Uso regular de maconha na adolescência está associado com prejuízos no controle cognitivo

Mais um estudo de alerta em relação ao uso indiscriminado e recreativo de maconha por adolescentes foi publicado no Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry (1). Os pesquisadores reportaram que alterações no controle cognitivo - um conjunto de processos pelos quais a mente governa, regula e guia comportamentos, impulsos, e tomada de decisões - são diretamente afetadas pelo consumo de maconha. Essas alterações eram menos intensas em indivíduos que tinham recentemente parado de usar maconha, sugerindo que os efeitos dessa droga são mais robustos em usuários recentes. O estudo também mostrou que alterações maiores e mais persistentes parecem emergir em usuários de maconha mais jovens, quando o cérebro está ainda em processo de desenvolvimento.

- Continua após o anúncio -

O cérebro dos adolescentes se encontra em crucial fase de desenvolvimento, devido à maturação das funções cognitivas, como memória funcional, tomada de decisões, e controle de impulsividade. Portanto, essa é uma fase altamente vulnerável para o neurodesenvolvimento do indivíduo, onde conexões regulatórias entre regiões críticas do córtex e dos circuitos profundos de processamento emocional dentro do cérebro estão sendo estabelecidas.

Nesse sentido, a exposição às substâncias ativas da maconha, em especial os canabinoides, impõe elevado risco de efeitos deletérios ao cérebro de crianças e de adolescentes, já que atuam no crucial sistema regulador endocanabinoide associado a diversas funções cerebrais. De fato, vários estudos vêm mostrando uma crescente associação negativa entre o consumo de maconha na adolescência e prejuízos cognitivos, a maioria deles implicando consequências de longo prazo (que se estendem para a fase adulta, mesmo após cessado o consumo da droga) (2).

----------
(2) Para saber mais, acesse:

Os achados do novo estudo foram baseados em dados de imagem por ressonância magnética funcional (fMRI) adquiridos de 28 adolescentes e jovens adultos (14-23 anos de idade) sob significativo uso de maconha e de 32 indivíduos saudáveis e da mesma faixa de idade sem uso de maconha. Nenhum participante possuía doenças neurológicas. O escaneamento do fMRI ocorreu enquanto os participantes estavam realizando uma Tarefa de Incompatibilidade Espacial Simon, uma tarefa de controle cognitivo que requer a resolução de conflitos cognitivos para respondê-la corretamente.

Comparado com o grupo de controle, os adolescentes e jovens adultos sob significativo uso de maconha mostraram uma ativação reduzida nos circuitos fronto-estriatais que dão suporte ao controle cognitivo e à resolução de conflitos, incluindo o córtex pré-frontal ventromedial, estriato e o tálamo. Os pesquisadores também encontraram uma associação entre o quão cedo o uso regular de maconha é iniciado e a extensão a qual as regiões fronto-estriatais são prejudicadas, sugerindo fortemente que o uso crônico na adolescência pode ter um impacto maior no desenvolvimento dos circuitos neurais dessa parte do cérebro do que em idades mais avançadas.

- Continua após o anúncio -

Uma notável característica do transtorno por uso de substâncias (TUS) é a procura por drogas bem depois dessas drogas não mais serem experienciadas como agradáveis e apesar das consequências adversas associadas a esse comportamento. Distúrbios no controle auto-regulatório é apontado estar envolvido na iniciação e manutenção da procura compulsiva por drogas que caracteriza o TUS. Drogas em geral que afetam esse controle através dos circuitos fronto-estriatais, como a maconha, podem deixar o indivíduo mais suscetível ao vício em substâncias diversas.

(1) Publicação do estudo: JAACAP

Leitura complementar: Fumo e uso recreativo da maconha: lobo sob pele de cordeiro