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Três estudos reforçam a transgeneridade como fruto de fatores biológicos


Fatores biológicos, culturais, sociais e psicológicos atuam em variáveis extensões para a expressão, atividade e a identidade de gênero. Em específico, a identidade de gênero - um senso interno e inerente do indivíduo em se identificar ou não com um sexo biológico (masculino ou feminino) inserido em uma determinada sociedade - está fortemente ligada a fatores genéticos, epigenéticos e hormonal-uterinos, os quais parecem alterar de forma significativa a estrutura e a conectividade cerebrais. Evidências científicas vêm se acumulando nos últimos anos nesse sentido, e os dados mostram claramente que os mosaicos cerebrais de regiões feminizadas e masculinizadas, cromossomos sexuais e os fenótipos corporais podem ser dissociados uns dos outros (!). 


(!) Leitura recomendadaO que é a tal da Ideologia de Gênero?


Corroborando esse cenário, já suportado por substancial acúmulo de evidências científicas, mais três estudos foram recentemente publicados reforçando a atuação de fatores genéticos e neurobiológicos na determinação da identidade de gênero, especialmente para a manifestação da incongruência de gênero, onde a separação entre identidade de gênero e sexo biológico é mais notável. 


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RECEPTORES DE ESTRÓGENO


A identidade de gênero engloba duas classificações gerais: cisgênero e transgênero, ambas as quais incluem diferentes variações. Cisgênero é usado para se referir à identidade de gênero que corresponde ao sexo biológico da pessoa, enquanto transgênero se refere à identidade de gênero que difere do sexo biológico da pessoa. A incongruência de gênero - ou disforia de gênero - é caracterizada por uma marcante incongruência entre o gênero experienciado e o sexo biológico, trazendo significativo estresse clínico ou prejuízos sociais, ocupacionais e em outras áreas de importância funcional ao indivíduo transgênero afetado.


A origem da incongruência de gênero parece ser multifatorial. Nesse sentido, a condição pode estar associada com processos de neurodesenvolvimento do cérebro associados à influência de testosterona convertida em estradiol no cérebro pela ação da aromatase, durante um crítico período de desenvolvimento uterino. Portanto, em mamíferos, diferenças sexuais no cérebro adulto são estabelecidas muito cedo no desenvolvimento, quanto o cérebro está muito imaturo. Por causa da ação do gene Sry na embriogênese -, estradiol derivado de testosterona age no cérebro ao se ligar a receptores intracelulares estrogênicos localizados predominantemente em neurônios, masculinizando regiões específicas do cérebro (!).


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Nesse processo, para o receptor estrogênico (ER) o ligante é estrógeno, particularmente o 17β-Estradiol (E2). O E2 exerce uma ampla variedade de efeitos sobre o crescimento, desenvolvimento, funções dos sistemas reprodutivos e regulação no sistema nervoso central. Nos mecanismos de ligação entre ERs e E2, estão envolvidas proteínas co-ativadoras e de co-regulação. 



Entre as proteínas co-ativadoras estão os co-ativadores do receptor de esteroide (SRCs) que consistem de três membros relacionados: SRC-1, SRC-2 e SRC-3. O papel dos SRCs é crucial na expressão de genes ER-mediados. Estrógenos são produzidos em várias regiões do cérebro, incluindo o hipocampo, córtex, cerebelo, hipotálamo e a amígdala. As ações do estradiol no desenvolvimento cerebral são geralmente permanentes e variam do estabelecimento de diferenças sexuais (dimorfismo cerebral) até efeitos tróficos e neuroprotetores generalizados. 


Dada a importância dos estrógenos no dimorfismo cerebral durante o desenvolvimento uterino, e o papel crítico de co-ativadores nas regulações transcricionais de genes induzidos pelo E2 e com base em evidências genéticas prévias associadas à manifestação da transgeneridade, um estudo publicado no periódico Sexual Medicine (Ref.1) resolveu analisar comparativamente 157 polimorfismos (variações na sequência de DNA) associados aos co-ativadores SRC-1, SRC-2 e SRC-3 em indivíduos transgêneros e em indivíduos cisgêneros.


Para a análise, foram englobados 94 pessoas transgêneras (47 homens trans e 47 mulheres trans) e 94 pessoas cisgêneras (44 homens cis e 50 mulheres cis). Todos os transgêneros reportaram manifestar a não-conformidade de gênero na infância ou na puberdade, e mostravam significativa manifestação de incongruência de gênero. Todos os transgêneros reportaram possuir uma orientação sexual de atração pelo mesmo sexo biológico. Nenhum deles possuía transtornos psiquiátricos observados ou diagnosticados, não possuíam histórico de abuso alcoólico ou de outras drogas, e não possuíam anomalias no desenvolvimento sexual e outras desordens neurológicas e hormonais. Os cisgêneros no grupo comparativo foram escolhidos de forma a corresponder ao mesmo perfil do grupo transgênero. O estudo foi conduzido na Espanha.


Através de uma análise genômica auxiliada pelo software SNPStats, os pesquisadores encontraram significativas diferenças em 8 polimorfismos que correspondem a 5,09% do total. Três estavam localizados no gene SRC-1 e 5 no gene SRC-2, e os haplótipos (conjunto de polimorfismos que são herdados juntos) CGA e CGG do primeiro e os haplótipos GGTAA e GGTAG do segundo estavam representados em excesso entre os indivíduos transgêneros.


Na discussão dos resultados, os autores do estudo citaram que evidência prévia obtida de experimentos com ratos mostra que redução na expressão da proteína SRC-1 durante a diferenciação do cérebro interfere com as ações de masculinização dos estrógenos nos cérebros desses roedores, modificando comportamentos reprodutivos normais e morfologia cerebral tipicamente esperados para cada sexo. Os resultados do novo estudo replicam o achado em humanos.


Transgêneros que sofrem com incongruência de gênero, em ordem de alinhar a aparência física com a identidade de gênero, frequentemente buscam uma terapia hormonal de afirmação de gênero. É bem estabelecido que as terapias hormonais geralmente são muito efetivas para o tratamento do desconforto gerado pela incongruência de gênero, e evidências sugerem que essa intervenção terapêutica muda certos padrões de conectividade no cérebro associados à autopercepção corporal (Ref.2-3). O envolvimento de variações genéticas ligadas aos receptores estrogênicos na base neurobiológica da transgeneridade pode talvez ajudar a explicar essa observação clínica - indivíduos cis- e trans- podem reagir diferentemente a hormônios sexuais no cérebro.


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GIRIFICAÇÃO CORTICAL


Em um estudo publicado no periódico Cerebral Cortex (Ref.4), pesquisadores analisaram via Imagem por Ressonância Magnética (MRI) 54 homens trans, 38 mulheres trans - ambos os grupos constituídos de indivíduos que não foram submetidos a tratamento hormonal -, 44 homens cis e 41 mulheres cis. Os resultados mostraram que a girificação cortical - uma medida que reflete maturação precoce do córtex cerebral - era significativamente menor nos participantes transgêneros do que nos participantes cisgêneros. A redução observada mostrou afetar o córtex ocipitoparietal e o córtex motor sensorial, regiões que processam tanto autopercepção da imagem corporal quanto sensação de propriedade corporal. Além disso, a girificação cortical correlacionou inversamente com a incongruência do próprio corpo nessas regiões.


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MATÉRIA CINZENTA


Em um estudo publicado no periódico Australian & New Zealand Journal of Psychiatry (Ref.5), pesquisadores analisaram 21 homens trans e 21 mulheres cis, equiparados em termos de sexo biológico e de idade. Através de MRI, foram investigadas possíveis diferenças em termos de volume de matéria cinzenta (regiões cerebrais com alta concentração de corpos celulares) entre os grupos. Os resultados mostraram que, mesmo após incluir como co-variável analítica níveis diferenciais de hormônios sexuais no soro sanguíneo dos participantes (ex.: maior ou menor concentração de testosterona), os homens trans mostraram um significativo maior volume de matéria cinzenta no giro cingulado posterior do cérebro. O estudo reforça o estudo prévio e várias outras evidências nesse sentido (!) de que indivíduos transgêneros possuem uma estrutura cerebral alterada em relação a indivíduos cisgêneros, assim como mulheres cis e homens cis possuem entre si pequenas diferenças na estrutura cerebral.


(!) Importante apontar que transgêneros não parecem ter uma estrutura cerebral que imita aquela do sexo biológico oposto de indivíduos cisgêneros, mas, sim, uma assinatura neurobiológica única. Leitura recomendada: Assinatura neurobiológica da transgeneridade é reforçada por mega-análise


IMPLICAÇÕES


Existe uma narrativa errônea no âmbito político e ideológico afirmando que indivíduos transgêneros 'escolhem' ser transgêneros ou que tal condição é possível de ser ensinada ou socialmente construída. Dessa interpretação, emergiu termos como 'Ideologia de Gênero', sugerindo que o movimento LGBT+ estaria convertendo crianças e adolescentes, transformando "meninos em meninas" e heterossexuais em homossexuais. Esse discurso político - que criminaliza pessoas inocentes em vários países e alimenta violência em todo o mundo - precisa ser urgentemente banido, porque, além de não possuir qualquer sustentação lógica ou científica, é racista em sua essência, ao discriminar e marginalizar indivíduos com base em traços biológicos. Transgêneros estão presentes em toda a história humana e em todos os contextos sociais e culturais, e fica cada vez mais evidente que a identidade de gênero é uma manifestação natural e dissociada do sexo biológico.


REFERÊNCIAS

  1. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2050116121000489 
  2. https://www.nature.com/articles/s41598-020-80687-2 
  3. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2213158220303545
  4. https://academic.oup.com/cercor/article-abstract/31/7/3184/6169306
  5. https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0004867421998801

Três estudos reforçam a transgeneridade como fruto de fatores biológicos Três estudos reforçam a transgeneridade como fruto de fatores biológicos Reviewed by Saber Atualizado on junho 30, 2021 Rating: 5

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