Os ovos de dinossauros terópodes eram coloridos como os de aves

As aves são os únicos amniotas vivos hoje que produzem ovos coloridos, e por muito tempo os cientistas acreditaram que essa característica evoluiu de forma inédita nesse grupo de animais. Agora, um impactante estudo publicado esta semana na Nature trouxe evidências conclusivas de que a coloração diversa nos ovos emergiu primeiro nos dinossauros terópodes, talvez há cerca de 150 milhões de anos, seguindo como herança evolucionária nas aves.

Até pouco tempo atrás, a maioria dos especialistas pensavam que os ovos coloridos tinham evoluído mais recentemente, apenas em espécies de aves modernas, e que as primeiras aves - evoluídas diretamente de dinossauros terópodes - botavam ovos brancos assim como crocodilos, lagartos e outros répteis, incluindo dinossauros. Porém, no ano passado, os paleobiologistas Jasmina Wiemann da Yale University publicaram a primeira evidência de cores nos ovos de dinossauros, usando métodos químicos de análise para detectar dois pigmentos - biliverdina azul-esverdeada e protoporfirina vermelho-amarronzada - nos ovos de um oviraptorossauro de 70 milhões de anos do gênero Heyuannia, cujos fósseis foram encontrados na China. E esses dois pigmentos são os responsáveis por todas as variações nos ovos das aves modernas.

Essa descoberta abriu o seguinte questionamento no meio acadêmico: será que as aves herdaram ovos coloridos de dinossauros ancestrais ou os ovos coloridos evoluíram de forma independente múltiplas vezes?

Nesse sentido, Wiemann e colaboradores resolveram realizar um levantamento filogenético das cores de ovos em dinossauros não-aviários. Para isso, os pesquisadores empregaram a técnica de microspectroscopia Raman de alta-resolução - à base de infravermelho - em cascas de ovos fossilizadas representativas de todos os maiores clados de dinossauros - englobando 15 espécies de dinossauros do Cretáceo - e aves extintas, e também cascas de ovos de aves e répteis modernos, incluindo emas, galinhas (gênero Gallus), lagartos, entre outros. Com o Raman, os pesquisadores não precisam destruir as amostras de fósseis, onde lasers no comprimento de onda do infravermelho interagem com a superfície das cascas de ovos e denunciam sua composição química.

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O resultado das análises mostraram que todos os ovos de dinossauros eumaniraptoranos (terópodes, ancestrais em próxima associação evolutiva com as aves) tinham preservado pigmentos coloridos. Um parente dos famosos Velociraptores, do gênero Deinonychus, mostrou botar ovos com uma coloração azul- esverdeada; dinossauros carnívoros de pequeno porte da família Troodontidae botavam ovos ou azul-esverdeados ou beijes ou brancos; e o já previamente analisado Heyuannia expressava um azul-esverdeado bem profundo. Mapas de pigmentação na superfície das cascas de ovos revelaram que os eumaniraptoranos não-aviários tinham ovos com um padrão salpicado e sarapintado de cores, com similar diversidade e complexidade dos ovos de aves modernas.

Além disso, os ovos de dinossauros saurópodes e ornitisquianos - ambos herbívoros - mostraram-se brancos, indicando que os ovos coloridos surgiram como novidade apenas entre os terópodes.

No final, tudo isso indica que quando os dinossauros enterravam seus ovos - assim como as tartarugas hoje o fazem - a coloração da casca era branca. Quando os terópodes surgiram e começaram a botar ovos em ninhos abertos, as cores evoluíram como uma necessidade (pressões seletivas) de camuflagem e de reconhecimento, para escondê-los de predadores e facilitar a identificação deles pelos pais. De fato, todos os amniotas modernos que enterram seus ovos possuem estes brancos, corroborando a hipótese que os ovos coloridos co-evoluíram com os ninhos abertos.

Somando-se a isso, a distribuição filogenética das cores de ovos dentro de amostras entre os archossauros  suporta uma origem única evolucionária dessas cores entre os dinossauros terópodes não-aviários, com essa característica persistindo nas aves. Aves que hoje botam ovos brancos, como as galinhas, provavelmente perderam o padrão colorido ao longo do processo evolutivo, ganhando outras vantagens. Avestruzes, por exemplo, claramente botam ovos brancos como uma fator de proteção contra o superaquecimento pelo raios solares, os quais são bastante intensos em seus habitats naturais. Membros da família Troodontidae que botam ovos brancos provavelmente sofreram pressões seletivas semelhantes.

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Aves, definitivamente, não foram os primeiros amniotas a produzirem ovos coloridos, sendo essa mais uma das várias características herdadas dos seus ancestrais dinossauros, como penas, osso esternal, comportamento de chocar ovos, pulmões aviários, rituais de acasalamento específicos e esqueletos ocos. Há cerca de 150 milhões de anos muito da essência das aves já tinha evoluído nos dinossauros, com a explosão radiativa desse grupo de animais diversificando ainda mais os padrões morfológicos pré-existentes. Isso também reforça que o comportamento de ninho dos dinossauros terópodes era muito mais complexo do que o imaginado.


Publicação do estudo: Nature

Leitura complementar: Evolução Biológica é um FATO CIENTÍFICO