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Não é mito: Cranberry realmente ajuda a prevenir infecções do trato urinário, conclui revisão Cochrane

 

Infecções do trato urinário (ITUs) são um importante problema de saúde pública, afetando mais de 150 milhões de pessoas ao redor do mundo, especialmente indivíduos do sexo feminino (~80% dos casos). Enquanto a maioria dos afetados experienciam ITUs sem complicações e sem febre, algumas pessoas experienciam episódios recorrentes, resultando em significativo impacto negativo na qualidade de vida. Cerca de 60% das mulheres com 18 anos de idade ou mais sofrerão uma ou mais ITUs, e sintomas incluem disúria (dor ao urinar), urgência e maior frequência de urina, e, ocasionalmente, hematúria (sangue na urina). Cerca de 30% das mulheres podem ter ITUs recorrentes, com uma média de dois a três episódios por ano. 


Os tipos e as causas de ITUs são diversos, podendo envolver tanto o trato urinário baixo (uretra e bexiga) quanto o superior (ureteres e rins) ou ainda ambos. A infecção geralmente é causada por bactérias, porém infecções por fungos, vírus e parasitas também podem ocorrer. Dentre todos os casos, a cistite, a infecção na bexiga, é considerada a mais comum e o principal agente etiológico é a bactéria Escherichia coli uropatogênica, com prevalência entre 60% a 90% dos casos de ITUs. 


Uma das formas de reduzir o risco de ITUs recorrentes é aumentar o consumo de água (1). Outra forma de prevenção frequentemente usada sob prescrição e orientação médica é o uso de antibióticos de baixa dose, porém essa via está associada com significativos efeitos colaterais (ex.: diarreias e danos no microbioma intestinal) assim como evolução de perigosa resistência bacteriana.


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(1) Para mais informações sobre ITUs, causas, fatores de risco e formas de prevenção, sugestão de leitura: Como prevenir infecções urinárias recorrentes?

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Agora, em um robusto estudo de revisão sistemática Cochrane (Ref.1), pesquisadores encontraram que o consumo de cranberry é efetivo para prevenir ITUs. Analisando 50 estudos clínicos randomizados controlados envolvendo 8857 participantes, os pesquisadores encontraram que o suco de cranberry e suplementos derivados (ex.: cápsulas com o extrato desidratado) reduzem o risco de ITUs sintomáticas repetitivas nas mulheres adultas em >25%, em crianças >50% e, em pessoas suscetíveis a uma ITU seguindo intervenções médicas, em cerca de 53%. Os resultados do estudo corroboram também uma revisão sistemática e meta-análise publicada no final de 2022 no periódico Journal of Herbal Medicine (Ref.2), a qual encontrou que produtos de cranberry reduzem o risco de ITU em 21% em mulheres comparado com placebo. Esses estudos analisaram em específico a espécie de cranberry Vaccinium macrocarpon. 


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Cranberry tipicamente faz referência a uma variedade de pequenas frutas vermelhas nativas dos Estados Unidos, Canadá e Europa pertencentes ao subgênero Oxycoccus e gênero Vaccinium. Na América do Norte, cranberry faz referência comum à espécie nativa Vaccinium macrocarpon - em contraste, por exemplo, com a espécie nativa Vaccinium oxycoccos no Reino Unido. Aqui no Brasil, a espécie V. macrocarpon é referida como cranberry ou pelo seu nome mais popular oxicoco. A fruta é constituída de quase 90% de água, mas também contém vários nutrientes e outras substâncias orgânicas como ácido quínico, ácido málico, polifenóis, flavonoides ácido cítrico, glicose e frutose.


De especial interesse, o cranberry é rico em proantocianidinas (PAC) do tipo A, um tipo de composto fenólico da classe dos flavan-3-óis. Estudos científicos apontam que a PAC ajuda na prevenção de ITU, principalmente, em mulheres com histórico de recorrências, pois a substância interfere na aderência da E. coli às células que revestem o trato urinário e a bexiga, aumentando a probabilidade de serem eliminadas durante a micção, prevenindo assim a colonização bacteriana. Como a ação antibacteriana é "mecânica" e não "bactericida", o PAC não induz resistência bacteriana. Porém, diferentes métodos de processamento da fruta podem reduzir substancialmente o nível de PAC no produto final. Efetiva atividade antiaderente dessa substância contra bactérias é encontrada em doses de 36 mg a 72 mg - com maior concentração oferecendo eficácia mais prolongada.


Como a atividade antiaderente é reduzida ao longo do tempo, é recomendado que produtos de cranberry sejam consumidos pela manhã e pela noite. Devido ao forte e azedo gosto da fruta, cranberry é raramente ingerido cru, sendo comumente consumido em sucos diluídos e adoçados e/ou misturado com outras frutas. Esse é também o motivo para muitos preferirem o consumo de cápsulas, tabletes e outras formas de suplementação com o extrato desidratado da fruta.


Por muito tempo o consumo de cranberry têm sido associado com benefícios para quadros de ITUs, algo que provavelmente teve início séculos atrás a partir da cultura de Nativos Americanos, estes os quais usam essa fruta justamente para o tratamento de ITUs e de outras doenças. Porém, estudos clínicos e de revisão nas últimas décadas têm gerado resultados conflitantes quanto ao uso profilático dessa fruta contra ITUs.


O novo estudo de revisão Cochrane traz forte e aparentemente conclusiva evidência suportando benefícios do cranberry na prevenção de ITUs. Mas é válido realçar que o estudo não encontrou benefício profilático para idosos, grávidas e adultos com disfunção neuromuscular da bexiga e esvaziamento incompleto da bexiga - na verdade, estudos clínicos de suporte analisados para esses grupos eram de pequeno porte e limitados, tornando incerta qualquer conclusão. 


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> No Brasil há limitações para o uso de produtos de cranberry, uma vez que sua oferta não é abundante e o seu custo para uso no tratamento ou prevenção é inacessível para a maior parte da população. A principal causa é o fato de não ter produtores nacionais por não ser uma planta nativa do nosso país e a única forma de obtenção é via importação, sendo os países da América do Norte os detentores da maior parte da produção mundial do cranberry (Ref.3).

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REFERÊNCIAS

  1. Hodson et al. (2023). Cranberries for preventing urinary tract infections. Cochrane Library. https://doi.org/10.1002/14651858.CD001321.pub6 
  2. Galante et al. (2022). Cranberry (Vaccinium macrocarpon) as a prophylaxis for urinary tract infections in women: A systematic review with meta-analysis. Journal of Herbal Medicine, Volume 36, 100602. https://doi.org/10.1016/j.hermed.2022.100602
  3. LEE, J. J. H. Cranberry no tratamento de infecção urinária e possiblidades no Brasil. 2019. no. f.35 Trabalho de Conclusão de Curso de Farmácia-Bioquímica – Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.
  4. https://erurj.journals.ekb.eg/article_283245.html

Não é mito: Cranberry realmente ajuda a prevenir infecções do trato urinário, conclui revisão Cochrane Não é mito: Cranberry realmente ajuda a prevenir infecções do trato urinário, conclui revisão Cochrane Reviewed by Saber Atualizado on abril 20, 2023 Rating: 5

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