Cientistas encontram que o aquecimento dos oceanos reflete o pior cenário previsto
Um estudo publicado esta semana na Nature trouxe dados mais do que preocupantes. A partir de um novo método de medição da variação de temperatura média global dos oceanos, pesquisadores mostraram que a taxa de aquecimento das massas de água marinha desde 1991 representa o pior cenário estimado por estudos anteriores. Os esforços atuais de limitar a emissão de gases estufas podem não ser suficientes para impedir uma catástrofe climática nas próximas décadas.
Os oceanos são a principal fonte de inércia termal no sistema climático, e as variações da sua temperatura média ao longo dos anos refletem o quanto a superfície da Terra está esquentando. Nas últimas décadas, essas variações térmicas têm sido quantificadas a partir de medidas hidrográficas de temperatura e da análise de dados do programa flutuante Argo, o qual expandiu sua área de cobertura no ano de 2007. Porém, as estimativas baseadas nessas metodologias apresentam falhas e limitações, especialmente derivadas da cobertura insuficiente da superfície e do interior oceânicos para a coleta de amostras. Com isso, a introdução de incertezas chegam a ser de 25%-50% dos valores encontrados.
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Para contornar as limitações e falhas, os pesquisadores agora utilizaram uma nova metodologia para estimar as variações térmicas na massa oceânica: a análise quantitativa de gases oxigênio e dióxido de carbono na atmosfera. A lógica é bem simples: à medida que a água aquece, a capacidade de solubilização de gases nela diminui, levando à liberação de gases dissolvidos. Sabendo o quanto de gases é liberado para cada variação de temperatura (correspondente a uma variação energética em Joules) é possível estimar as taxas de aquecimento medindo as variações de gases na atmosfera. Como os gases após serem liberados da massa oceânica se misturam de forma homogênea na atmosfera, não é necessário se preocupar com a coleta de inúmeras amostras ao longo da superfície terrestre.
Aliás, esse método já era utilizado, mas baseado na análise de gases nobres (usando a razão entre argônio e nitrogênio, por exemplo). Porém, o uso de gases nobres não gera medições acuradas, devido à baixíssima presença desses gases na atmosfera.
No novo estudo, o maior desafio dos pesquisadores foi conseguir isolar com a máxima precisão possível a liberação de oxigênio e de dióxido de carbono dos oceanos, descontando fontes antropogênicas (indústrias, veículos, etc.) e naturais (fotossíntese, respiração celular, etc.). Para isso, eles usaram cálculos computacionais para estimar o chamado 'potencial atmosférico de oxigênio' (APO), cuja variação corresponde à soma da variação de quatro contribuidores independentes, como esquematizado abaixo.
Com essa nova ferramenta de análise, os pesquisadores encontraram que os oceanos ganharam 1,33±0,20 x 10^22 joules de calor por ano entre 1991 e 2016, equivalente a um desbalanço de energia de 0,83±0,11 watts por metro quadrado da superfície da Terra. Esses valores correspondem às estimativas mais pessimistas (mais altos valores) de aquecimento da superfície do planeta.
Esse é mais um alerta (1) para que os países coloquem mais esforços no sentido de reduzir as emissões de gases estufas (metano e dióxido de carbono em especial). O aquecimento global parece ser pior do que pensávamos, e as consequências mais trágicas podem surgir mais cedo do que anteriormente estimado. E, infelizmente, um dos maiores contribuidores para as emissões de gases estufas, os EUA - sob a administração Trump -, ainda continua relutante em se comprometer com as metas determinadas pelo Acordo de Paris.
ATUALIZAÇÃO (15/11/18): Será realizado uma correção nos cálculos relacionados ao potencial de oxigênio, o que refletirá na margem de incerteza do resultado, não na conclusão geral. Segundo a Science Magazine, o erro foi apontado por um pesquisador Britânico em seu blog pessoal.
(1) Para saber mais, acesse: IPCC lança alerta de urgência na luta contra o aquecimento global
Leitura recomendada: Aquecimento Global: Uma Problemática Verdade
Publicação do estudo: Nature
Cientistas encontram que o aquecimento dos oceanos reflete o pior cenário previsto
Reviewed by Saber Atualizado
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novembro 02, 2018
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