Maior risco de depressão e de suicídio com o consumo de maconha por adolescentes

Já está bem estabelecido que o uso de maconha está associado com um substancial maior risco de psicoses, mas menos atenção tem sido dada sobre se a maconha está associada com um aumento no risco de transtornos mentais mais comuns, como depressão e ansiedade, especialmente em adolescentes, os quais vêm cada vez mais se tornando usuários recreativos dessa droga e são mais vulneráveis aos efeitos dos componentes ativos da maconha.

Nesse sentido, pesquisadores da Universidade McGill e da Universidade de Oxford realizaram uma revisão sistemática e meta-análise da literatura acadêmica, analisando as melhores evidências científicas oriundas de 23317 indivíduos englobados em 11 estudos internacionais, para avaliarem a associação entre a maconha e transtornos mentais em adolescentes, especificamente depressão, ansiedade e risco de suicídio (tentativa e pensamento  suicida).

Os pesquisadores encontraram que o uso indiscriminado e recreativo de maconha por adolescentes (<18 anos de idade) está associado com um significativo aumento no risco de depressão e suicídio na fase adulta (18-32 anos), mas não com ansiedade. Mesmo na ausência de uma condição de pré-morbidade, o risco continuava maior para o desenvolvimento desses transtornos. Enquanto o aumento de risco individual médio encontrado foi modesto (baixo-moderado), o amplo uso da droga por adolescentes faz a escala de risco muito mais séria. O risco populacional mostrou ser de ~7%, o que é traduzido para mais de 400 mil casos de adolescentes com depressão potencialmente atribuídos à exposição de maconha ao redor do mundo.

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Os canabinoides da maconha, especialmente o THC (delta-9-tetrahidrocanabionol), agem intensamente no sistema endocabinoide do sistema nervoso humano, o qual basicamente controla funções diversas em todo o corpo, e desregulações nesse sistema estão associadas à emergência de transtornos mentais diversos. O autismo está associado a alterações no sistema endocanabinoide e, por isso, derivados da maconha são usados de forma terapêutica no tratamento de sintomas autistas (1).

(1) Pra mais informações, acesse: Maconha é eficaz no tratamento do autismo?

Além disso, no cérebro de crianças e adolescentes, os quais estão ainda em processo de maturação neuronal, o THC e outros canabinoides na maconha podem alterar o neurodesenvolvimento psicológico (sistema límbico e córtex frontal) (2). Infelizmente, a falsa ideia de segurança associada ao consumo de maconha tem levado ao aumento estrondoso no número de adolescentes que usam frequentemente essa droga, principalmente na forma de fumo (o que aumenta ainda mais os riscos de efeitos adversos) (2) .  

(2) Para mais informações, acesse: Fumo e uso recreativo da maconha: Lobo sob pele de cordeiro

Em vista da onda de descriminalização e de legalização da maconha ao redor do mundo, maiores campanhas de conscientização precisam ser promovidas para alertar o público.


Publicação do estudo: JAMA