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Vacina da Oxford mostrou 70% de eficácia contra a COVID-19


Resultados preliminares de Fase 3 liberados hoje por pesquisadores da Universidade de Oxford, Reino Unido, mostram que a vacina ChAdOx1 nCoV-2019 - desenvolvida pela Oxford em parceria com a empresa de biotecnologia AstraZeneca - possui uma eficácia de 70,4% na proteção contra a COVID-19 (doença causada pelo novo coronavírus, SARS-CoV-2) quando combinado dados de duas doses testadas. Na dose mais baixa (50% da dose completa), a eficácia parece alcançar 90%. Além disso, entre aqueles recebendo a vacina, nenhum caso de hospitalização ou desenvolvimento mais grave de COVID-19 foi observado. Mais de 24 mil voluntários no Brasil, Reino Unido e na África do Sul estão no momento incluídos na Fase 3. Os resultados preliminares foram oriundos da análise de >11 mil voluntários no Reino Unido e aqui no Brasil, onde a vacina está sendo testada em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). 


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A vacina da Oxford - ChAdOx1 nCoV-19 (AZD1222) - é feita a partir de um vírus (ChAdOx1) que foi geneticamente modificado de um adenovírus de resfriado comum em chimpanzés, visando incapacitá-lo de se proliferar em humanos. No entanto, o vírus modificado ainda possui a capacidade de infectar células humanas e entregar o material genético responsável por expressar a proteína Spike (S) associada à estrutura proteica do SARS-CoV-2. Esse material genético foi artificialmente adicionado à estrutura do ChAdOx1 via edição genética.


A proteína S é crucial para a capacidade de infecção do SARS-CoV-2 - com a ajuda do receptor ACE2 (Como a COVID-19 mata?) - nas células humanas, e constitui as famosas coroas na superfície das partículas virais dos coronavírus. A proteína S é o alvo preferencial dos anticorpos humanos. Ao vacinar as pessoas com o ChAdOx1 nCoV-19, os cientistas esperam fazer o corpo reconhecer a proteína S e desenvolver respostas imunes específicas (anti-SARS-CoV-2) que irão ajudar a impedir que o vírus infecte as células humanas, prevenindo infecção e subsequente desenvolvimento da COVID-19.


O adenovírus modificado entra na célula alvo ao se ligar ao receptor de Coxsackie/Adenovírus (CAR). Após se ligar ao CAR, o adenovírus é internalizado via endocitose integrina-medida seguida por transporte ativo para o núcleo, onde o DNA é expresso epissomalmente (sem integração com o cromossomo do hospedeiro), permitindo que o gene da proteína de interesse (no caso, da proteína S) continue sendo expresso e passado adiante durante a replicação celular por um determinado período de tempo sem modificar o genoma do hospedeiro.


Três proteínas S sintetizadas pela célula podem se juntar para formar coroas, que se fixam na membrana celular. Ou a proteína S sintetizada pode ser fragmentada pela célula em pequenos pedaços que acabam também aderidos na membrana externa. Essas proteínas S (parciais ou completas) acabam sendo reconhecidas de diferentes formas por anticorpos e células imunes do nosso corpo, induzindo uma imunidade contra as partículas virais do SARS-CoV-2.


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Testes clínicos de Fases 1/2 mostraram que a vacina é segura e gerou uma forte resposta imune - tanto humoral quanto celular - em todas as faixas de idade, inclusive em idosos com mais de 70 anos - principal grupo de risco. Aliás, em pacientes com idades mais avançadas, a vacina se mostrou mais tolerável em termos de eventos adversos do que em adultos mais jovens. 


A vacina está sendo dada em um regime de duas doses, cada uma delas separadas por 28 dias.Nos resultados preliminares de Fase 3 divulgados hoje, foram analisados 131 casos de COVID-19 reportados entre os participantes. Do total, 30 casos foram identificados naqueles tomando a vacina, e 101 casos foram identificados naqueles tomando uma vacina de placebo (solução salina ou vacina meningocócica conjugada). A eficácia geral (70,4%) é superior àquela observada para vacinas da gripe, e considerada altamente efetiva para a proteção da população. 


Analisando as duas diferentes doses sendo investigadas, a dose completa (5 x 10^10 partículas virais) mostrou 62% de eficácia, enquanto metade dessa dose mostrou 90% de eficácia, e essa última provavelmente será a escolhida para continuar testes mais robustos e vacinar a população - caso os resultados preliminares sejam confirmados. Foram analisadas 2741 pessoas recebendo a dose mais baixa, e 8895 recebendo a dose mais alta. Ainda não se sabe o porquê da dose menor - administrada por acidente - ser a mais efetiva, apenas algumas hipóteses. Segundo os pesquisadores responsáveis pela vacina, o sistema imune pode estar rejeitando a vacina em doses mais altas, ao reconhecer mais prontamente o adenovírus transportador e montar uma forte resposta imune contra esse vetor - especialmente considerando que é um vírus causador de resfriados comuns, já bem conhecido pelo nosso corpo (apesar de ser derivado de chimpanzés). Uma dose mais baixa pode engatilhar uma resposta imune mais amena, permitindo que o vetor viral infecte mais células e, consequentemente, permitindo uma maior produção da proteína S.


Em entrevista para a Nature (Ref.4), Hildegund Ertl, uma imunologista viral do Instituto Wistar na Filadélfia, EUA, afirmou que os resultados fazem sentido com base em alguns trabalhos experimentais dela sobre adenovírus em ratos. Segundo Ertl, doses baixas desse vírus injetadas pela primeira vez em ratos levam a uma melhor proteção imune do que doses mais altas. A pesquisadora acredita que uma primeira menor dose leva, mais rapidamente, ao estabelecimento de memória imune (células T e B) que são ativadas por uma segunda dose de reforço. Esperar mais tempo entre as duas doses também pode resultar no mesmo efeito.


Por outro lado, essa aparente diferença de eficácia pode ser o resultado de limitação estatística. A quantidade de pessoas analisadas em ambos os grupos pode não ter sido grande o suficiente para determinar a real diferença de eficácia entre as duas duas doses. Essa diferença pode desaparecer assim que mais casos de COVID-19 forem detectados. Isso poderia reduzir substancialmente a eficácia global da vacina.


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Apesar do resultado global (70,4%) parecer desapontador em relação aos resultados de eficácia em torno de 95% das vacinas mRNA-baseadas da Pfizer/BioNTech (BNT162b2) e da Moderna (mRNA-1273) liberados na última semana, o nível de proteção conferido pela ChAdOx1 nCoV-19 é mais do que suficiente, e vacinas contra a COVID-19 seriam aprovadas mesmo se mostrassem uma eficácia pouco acima de 50%. Isso sem contar que a vacina da Oxford possui cruciais vantagens em relação às vacinas da Pfizer e da Moderna. Primeiro, não é necessário drásticos resfriamentos para armazená-la (2-8°C), em comparação com 20°C e 70°C negativos da Moderna e da Pfizer, respectivamente. Segundo, o preço da vacina da Oxford é 5-8 vezes menor do que as outras duas, e pode diminuir ainda mais considerando que a dose de 50% é a mais efetiva. Esses fatores são cruciais para a distribuição em países menos desenvolvidos, como o Brasil.


Para mais informações, acesse: 

  • Outra vitória para a Ciência: Vacina da Moderna mostra eficácia de quase 95%
  • Grande Dia para a Ciência: Vacina contra a COVID-19 garantiu mais de 90% de

  • A AstraZeneca afirmou que irá fazer 3 bilhões de doses para o mundo em 2021. Em agosto deste ano, o governo federal Brasileiro afirmou que iria investir R$ 1,9 bilhão para produção de 100 milhões de doses. No começo de novembro, a FioCruz anunciou um cronograma de produção e distribuição do imunizante no Brasil. 


    Os testes clínicos de Fase 3 da vacina continuarão seguindo no Reino Unido, Brasil e África do Sul para a análise final. Outros testes estão sendo conduzidos nos EUA, Quênia, Japão e Índia, e são esperados de englobar até 60 mil voluntários até o final deste ano. Esses testes clínicos fornecerão mais detalhes sobre a eficácia e segurança da ChAdOx1 nCoV-19, incluindo a habilidade da vacina tanto de proteger contra a COVID-19 quanto de parar a transmissão do SARS-CoV-2.


    ATUALIZAÇÃO (20/02/21): Uma análise exploratória incluindo quatro estudos clínicos randomizados de Fase 3, englobando 17178 participantes (>18 anos de idade) oriundos do Reino Unido, África do Sul e Brasil, e publicada no periódico The Lancet (Ref.6), encontrou que a maior eficácia da vacina da Oxford (AZD1222) é obtida com um intervalo de tempo maior entre a primeira e a segunda dose padrão (81,3% para um intervalo de 3 meses contra 55,1% para um intervalo de 6 semanas). Além disso, uma única dose da vacina é altamente eficaz nos primeiros três meses (76% eficácia a partir de 22 dias pós-vacinação).Os pesquisadores também confirmaram que as vacinas reduzem substancialmente a severidade da doença, aumentando o percentual de casos assintomáticos. Nenhuma morte ou hospitalização associada à COVID-19 foi reportada no grupo dos vacinados a partir de 22 dias após a primeira dose, enquanto 15 de um dos dois casos ocorreram no grupo de placebo.


    REFERÊNCIAS

    1. https://www.ox.ac.uk/news/2020-11-23-oxford-university-breakthrough-global-covid-19-vaccine
    2. https://www.bbc.com/news/health-55040635
    3. https://www.sciencemag.org/news/2020/11/another-covid-19-vaccine-success-candidate-may-prevent-further-coronavirus-transmission
    4. https://www.nature.com/articles/d41586-020-03326-w
    5. https://www.cdc.gov/vaccines/covid-19/hcp/viral-vector-vaccine-basics.html
    6. https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(21)00432-3/fulltext

    Vacina da Oxford mostrou 70% de eficácia contra a COVID-19 Vacina da Oxford mostrou 70% de eficácia contra a COVID-19 Reviewed by Saber Atualizado on novembro 23, 2020 Rating: 5

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