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China mostra ao governo Brasileiro como usar os testes RT-PCR no controle epidêmico

 

Segundo denunciou reportagem recente do jornal "O Estado de S. Paulo", o Ministério da Saúde armazena em São Paulo um estoque com 6,86 milhões de testes de COVID-19 (RT-PCR) que podem perder validade até janeiro de 2021. Esses teses estariam estocados em um galpão em Guarulhos, e teriam custado R$ 290 milhões à União. Em meio a quase 170 mil mortes e mais de 6 milhões de casos confirmados de COVID-19 no Brasil, já existe pedido de apuração no Tribunal de Contas da União (TCU) desses testes sem uso e prestes a vencer (1). Esse grave reporte mais uma vez evidencia o descaso do governo com o combate à pandemia.


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Existem basicamente dois tipos de teste usados para determinar se as pessoas foram infectadas pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2): RT-PCR - para saber se o paciente está portando o vírus e fazer o diagnóstico - e o 'teste rápido' - para indicar a resposta imunológica (presença de anticorpos), mostrando quem já foi infectado, mas que não necessariamente porta o vírus. No RT-PCR (sigla em inglês para transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase), fragmentos do material genético do vírus - no caso do SARS-CoV-2, o RNA - são detectados a partir de amostras de secreções coletadas das vias respiratórias, como nasofaringe (nariz) e orofaringe (garganta). 


O exemplo da Coreia do Sul mostra o quão importante é a testagem e o rastreamento de casos via testes de RT-PCR. Os Sul-Coreanos emergiram em meio à pandemia como um sinal de esperança e um modelo a ser seguido. Com 50 milhões de habitantes, o país conseguiu em pouco tempo reduzir drasticamente a taxa de novos casos desde o dia 8-10 de março, após um período de crescimento exponencial dos casos entre 23 de fevereiro e 8 de março. Até o momento, foram pouco mais de 31 mil casos confirmados e 510 mortes registradas.


Por trás do sucesso observado na Coreia do Sul, está até o momento o mais expansivo e mais bem-organizado programa de testes no mundo, combinado com esforços extensivos para isolar pessoas infectadas, rastrear seus contatos e colocar estes em quarentena.


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Nesse mesmo sentido, outro exemplo notável do uso do RT-PCR foi descrito em um artigo publicado no periódico The New England Journal of Medicine (NEJM) (2) sobre um surto na cidade de Qingdao, na China, onde uma rápida resposta do governo Chinês baseada em uma massiva campanha de testagem levou a um rápido e efetivo controle epidêmico na região, esta a qual comporta  mais de 9 milhões de habitantes.


Após um período de 2 meses sem transmissão local do novo coronavírus (SARS-CoV-2) na China, um alarme de surto foi engatilhado no dia 11 de outubro de 2020, quando três casos de COVID-19 foram reportados em Qingdao, uma cidade costeira na Província de Shandong. Autoridades locais iniciaram um agressivo rastreamento de contatos e quarentena de contatos próximos das pessoas com infecção confirmada. Um dos casos inicialmente identificados foi um motorista de táxi que foi testado para o SARS-CoV-2 como parte de um teste (RT-PCR) de rotina antes da admissão ao Hospital Central de Qingdao por causa de um ataque isquêmico transiente no dia 10 de outubro. Sua esposa testou positivo no dia seguinte. Ela havia trabalhado em horário parcial como uma enfermeira assistente no Hospital Pulmonar de Qingdao, uma instalação designada para o tratamento de pessoas com COVID-19. A terceira pessoa nesse grupo de infectados foi um homem com tuberculose pulmonar que foi tratado no mesmo hospital por 1 mês antes do surto, e testado positivo (durante uma consulta de rotina) no dia 11 de outubro.


Como a evidência epidemiológica sugeriu que todos os casos estavam ligados ao Hospital Pulmonar de Qingdao, o hospital imediatamente parou de admitir novos pacientes e de oferecer serviços para pacientes de ambulatório.


A provável fonte do grupo de infectados descrito foi determinada de ser dois trabalhadores no porto da cidade, os quais tinham sido diagnosticados com uma infecção assintomática no dia 24 de setembro. Eles não tinham histórico de viagem ou contato com ninguém confirmado de ter COVID-19, mas ambos podem ter contraído o vírus de trabalhadores de navio ou cargas contaminadas. Como parte do sistema de vigilância da cidade contra a COVID-19, esses trabalhadores portuários haviam testado positivo durante um protocolo de rastreamento regular bi-semanal visando grupos de alto-risco. Com testes positivos, eles haviam sido, então, enviados para o Hospital Pulmonar de Qingdao para uma investigação mais detalhada e tratamento. Apesar de não terem entrado em contato direto com o eventual grupo de infectados, eles compartilharam o mesmo ambiente com esses últimos onde era realizado exames de tomografia computacional (CT).


Nesse sentido, com base em experiências prévias em Wuhan (epicentro inicial da pandemia) e Pequim, uma força de tarefa governamental foi estabelecida em resposta ao surto. Durante o feriado prolongado do Dia Nacional iniciado em 1 de outubro, várias pessoas haviam visitado Qingdao, e os movimentos de motoristas de táxis poderiam ter levado a uma mais ampla transmissão comunitária. A comissão de saúde de Qingdao, portanto, lançou um robusto protocolo de testagem e rastreamento em massa em toda a cidade via testes de RT-PCR.


Profissionais de saúde treinados de hospitais locais, junto com times despachados de outras cidades na Província de Shandong, foram enviados para 4090 locais de testes em Qingdao e áreas suburbanas ao redor. Cada residente foi contactado para testagem. Informações de registro incluíam número de identidade, endereço residencial ou de trabalho, e número de telefone. Swabs (cotonetes longos e estéreis para a coleta de amostra) nasofaríngeos foram obtidos, e amostras foram divididas em alíquotas. Para minimizar o tempo de processamento e preservar recursos, uma estratégia de testagem conjunta (pooled testing) foi utilizada, onde um pequeno conjunto (pool) contendo 3 a 10 amostras (3 para contatos domésticos de pessoas infectadas, 5 para pacientes hospitalizados ou profissionais de saúde, e 10 para membros da comunidade) eram testados de uma só vez; se o conjunto desse positivo, cada amostra era então testada individualmente.


Pelo dia 16 de outubro, um total de 10,9 milhões de pessoas haviam sido testadas, e outros 9 casos relacionados ao grupo inicial de infectados foram identificados usando a testagem conjunta, para um total de 12 casos. Já pelo dia da publicação do reporte no NEJM, todas as testagens haviam sido concluídas, e nenhum caso adicional foi encontrado. O surto foi controlado sem a necessidade de um lockdown (quarentena total). Os moradores da Qingdao foram requeridos de usar máscaras e foram permitidos de se moverem livremente dentro da cidade durante o processo de testagem, mas precisavam ter recebido um resultado negativo antes de usarem o transporte público. Pessoas deixando Qingdao também precisavam ter um resultado negativo de PCR, e a maioria dos outros governos provincianos requereram aos visitantes oriundos de Qingdao uma quarentena de 1 semana e um segundo teste negativo de PCR antes de se moverem livremente. 

  

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Segundo os pesquisadores responsáveis pelo reporte, Dr. Yuhan Xing e Dr. Gary W.K. Wong, da Universidade Chinesa de Hong Kong, Shatin, a testagem de milhões de pessoas em um curto período de tempo é desafiadora e requer efetiva coordenação e execução, junto com a cooperação dos residentes. Para países se aproximando do fim da primeira ou segunda onda pandêmica antes da ampla distribuição de vacinas, planejamento cuidadoso em múltiplos níveis governamentais, especialmente dentro do setor de saúde, facilita o controle coordenado de surtos. Os autores finalizaram apontando que vigilância regular e testagem da população de alto risco de contaminação podem identificar pessoas infectadas antes de amplas transmissões ocorrerem. 


Infelizmente, quase nenhuma coordenação do tipo visando o controle epidêmico da COVID-19 têm sido vista no Brasil, e especialistas já estão apontando o início de uma segunda onda epidêmica no país, quando mal saímos da primeira onda. Em quase todos os estados a taxa de transmissão do SARS-CoV-2 está acima de 1, onde o ideal é um valor inferior a 1; no Paraná e em São Paulo já está em 1,5 e 1,64, respectivamente, e, segundo o Imperial College a média nacional já atinge 1,3 (3). Enquanto isso, o governo Brasileiro está, literalmente, jogando valiosos testes de RT-PCR no lixo. 


Com quase 1,4 bilhão de habitantes na China e representando a origem da pandemia, não foi milagre o pequeno número de casos confirmados (86464) e de mortes registradas (4634) no país, mas real comprometimento do governo em controlar o avanço da epidemia.


(2) Publicação do reporte: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMc2032361


Referências adicionais:

China mostra ao governo Brasileiro como usar os testes RT-PCR no controle epidêmico China mostra ao governo Brasileiro como usar os testes RT-PCR no controle epidêmico Reviewed by Saber Atualizado on novembro 24, 2020 Rating: 5

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