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Novas evidências de que os anticorpos da dengue engatilham graves condições de saúde



Proposta há mais de 40 anos, a amplificação dependente de anticorpos (ADA) caracteriza uma inesperada parceria entre um patógeno e um anticorpo que supostamente deveria combatê-lo. Nesse caso, o mecanismo veio para explicar como o vírus da dengue estaria fazendo uma infecção mais severa ao "pegar carona" em anticorpos de uma infecção anterior. Apesar dessa ideia ter sempre enfrentado forte resistência cética entre os cientistas, um novo estudo trouxe fortes evidências de que o ADA é real.

O vírus da dengue (DENV), espalhada por mosquitos como o Aedes aegypti, infecta mais de 390 milhões de pessoas ao redor do mundo todos os anos, sendo bem conhecida aqui no Brasil e atingindo principalmente as áreas tropicais do mundo. O vírus da doença possui quatro 'serotipos', cada um deles ativando uma resposta imune única. Alguém infectado pela primeira vez com qualquer um desses serotipos geralmente desenvolverá um quadro mais ameno da doença, causando febre e dores musculares, mas sem requerer hospitalização. Porém, se esse indivíduo se torna infectado com um segundo serotipo mais tarde, terá um maior risco de contrair a dengue hemorrágica, quadro mais grave da doença e que pode envolver massiva perda de fluídos, falhas de órgãos, danos neurológicos e morte.

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Muitos já devem ter ouvido falar sobre isso, ou seja, de que pegar a dengue pela segunda vez aumenta os riscos para o desenvolvimento de uma dengue hemorrágica. O que é uma dúvida no meio científico nesse contexto está relacionado a qual mecanismo é responsável por esse fenômeno. E é nesse cenário que entra o ADA. Enquanto os defensores desse mecanismo patogênico culpam anticorpos pré-existentes, outros acreditam que quem está envolvido são as células-T, imunidade inata e até mesmo genética.

A hipótese ADA basicamente é sustentada pelo fato de que um anticorpo para o primeiro serotipo da dengue pode se ligar ao vírus, mas não forte o suficiente para neutralizá-lo. Assim, essa complexo vírus-anticorpo formado entraria mais facilmente nas células hospedeiras, permitindo ao vírus fazer mais cópias de si mesmo em níveis bem mais altos do que o normal. Essa infecção intensificada leva a um caos no sistema imune a partir da contínua produção de mensageiros químicos chamados citocinas, subsequentemente aumentando as chances de vazamento nos vasos sanguíneos e causando hemorragias e choque.


Ainda de acordo com a hipótese, o ADA nem sempre ocorre quando uma pessoa é infectada com um serotipo adicional, já que o mecanismo é complexo e requer uma mistura de anticorpos na medida certa. Exposição ao vírus da dengue ativa a produção de vários anticorpos ligantes e neutralizadores, mas se forem produzidos poucos daqueles necessários para a parceria vírus-anticorpo, o efeito não será perceptível. Já se forem produzidos muitos, no geral, a parceria pode ser facilmente destruída. O ADA requer algo intermediário.

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Até agora apenas estudos limitados com animais pareciam dar suporte a essa hipótese, mas um novo estudo, analisando crianças em Nicarágua, veio para dar firmes bases para o ADA. Os pesquisadores investigaram mais de 8 mil crianças entre as idades de 2 e 14 anos em Manágua, coletando informações dos anticorpos associados à dengue em seus corpos repetidas vezes por um período de 12 anos. Mais de 600 crianças nesse bolo vieram com sintomas da dengue e 44 delas desenvolveram o quadro hemorrágico.

Com os dados de 41302 amostras de sangue obtidas no decorrer do estudo, os pesquisadores encontraram que uma criança carregando um nível intermediário de anticorpos, e se tornava infectada de novo, tinha 7,64 vezes mais chance de estar no pequeno grupo daqueles com dengue hemorrágica. Isso garante muitos pontos a favor do ADA.

Por outro lado, outros pesquisadores não envolvidos no estudo alertam que, mesmo com resultados a longo prazo e envolvendo um considerável grupo de controle, os responsáveis pelas análises não distinguiram entre os níveis de anticorpos ligantes e neutralizadores - ou mesmo os diferentes serotipos da doença -, pegando somente níveis gerais de anticorpos para extrapolar conclusões. Até mesmo o criador da hipótese, Scott Halstead da Uniformed Services University of the Health Sciences, em Bethesda, Maryland, não acredita que os novos achados fornecem provas definitivas para o ADA.

De qualquer forma, mesmo se a hipótese vier a ser provada real, ainda permanece a dúvida de como ela poderá ser usada na prática para ajudar a combater a dengue. Vacinas, talvez, poderiam ser otimizadas, para que os níveis de anticorpos produzidos ficassem em uma zona segura para aqueles vivendo em áreas com alta presença de dengue. Aliás, a OMS (Organização Mundial de Saúde) já recomenda que as vacinas contra a doença sejam dadas apenas para crianças acima de 9 anos e em áreas de alto risco.

Referência:
1. http://www.sciencemag.org/news/2017/11/dengue-antibodies-might-trigger-life-threatening-infections
2. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X2015000800698
3. https://www.nature.com/scitable/content/model-of-antibody-dependent-enhancement-of-dengue-22403433
Novas evidências de que os anticorpos da dengue engatilham graves condições de saúde Novas evidências de que os anticorpos da dengue engatilham graves condições de saúde Reviewed by Saber Atualizado on novembro 08, 2017 Rating: 5

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