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Dengue está ficando cada vez mais comum na Europa: alerta das mudanças climáticas

Figura 1. Mosquito Aedes aegypti, um dos principais vetores da dengue.


- Atualizado no dia 3 de novembro de 2023 - 


Em um reporte recente no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica & Doenças infecciosas (ECCMID 2023), em Copenhagen, Dinamarca, médicos no Reino Unido e na França detalharam o caso de uma mulher Britânica que foi infectada pelo vírus da dengue enquanto estava visitando uma família próximo de Nice, no sul da França (Ref.1). O relato de caso é parte de um surto confirmado nessa região, reforçando o alerta que as mudanças climáticas estão aumentando o alcance do mosquitos vetores de doenças tropicais (ex.: malária e dengue) para o norte do mundo, onde pessoas não possuem perfis genéticos e imunológicos de resistência. E não apena a França está sendo afetada: este ano, uma combinação de um verão mais quente e um maior número de casos importados pós-COVID-19 estão causando surtos também na Itália (Ref.4). 


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Dengue é uma doença infecciosa causada pelo vírus DENV, pertencente à família Flaviridae, e o qual é transmitido através de mosquitos do gênero Aedes (ex.: Aedes aegypti). O vírus DENV possui RNA como material genético (11 kb e codificando três proteínas estruturais) e é classificado em quatro diferentes serotipos (DENV-I, DENV-II, DENV-III, DENV-IV). A infecção pela dengue pode ser febril (Febre da Dengue) e também pode levar à condição conhecida como Dengue Hemorrágica (ou Síndrome do Choque da Dengue) no caso de infecção secundária com diferentes serotipos do vírus (1). Os sintomas da condição febril são leves enquanto aqueles da dengue hemorrágica são severos e podem ser fatais. A doença é prevalente em vários países da Ásia, África e América, sendo estimado anualmente ~50-100 milhões de casos envolvendo febre da dengue e ~0,2-0,5 milhão de casos de dengue hemorrágica, e com uma taxa total de mortes de 2,5% (Ref.2). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 2,5 bilhões de pessoas estão sob risco da doença, um número de pode aumentar de forma robusta nas próximas décadas devido ao processo de aquecimento global antropogênico - alerta aliás realçado pelo painel do IPCC em 2022 (2).


Para mais informações:


No relato de caso apresentado na ECCMID 2023, uma mulher de 44 anos de idade apresentou-se ao departamento de emergência de um hospital no Reino Unido seguindo um histórico de 3 dias com febre, dor atrás dos olhos, dor muscular e manchas vermelhas (eritematosas) pelo corpo. A paciente não possuía condições médicas previamente diagnosticadas. Ela havia retornado do sul da França no dia antes dos sintomas começarem e não tinha viajado para qualquer outro país. A paciente tinha ficado com a família e todos os membros familiares também apresentavam os mesmos sintomas.


Uma amostra clínica foi enviada de forma urgente para Laboratório de Raros Patógenos Importados (RIPL) do Reino Unido e confirmou que a paciente estava com uma infecção aguda pelo vírus da dengue. Como se tratava da febre da dengue, ela acabou não precisando de nenhum tratamento médico e foi monitorada de forma ambulatorial.


"Essa paciente é parte de um surto envolvendo mais de 30 casos localmente transmitidos no sul da França em 2022, o que alerta para a rápida mudança epidemiológica da dengue," disse no congresso um dos autores do relato de caso, Dr. Owain Donnelly, do Hospital para Doenças Tropicais, em Londres. "Vigilância e mecanismos de reporte são importantes para assegurar um acurado entendimento da disseminação da dengue."


Dr. Owain adicionou: "Com as mudanças climáticas, particularmente temperaturas mais quentes e mais chuvas, e aumento do comércio global e turismo, nós podemos ver mais partes da Europa com a combinação certa de fatores para surtos de dengue."


Casos de dengue no Reino Unido envolvem tipicamente viajantes que visitaram a Ásia, América do Sul e África. Enquanto que um estimado de 75% dos casos são assintomáticos e podem passar despercebidos - dificultando a identificação de um surto inicial -, uma pequena proporção (1-5%) dos pacientes podem desenvolver a forma hemorrágica. O vírus é transmitido pelas fêmeas das espécies A. aegypti e A. albopictus, estas as quais, historicamente, habitam regiões tropicais e subtropicais (Fig.2). No cenário de mudanças climáticas já tornando mais altas latitudes cada vez mais convidativas a esses vetores, o mosquito A. albopictus tem sido identificado ao longo do sul da Europa.


Figura 2. O Aedes aegypti possui ampla distribuição global, especialmente nos ambientes tropicais e subtropicais, e é próximo associado com áreas urbanas e áreas com distúrbios ambientais. Em contraste, o Aedes albopictus apresenta uma maior expansão geográfica, colonizando todos os cinco continentes em alguma extensão. Ambas as espécies são consideradas sérias ameaças por transmitirem três vírus de importância médica: DENV, Zika (ZIKV) e chikungunya (CHIKV). Ref.3


Entre junho e setembro de 2022, a Agência Regional de Santé (ARS) na França reportou três surtos independentes de transmissão nativa da dengue, ou seja, infecções contraídas no território nacional sem que os pacientes tivessem viajado para outros países (endêmicos ou não). A transmissão do vírus ocorre exclusivamente através da picada pelos mosquitos vetores e não se espalha diretamente de pessoa para pessoa.


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Autoridades Britânicas já detectaram o mosquito A. albopictus nos portos do Reino Unido múltiplas vezes nos últimos anos, mas nenhuma população desse inseto se estabeleceu no país/bloco até o momento.


"Para assegurar um acurado diagnóstico, médicos deveriam considerar testagem para dengue se os pacientes vivem em ou visitaram países onde o Aedes albopictus é encontrado, e apresentarem a típica constelação de sintomas, mesmo se a doença não esteja disseminada," disse Dr. Owain no congresso. "Fazer o correto diagnóstico não apenas possui um impacto nos pacientes, mas também permite um melhor entendimento da distribuição da dengue e a adoção de passos apropriados para controlar surtos." 


REFERÊNCIAS

  1. Abstract LB087 at the European Congress of Clinical Microbiology & Infectious Diseases (ECCMID), 2023. Link de referência
  2. Khattak et al. (2023). Carga e distribuição geral de infecção por dengue no Paquistão entre 2000 e 2019: uma revisão. Brazilian Journal of Biology, 84. https://doi.org/10.1590/1519-6984.267982
  3. Gómez et al. (2022). "Aedes aegypti and Ae. albopictus microbiome/virome: new strategies for controlling arboviral transmission?". Parasites Vectors 15, 287. https://doi.org/10.1186/s13071-022-05401-9
  4. https://www.nature.com/articles/d41586-023-03407-6
Dengue está ficando cada vez mais comum na Europa: alerta das mudanças climáticas Dengue está ficando cada vez mais comum na Europa: alerta das mudanças climáticas Reviewed by Saber Atualizado on abril 19, 2023 Rating: 5

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