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Plesiossauros encontrados no Deserto do Saara sugerem que esses animais não eram apenas marinhos

- Atualizado no dia 26 de julho de 2023 -


Plesiossauros, répteis aquáticos (1) primeiro descobertos em 1823 pela paleontóloga Britânica e caçadora de fósseis Mary Anning, sempre foram considerados animais marinhos. Com um longo pescoço, pequena cabeça e quatro longas nadadeiras, esses répteis serviram inclusive de inspiração artística para reconstruções do alegado Monstro do Lago Ness (2). Porém, um um estudo publicado em 2022 no periódico Cretaceous Research (Ref.1), pesquisadores reportaram e descreveram fósseis de plesiossauros de pequeno porte que habitaram um sistema fluvial de 100 milhões de anos atrás, em uma região hoje pertencente ao atual Deserto do Saara, no Marrocos. O achado - somado com evidências fósseis prévias - fortemente sugere que esses animais, assim como os golfinhos modernos, habitavam tanto ambientes marinhos quanto ambientes de água doce.


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(1) IMPORTANTE reforçar que os plesiossauros, assim como os Pterossauros e os Ictiossauros, NÃO eram dinossauros. 


(2) É provável que esse "monstro" nunca existiu, não passando de uma lenda talvez alimentada pelo avistamento de uma enguia gigante. Fica a sugestão de leitura: O Monstro do Lago Ness pode ter sido uma enguia gigante?

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Plesiossauros (ordem Plesiosauria) constituem um clado de répteis aquáticos predadores - tradicionalmente marinhos - que habitaram oceanos de todo o mundo ao longo de 135 milhões de anos no período Mesozoico, se estendendo do Jurássico até o final do Cretáceo (201 a 66 milhões de anos atrás). Apesar de serem popularmente sempre retratados com longos pescoços, esses animais evoluíram também, repetidas vezes, pescoços curtos. Nesse último ponto, é motivo de debate a função e valor adaptativo dos longos pescoços presentes na maioria dos plesiossauros, com alguns alcançando até 76 vértebras cervicais e 7 metros de comprimento (!). Evidências recentes sugerem que movimentos laterais do longo pescoço podem ter facilitado alimentação em determinados ambientes (especializações ecológicas) (Ref.4).





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(!) Importante apontar que alongamento extremo do pescoço representou uma estratégia evolucionária comum entre répteis marinhos do Mesozoico, emergindo de forma independente em várias linhagens extintas além dos plesiossauros. Aliás, cientistas também especulam que esses longos pescoços no mar eram vulneráveis à predação. Recentemente, fósseis de dois Tanystropheus foram descritos com o pescoço completamente decapitado, fortemente sugerindo ataque predatório (Ref.8).

Modelo de esqueleto baseado em fósseis do arcossauromorfo Tanystropheus, em exibição no Museu de Paleontologia de Zurique, Suíça
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Uma característica única dos plesiossauros é a evolução de quatro grandes nadadeiras (duas dianteiras e duas traseiras) quase sempre de tamanhos idênticos tanto em forma quanto em tamanho; todos os outros animais aquáticos vertebrados que usam apêndices dessa natureza (ex.: tartarugas e leões marinhos) usam o par dianteiro primariamente para propulsão e o par traseiro para manobras, resultando em morfologias dramaticamente diferenciadas. Evidência experimental aponta que os plesiossauros usavam as quatro nadadeiras para uma propulsão mais eficiente e efetiva: as nadadeiras traseiras, operando em harmonia com as nadadeiras dianteiras, podiam gerar até 60% maior propulsão e 40% maior eficiência (Ref.7).


A maioria dos fósseis de plesiossauros são encontrados em depósitos marinhos, mas alguns ocorrem em ambientes de baixa salinidade, incluindo água doce. Porém, é ainda incerto se esses achados sem associação com antigos ambientes marinhos são evidência suportando habitats não-marinhos para esses animais.


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No estudo de 2022, pesquisadores reportaram fósseis de plesiossauros escavados em depósitos do Cretáceo Médio associados a um antigo sistema fluvial nas formações saarianas do Grupo Kem Kem, no Marrocos, África. O fósseis incluíam vértebras do pescoço, costa e cauda, dentes desgastados, e um osso do braço de um indivíduo juvenil, e pertenciam a membros da família Leptocleididae (grupo constituído de plesiossauros de pequeno porte). Os adultos (provavelmente sub-adultos) possuíam estimados 3 metros de comprimento e o filhote possuía cerca de 1,5 metro. Outros fósseis associados ao Grupo Kem Kem (3) sugerem que esses plesiossauros conviveram juntos com sapos, crocodilos gigantes, tartarugas, peixes e o único dinossauro aquático conhecido, o enorme Espinossauro do gênero Spinosaurus (4).


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> Paleontólogos sugerem que essa região (Saara), há 100 milhões de anos, representou o lugar mais perigoso da Terra em termos de temíveis predadores, pelo menos até onde sabemos. Para mais informações, acesse:

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Os novos fósseis descritos fortemente indicam que os achados fósseis de plesiossauros em ambientes aquáticos de baixa salinidade não representam casos de animais marinhos que ficavam perdidos e presos em rios. A primeira possibilidade mais provável é que os plesiossauros eram capazes de tolerar ambientes de água salgada e de água doce, como certos cetáceos modernos (ex.: Delphinapterus leucas, espécie popularmente conhecida como Beluga). Outra possibilidade é que algumas espécies de plesiossauros eram residentes permanentes de rios, como golfinhos modernos que habitam ambientes fluviais (ex.: Inia geoffrensis, conhecido popularmente como Boto-cor-de-rosa e encontrado na Amazônia).


REFERÊNCIAS

  1. Longrich et al. (2022). Plesiosaurs from the fluvial Kem Kem Group (mid-Cretaceous) of eastern Morocco and a review of non-marine plesiosaurs. Cretaceous Research, 105310. https://doi.org/10.1016/j.cretres.2022.105310
  2. Otero et al. (2020). Cryptoclidid plesiosaurs (Sauropterygia, Plesiosauria) from the Upper Jurassic of the Atacama Desert. Journal of Vertebrate Paleontology, e1764573. 
  3. Fischer et al. (2017). Plasticity and Convergence in the Evolution of Short-Necked Plesiosaurs. Current Biology, 27(11), 1667–1676.e3.
  4. Nagesan et al. (2018). A method for deducing neck mobility in plesiosaurs, using the exceptionally preserved Nichollssaura borealis. Royal Society Open Science, Volume 5, Issue 8. https://doi.org/10.1098/rsos.172307
  5. https://www.sea.museum/2019/09/05/paleoart-impressions-of-prehistoric-predators
  6. O'Keefe & Chiappe (2011). Viviparity and K-Selected Life History in a Mesozoic Marine Plesiosaur (Reptilia, Sauropterygia). Science, Vol. 333, Issue 6044, pp. 870-873.
  7. Muscutt et al. (2017). The four-flipper swimming method of plesiosaurs enabled efficient and effective locomotion. Proceedings of the Royal Society B, Volume 284, Issue 1861. https://doi.org/10.1098/rspb.2017.0951
  8. Spiekman & Mujal (2023). Decapitation in the long-necked Triassic marine reptile Tanystropheus. Current Biology, Volume 33, Issue 13, PR708-R709. https://doi.org/10.1016/j.cub.2023.04.027


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