O Monstro do Lago Ness pode ter sido uma enguia gigante?

- Atualizado no dia 25 de julho de 2023 -

Desde o primeiro avistamento reportado na Idade Média, no século VI, várias hipóteses e das mais variadas têm sido construídas para explicar o que seria o suposto Monstro do Lago Ness: uma relíquia pré-histórica, um esturjão gigante, ou mesmo um galho ou um barco abandonado. Nesse sentido, para ajudar a esclarecer esse mistério, um time internacional de pesquisadores da iniciativa Super Natural History (Ref.1) resolveu analisar amostras ambientais de DNA das águas do famoso lago para identificar todos os possíveis animais que vivem ali. Os resultados das análises - publicados em 2019 - trouxeram sugestivo suporte de que o "monstro" pode ter sido uma enguia gigante. Porém, um estudo mais recente desafiou essa hipótese com dados estatísticos.

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MONSTRO E ENGUIAS

O Lago Ness, localizado nas Terras Alas da Escócia, Reino Unido, se estende por cerca de 37 km, com uma área em torno de 56 quilômetros quadrados e uma profundidade que pode alcançar os quase 230 metros. É nesse lago onde a alegada criatura conhecida como Monstro do Lago Ness é dita de ter sido avistada, no mínimo, umas mil vezes desde os períodos medievais. Geralmente essa criatura é descrita como um tipo de dragão marinho ou como um plesiossauro (1). Apesar de atrair muitos turistas e marcar profundamente a cultura pop, evidências científicas até o momento para esse "monstro" são praticamente nulas.

Em 21 de abril de 1934, a mais famosa foto alegadamente mostrando o Monstro do Lago Ness (Surgeon’s Photograph) foi publicada no periódico Daily Mail. Tem sido estimado que o alegado animal na foto teria um comprimento de 15-20 metros. Porém, é difícil imaginar que o ecossistema e a biomassa do Lago Ness suportariam um animal desse porte.

(2) Para mais informações: Plesiossauros encontrados no Deserto do Saara sugerem que esses animais não eram apenas marinhos

Nesse sentido, cientistas da da Europa e da Australásia resolveram conduzir uma robusta análise para tentar revelar algum tipo de animal que possa ter vivido no lago - ou que possa sinistramente ainda estar vivo - e que se encaixe com os relatos históricos. Para isso, foram coletadas centenas de amostras de água do Lago Ness e de lagos próximos - 250 no total -, das quais material genético foi extraído e sequenciado. Isso forneceu ao time de cientistas 500 milhões de sequências de DNA, as quais quando comparadas com bancos de dados globais de DNA mostraram um compreensivo quadro da vida presente no lago, desde bactérias até peixes. Mas os pesquisadores encontraram alguma coisa grande o suficiente para explicar o monstro?

Infelizmente, nada foi encontrado que remotamente esteja relacionado com um réptil gigante da era Jurássica. Ou seja, a ideia de um Plesiossauro ou algo similar no Lago Nesse não possui suporte científico com base nos dados coletados. Grandes tubarões e outros peixes gigantes também não foram evidenciados no montante de material genético analisado, incluindo possíveis esturjões. Porém, os pesquisadores encontraram bastante DNA pertencente a enguias (ordem Anguilliformes). Seria o monstro uma enguia anormalmente gigante? Uma talvez de uns 10-12 metros e bastante massiva poderia se encaixar com os relatos históricos.

Segundo os pesquisadores, a hipótese de uma enguia gigante é uma possibilidade, mas pela análise realizada das amostras de DNA não dá para rastrear o tamanho das enguias no lago. Mais trabalho de campo seria necessário para saber se existem enguias gigantes no lago que possam dar suporte para um espécime anormalmente grande que possa ter emergido no lago ao longo da sua história.

No total de vertebrados, foram identificadas 11 espécies de peixes, 3 espécies de anfíbios, 22 espécies de aves e 19 de mamíferos, a maioria de espécies conhecidas de serem residentes dentro ou no entorno do lago.

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De qualquer forma, como lembraram também os pesquisadores, as análises não provaram que um "monstro" existiu ou não no lago, mas suportam uma nova hipótese sobre a identidade da misteriosa criatura.

CETICISMO

Apesar da narrativa de uma enguia gigante ter ficado popular nos últimos anos, um estudo publicado recentemente no periódico JMIRx Bio (Ref.2), explorando se o Monstro do Lago Ness pode ter sido uma enguia gigante, não encontrou evidência de suporte para essa hipótese. Usando dados coletados do Lago Ness e de outros corpos de água doce na Europa, o cientista Floe Foxon encontrou que a chance de ter existido uma enguia de 1 metro no Lago Ness é de aproximadamente 1 em 50 mil; porém, a probabilidade de encontrar enguias muito maiores (>6 metros) mostrou ser virtualmente zero. Para uma enguia Europeia hipotética mantendo uma taxa de crescimento constante alcançar 6 metros seriam necessários quase 200 anos, uma idade próxima do peixe com maior longevidade hoje (Tubarão-da-Groenlândia) (2). E a realidade é ainda mais dura: enguias vivem apenas algumas décadas e o crescimento desses animais não é linear, desacelerando com o avanço da idade.

Na foto, enguia fêmea da espécie Anguilla anguilla com 1,05 m de comprimento, coletada no Rio Dee, na Escócia. Na década de 1970, uma amostra de A. anguilla foi coletada no Lago Ness com armadilhas de isca. Porém, essa espécie alcança um comprimento máximo de 0,5-1,3 m. Ref.2

Por fim, os autor do estudo também realçou que nadar verticalmente e expor boa parte do corpo para fora da água - como retratado na foto clássica - não é um comportamento característico de enguias. Em termos estatísticos e segundo os resultados do estudo, a "hipótese da enguia gigante" não é plausível.

(2) Para mais informações: Tubarão com 400 anos de idade! Quais os peixes com maior longevidade?

REFERÊNCIAS