos anos estão apontando para danos nas vias aéreas e sistema cardiovascular a curto prazo, provavelmente envolvendo maiores riscos no desenvolvimento de câncer (o fumo da maconha é similar ao fumo do tabaco) (2). Ainda segundo os especialistas, a pesada propaganda dos efeitos medicinais da maconha e a crença na sua suposta segurança estão promovendo massivamente seu fumo como ocorreu com o cigarro antes de 1964.
Reforçando sempre: o uso medicinal da maconha não é um uso recreativo e indiscriminado, e não envolve fumo. O uso medicinal é feito com acompanhamento médico e envolvendo extratos medicamentosos com bula e dosagens pré-estabelecidas para cada paciente (2).
(1) Leituras recomendadas:
- Estudo mostra que o uso a longo prazo de maconha causa danos no cérebro
- Consumo de maconha está associado com o desenvolvimento de transtorno bipolar
- Canabinoides da maconha e de sintéticos podem disparar preocupantes ataques súbitos no cérebro
(2) Para saber mais, acesse o artigo: Fumo da maconha: Lobo sob pele de cordeiro
Estudos publicados:
- (I) https://www.nature.com/articles/s41380-018-0243-x
- (II) https://www.drugandalcoholdependence.com/article/S0376-8716(18)30714-2/fulltext
- (III) http://www.cmaj.ca/content/190/42/E1243
Dois novos estudos reforçam que a maconha causa danos no cérebro e preocupantes sintomas de dependência
Reviewed by Saber Atualizado
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outubro 23, 2018
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