Cigarros eletrônicos geram várias desregulações moleculares ligadas ao câncer

Os cigarros eletrônicos são dispositivos que visam os fumantes de cigarros tradicionais, auxiliando esses últimos a vencerem o vício através de um método de absorção de nicotina mais seguro. Um estudo recente mostrou que esses dispositivos são quase 2 vezes mais eficientes do que outras terapias baseadas em nicotina (como chicletes de nicotina). Porém, apesar do e-cigarro ser bem menos tóxicos do que o fumo de tabaco, seu uso está longe de ser seguro, especialmente porque envolve o uso de nicotina, e a geração de substâncias cancerígenas e de radicais livres potencialmente danosos ao corpo (1). De fato, diversos estudos nos últimos anos vem apontando maiores riscos de doenças cardiovasculares, danos no trato respiratório e alterações no DNA associados aos e-cigarros.

(1) Para saber mais sobre o assunto, acesse: Os cigarros eletrônicos são realmente seguros?

Agora, um estudo publicado no International Journal of Molecular Sciences mostrou que os usuários de e-cigarros desenvolvem algumas das mesmas mudanças moleculares no tecido oral observadas nos fumantes de cigarros. Esse achado também corrobora um estudo publicado no final de 2018, o qual encontrou que quantidades de compostos cancerígenos assimilados pelo organismo do usuário de cigarros eletrônicos - como o formaldeído - ultrapassa substancialmente os valores considerados seguros (2).

(2) Para saber mais, acesse: Substancial quantidade de cancerígenos fica retida no trato respiratório após uso do cigarro eletrônico

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Os pesquisadores no novo estudo analisaram a expressão de genes e transcritos nas células do tecido oral coletadas de 42 usuários de e-cigarros, 24 usuários de cigarro e 27 pessoas que nunca fumaram ou usaram cigarros eletrônicos. A expressão de genes é o processo pelo qual instruções no nosso DNA são convertidas em um produto funcional, geralmente uma proteína. Certas alterações na expressão genética podem levar ao câncer.

Como mais de 90% dos cânceres relacionados ao fumo do cigarro têm origem do tecido epitelial, e câncer oral está fortemente associado ao fumo, os pesquisadores focaram as análises no tecido epitelial oral dos participantes.

Os resultados mostraram que tanto os usuários de e-cigarro quanto os usuários de cigarro mostravam uma grande quantidade de expressões genéticas anormais (desregulações) em transcritos diversos, incluindo vários genes ligados ao desenvolvimento de câncer. Foram identificados 1726 transcritos desregulados nos fumantes e 1152 transcritos desregulados nos usuários de e-cigarro. Cerca de 26% dos genes desregulados nos usuários de e-cigarros eram idênticos àqueles encontrados nos fumantes. Alguns dos genes desregulados nos usuários de e-cigarro, mas nas nos fumantes, estão também implicados no câncer de pulmão, câncer do esôfago, câncer de bexiga, câncer de ovário e leucemia.

Agora, os pesquisadores querem realizar os mesmos testes e análises clínicas em um grupo maior de voluntários e explorar os mecanismos de desregulação genética associados.

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O novo estudo é mais um dos inúmeros alertas sobre a falsa noção de segurança que as pessoas têm sobre os cigarros eletrônicos. Muitos vendedores estão também promovendo esses produtos como totalmente seguros. Aliás, várias pessoas até mesmo acreditam que o vapor ali sendo gerado é 'água'! Isso está fazendo o uso dos cigarros eletrônicos e o vício de nicotina dispararem em vários países do mundo, especialmente nos EUA, onde o FDA (Agência Norte-Americana de Alimentos e Drogas) declarou uma epidemia desses dispositivos entre os adolescentes (1).

De fato, ao redor do mundo, o número de adolescentes usando e-cigarros já ultrapassou o fumo de cigarro, e existe evidência de que o uso desses dispositivos, ao viciarem o jovem usuário em nicotina, pode levar ao futuro vício em cigarro.

Publicação do estudo: IJMS