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Genética parece ajudar a determinar se uma pessoa será vegetariana ou não, aponta estudo


Um estilo de vida vegetariano é seguido por parte significativa da população por motivos diversos, desde religiosos até ambientais. Porém, nem todos conseguem seguir esse tipo de dieta, enquanto outros encontram maior facilidade nesse sentido. Existe substancial acúmulo de evidências apontando alguma extensão de hereditariedade nas escolhas alimentares. Um estudo publicado recentemente no periódico PLOS ONE (Ref.1) encontrou evidência de que certas variantes em genes envolvidos no metabolismo de lipídios e na função cerebral estão associados com a escolha de uma dieta vegetariana. Analisando mais de 330 genomas selecionados de um amplo conjunto de dados genômicos, pesquisadores da Northwestern University revelaram 34 genes potencialmente envolvidos no vegetarianismo.


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Em termos gerais, vegetarianos são pessoas que não comem animais ou carne de qualquer animal, incluindo peixes e "frutos do mar" (ex.: crustáceos). Mas pessoas vegetarianas podem ter diferentes padrões de dieta, incluindo:


- veganos, que não comem animais ou quaisquer produtos derivados de animais, como ovos, laticínios e gelatina;


- vegetarianos lacto-ovos, que não comem carne ou qualquer animal, mas comem ovos e laticínios (leite, queijo, etc.);


- vegetarianos toleráveis ao ovo, que não comem carne ou qualquer animal, mas consomem ovos de diferentes animais.


- vegetarianos toleráveis aos laticínios, que não comem carne ou qualquer animal, mas consomem leite, queijos, iogurtes e outros produtos derivados do leite de diferentes mamíferos.


- vegetarianos parciais, que evitam carne vermelha, mas comem peixes (pesco-vegetarianos) ou carne de galinha. 


Abstenção do consumo de carne tem sido advogado por milhares de anos por razões religiosas, éticas, ambientais (1) e/ou relacionadas à saúde. Tradições religiosas que desencorajam o consumo de carne incluem o Hinduísmo e o Budismo. Na Grécia Antiga, vegetarianismo era praticado tão cedo quanto no século VI b.C. pelos seguidores de Pitágoras e Orfismo. Durante os períodos da Renascença e do Iluminismo, várias personalidades proeminentes na Europa praticaram vegetarianismo, e sociedades vegetarianas começaram a se estabelecer na Europa e na América no século XIX.  


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(1) OBSERVAÇÃO: De fato, redução na criação de animais vertebrados para o consumo de carne traz importantes benefícios ao meio ambiente, em especial redução dramática no gasto de água e nas emissões de gases estufas. Porém, insetos comestíveis potencialmente representam uma opção ambientalmente mais amigável relativo ao cultivo de plantas para a produção de proteínas. Para mais informações: Insetos Comestíveis: Solução para um mundo mais sustentável? 

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Enquanto considerações religiosas e éticas foram, e em uma grande extensão ainda são, grandes motivadores por trás da adoção de uma dieta vegetariana, estudos recentes têm fornecido evidência dos potenciais benefícios dessa prática alimentar (incluindo amplo consumo de frutas, verduras, legumes, cereais, grãos, etc.), como menor risco de síndrome metabólica, obesidade, dislipidemias, diabetes, doenças cardiovasculares e alguns cânceres. Por outro lado, existe evidência de que dietas vegetarianas podem levar a deficiências nutricionais e podem estar associadas com efeitos negativos, como anemia, erosão dental, osteopenia e transtornos psicológicos (2). Existe especial preocupação quando a dieta vegetariana apenas se preocupa em remover a carne dos hábitos alimentares, sem a pessoa se preocupar com os aspectos quantitativos e qualitativos dos outros alimentos incluídos na alimentação diária (Ref.4).


Sugestão de leitura: 


Apesar da popularidade crescente do vegetarianismo, os vegetarianos continuam representando uma pequena minoria na população ao redor do mundo. Por exemplo, nos EUA, vegetarianos respondem por aproximadamente 3-4% da população. No Reino Unido, 2,3% dos adultos e 1,9% das crianças eram vegetarianos em 2014. E o verdadeiro número de vegetarianos estritos é provavelmente muito menor, à medida que uma grande parcela (aproximadamente 48-64%) dos autoidentificados vegetarianos reportam consumir peixe, galinha e/ou carne vermelha. Isso sugere que o desejo de aderência a uma dieta vegetariana é superado por limitações ambientais e/ou biológicas e levanta a questão se todos os humanos modernos são capazes de sobreviver e suportar uma dieta vegetariana estrita de longo prazo.


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> Relevante apontar que humanos (Homo) são carnívoros, e os humanos modernos (H. sapiens) são ainda essencialmente carnívoros, apesar de exibirmos várias adaptações para uma dieta mais flexível - e tradicionalmente sermos classificados como onívoros. Leitura recomendada: Humanos foram hipercarnívoros durante a maior parte da nossa linhagem evolutiva

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No novo estudo, os pesquisadores analisaram dados genéticos e de alimentação disponibilizados no UK Biobank, um projeto-estudo prospectivo de grande porte incluindo aproximadamente 500 mil indivíduos do Reino Unido com idades entre 40 e 69 anos no recrutamento e um extenso conjunto de dados genéticos, fenotípicos e hábitos de vida dos participantes (ex.: dieta). Após análise e triagem inicial, os pesquisadores compararam genomas entre 5324 vegetarianos estritos (indivíduos que reportaram não consumir qualquer tipo de carne) e 329455 indivíduos que não seguiam uma dieta vegetariana. Eles identificaram variantes (alelos) de genes que possuem importantes funções no metabolismo de lipídio e na função cerebral, levantando a possibilidade de que diferença em como o corpo processa lipídios e os efeitos resultantes no cérebro podem explicar diferenças na adaptabilidade e aderência a dietas vegetarianas.


Entre 34 genes identificados com possíveis papeis determinantes na escolha e na adaptação ao vegetarianismo, 11 deles exibiram uma significativa associação nesse sentido. E desses 11 genes, 3 (RIOK3, RMC1 e NPC1) mostraram estar particularmente associados com a dieta vegetariana, incluindo suporte de estudos prévios investigando fatores genéticos ligados ao vegetarianismo. 


Os mecanismos pelos quais variantes genéticas influenciam escolhas alimentares envolvem uma interação dinâmica entre metabolismo, efeitos fisiológicos e percepção de gosto. O nível de apreciação e consumo de itens alimentares diversos é influenciado pelo paladar. No entanto, a percepção gustativa de um item particular na dieta pode ser fortemente influenciada pelos seus efeitos fisiológicos, os quais por sua vez são ditados pelo metabolismo da pessoa. Por exemplo, enquanto a percepção de amargor impacta os níveis de consumo de cafeína, existe evidência de que taxas geneticamente determinadas de metabolismo da cafeína - que determinam os efeitos fisiológicos dessa substância (3) - influenciam tanto na percepção do gosto amargo quanto no nível de consumo da cafeína, de tal modo que um baixo nível de metabolismo de cafeína está associado com uma maior sensibilidade ao amargo e a um menor nível de consumo de café e vice-versa. De forma similar, o consumo alcoólico é fortemente afetado pelas diferenças genéticas em enzimas envolvidas no metabolismo de etanol (4).


Para mais informações: 


É, portanto, possível que escolher entre uma dieta vegetariana e uma dieta não-vegetariana pode também ser ditado pelas diferenças individuais tanto no metabolismo quanto nas preferências gustativas. Existe evidência prévia de que diferenças no metabolismo de lipídios entre vegetarianos e não-vegetarianos representam uma adaptação à dieta vegetariana. Ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa são componentes de fosfolipídios na membrana celular que atuam de forma muito importante na transdução de sinais entre as células; esses lipídios são obtidos de alimentos derivados de animais (ex.: carne) ou sintetizados de forma endógena através de um caminho que envolve as enzimas desaturases de ácido graxo FADS1 e FADS2. Uma inserção no gene FADS2 que aumenta a síntese endógena desses lipídios já foi apontada de ter sido selecionada positivamente em populações de vegetarianos.


Aliás, os genes NPC1 e RMC1 também atuam no metabolismo de lipídios. A proteína NPC1 media o tráfico intracelular de colesterol e glicolipídios, enquanto a proteína RMC1 é necessária para a entrada celular de colesterol-LDL, e exportação NPC1-dependente de colesterol lisossômico. E vários genes identificados no novo estudo, incluindo TMEM241, NPC1, RMC1, RIOK3, VRK2, e TMEM132D, estão associados com marcadores de metabolismo de lipídios e obesidade como níveis de triglicerídios, níveis de colesteróis LDL e HDL, IMC (índice de massa corporal), circunferência abdominal, gordura corporal, entre outros. Muitos desses genes estão também associados com funções cerebrais, incluindo desenvolvimento de várias doenças como Alzheimar, epilepsia, depressão, anorexia nervosa, doença de Niemann-Pick, entre outras.


Essas evidências, somadas com o perfil lipídico bem distinto entre plantas e animais, suportam a hipótese de que fatores genéticos podem facilitar a aderência a dietas vegetarianas. Aliás, podem ajudar a esclarecer por que o vegetarianismo mantido a longo prazo e transtornos alimentares são muito mais comuns entre indivíduos do sexo feminino do que naqueles do sexo masculino.


Mais estudos, incluindo estudos clínicos randomizados, serão necessários para melhor esclarecer a questão e distinguir reais fatores causais. 



REFERÊNCIA

  1. Yaseen et al. (2023) Genetics of vegetarianism: A genome-wide association study. PLoS ONE 18(10): e0291305. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0291305
  2. https://www.health.harvard.edu/staying-healthy/becoming-a-vegetarian
  3. https://www.mdpi.com/2072-6643/15/8/1847
Genética parece ajudar a determinar se uma pessoa será vegetariana ou não, aponta estudo Genética parece ajudar a determinar se uma pessoa será vegetariana ou não, aponta estudo Reviewed by Saber Atualizado on outubro 09, 2023 Rating: 5

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