Fóssil de transição evolutiva revela a provável origem das cerdas bucais nas baleias

Baleias da subordem Mysticeti (baleias-verdadeiras) possuem, no lugar de dentes, cerdas bucais usadas para filtrar o alimento da água marinha. Essas cerdas são placas flexíveis constituídas de queratina (proteína que também formam nossas unhas e cabelos) distribuídas em duas fileiras fixadas na maxila superior da boca desses mamíferos. Um dos maiores mistérios sobre essa estrutura bucal é a origem dela ao longo do percurso evolucionário das baleias, já que o ancestral direto dos cetáceos possuía dentes; aliás, cachalotes e outras baleias-falsas modernas possuem dentes ('baleias' dentadas, subordem Odontoceti).

Agora, paleobiólogos da Universidade de George Mason, Virginia, EUA, anunciaram que a análise de um fóssil pertencente a um antigo cetáceo - e descoberto na década de 1970, em Oregon, mas pouco estudado desde então - fortemente sugere que as baleias primeiro perderam seus dentes e só mais tarde desenvolveram as cerdas bucais, dando finalmente origem à subordem Mysticeti. O estudo foi apresentado esta semana no encontro anual da Sociedade de Paleontologia dos Vertebrados (1), sendo realizado em Albuquerque, New Mexico. Hipóteses anteriores trabalhavam, em geral, o cenário em que os dentes desses animais foram modificados ao longo da evolução até darem origem às cerdas.

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Para chegarem na nova conclusão, os pesquisadores usaram a técnica de tomografia computadorizada para analisar o interior do crânio de um espécime fossilizado que viveu entre 32 e 33 milhões de anos atrás (a espécie à qual ele pertence ainda não foi nomeada). A análise mostrou que essa baleia não possuía dente algum e nem a estrutura óssea necessária para dar suporte às lâminas córneas. Além disso, o mais importante, é que a estrutura craniana do espécime mostrou-se adaptada para um método de alimentação totalmente novo daqueles hoje conhecidos entre os cetáceos: sucção!

O formato do crânio investigado possibilita a existência de poderosos músculos faciais necessários para sugar presas como peixes. Somando-se a isso, a idade do fóssil o coloca perfeitamente entre a separação evolutiva entre baleias dentadas e baleias de cerdas (também conhecidas como 'baleias de barba'). E considerando que o método de sucção caracteriza o espécime 'banguela' extinto como um predador ativo, isso reforça um laço de maior proximidade com seus parentes dentados dissidentes.

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Todas essas evidências apontam solidamente para a hipótese onde os cetáceos ancestrais com dentes mantiveram os dentes na linha evolucionária levando à subordem Odontoceti e perderam os dentes levando à subordem Mysticeti. Após a perda dos dentes, as cerdas evoluíram nesses animais. Outra importante evidência é um estudo de 2016 dos mesmos autores do novo estudo mostrando que o fóssil de um antigo cetáceo extinto muito próximo na linha evolutiva das baleias modernas possuía dentes e também uma estrutura óssea que sugeria sucção, ou seja, essa forma de alimentação pode ter se mantido - e otimizada com a perda de dentes - até o surgimento das cerdas, estas as quais permitem a maior captura de presas com o mínimo de esforço.     
           
Porém, ainda continua incerto quando exatamente as baleias de cerdas surgiram. Os autores do novo estudo - este o qual será publicado em breve -  sugerem que a transição do ancestral 'banguela' sem cerdas bucais foi completada no Oligoceno Superior, há cerca de 23 milhões de anos. Outro mistério também é entender o porquê do feto de baleias de cerda expressar dentes ao longo do desenvolvimento embrionário, os quais depois são reabsorvidos pelo corpo para dar origem às lâminas córneas antes mesmo do nascimento.


(1) Para saber mais, acesse: VertPaleo

Estudo (2016): Monash

Referência adicional: Nature (Blog)