Cientistas confirmam que o novo coronavírus infectou e matou um feto via transmissão vertical
Evidências prévias já haviam confirmado que o novo coronavírus (SARS-CoV-2) é capaz de infectar placentas (1) – e causar danos nesse órgão – e também infectar o feto em desenvolvimento (2) – ou seja, transmissão vertical do vírus – em grávidas com COVID-19 (doença causada pelo SARS-CoV-2). Estudos prévios haviam também mostrado que bebês contaminados no útero desenvolviam a COVID-19 após o parto, necessitando inclusive de suporte de oxigênio para a recuperação.
Para mais informações, acesse:
- (1) Placentas de grávidas infectadas com a COVID-19 mostram sérias lesões
- (2) Confirmado: o novo coronavírus é também transmitido da mãe para o feto no útero
Agora, em um estudo publicado no periódico Viruses, pesquisadores confirmaram mais um caso de transmissão vertical direta através de análise proteômica, e com a infecção intrauterina levando a complicações na gravidez, parto prematuro e morte da criança. Já um segundo estudo de revisão publicado no periódico Canadian Medical Association Journal, pesquisadores encontraram que a infecção pelo SARS-CoV-2 em grávidas está fortemente associada com pré-eclâmpsia, natimorto, nascimento prematuro e vários outros eventos adversos, reforçando o alerta de que as grávidas devem redobrar as medidas de prevenção contra a COVID-19.
TRANSMISSÃO VERTICAL
A maioria dos casos conhecidos de COVID-19 em mulheres grávidas têm sido no terceiro trimestre de gravidez, apesar de ser no segundo trimestre que o sistema imune da mãe é significativamente menos ativo. No primeiro estudo e relato de caso, pesquisadores confirmaram o caso de transmissão vertical do SARS-CoV-2 em uma mulher previamente saudável de 27 anos que acabou desenvolvendo uma COVID-19 moderada durante a 21° semana de gestação. Após duas semanas da emergência sintomática da COVID-19, a paciente já estava testando negativo para o SARS-CoV-2 e não tinha mais sintomas.
Porém, um escaneamento de ultrassom detectou severas anormalidades no feto (Figura 1), incluindo restrição de crescimento e críticos danos no fluxo sanguíneo na artéria umbilical. Um bebê prematuro do sexo masculino então nasceu via cesariana duas semanas mais tarde e morreu após 1 dia e 18 horas em uma unidade de tratamento intensivo neonatal (UTIN). Não foi detectado nenhum fator de risco prévio para severa patologia neonatal, e a gravidez se desenvolveu normalmente até a COVID-19.
O bebê testou positivo para anticorpos IgG SARS-CoV-2-específicos, e um teste PCR no tecido da placenta e no sangue do cordão umbilical deram positivo para três genes associados ao SARS-CoV-2. Combinando os resultados do PCR com análises de espectrometria de massa (identificação de proteínas S e N associadas ao vírus) e análises imuno-histoquímicas do tecido da placenta, sangue do cordão umbilical e sangue do bebê, os pesquisadores concluíram que houve transmissão vertical do vírus, esta a qual teria sido a principal causa para o desenvolvimento de má-perfusão vascular materna no caso estudado. Transmissão transplacentária pode causar a inflamação da placenta e viremia neonatal com subsequentes danos de vários sistemas e órgãos do feto.
GRAVIDEZ E COVID-19
No segundo estudo, uma revisão sistemática e meta-análise da literatura acadêmica englobando 42 estudos e um total de 438548 mulheres grávidas ao redor do mundo, os pesquisadores resolveram determinar a associação entre infecção com o SARS-CoV-2 e eventos adversos na gravidez. Eles encontraram que as grávidas com COVID-19 estão associadas com um risco 33% maior de pré-eclâmpsia (complicação potencialmente perigosa da gravidez, caracterizada por pressão arterial elevada), um risco 82% maior de nascimento prematuro e um risco 2 vezes maior de natimorto (nascimento de um bebê morto).
Além disso, os resultados da revisão mostraram que, comparado com mulheres grávidas assintomáticas infectadas com o vírus, as mulheres grávidas sintomáticas infectadas tinham o dobro do risco de nascimento prematuro e um aumento de 50% no risco de parto por cesárea. Aquelas com COVID-19 severa tinham um risco 4 vezes maior de pressão sanguínea elevada e nascimento prematuro, e quase 2 vezes maior de diabetes gestacional e de baixa massa corporal do bebê no nascimento.
Segundo os pesquisadores, a razão para o aumento de risco para esse amplo espectro de eventos adversos não é ainda bem esclarecida, com a possibilidade da COVID-19 estar fomentando maior vasoconstricção e estimulando uma resposta inflamatória deletéria para os vasos sanguíneos. Porém, como demonstrado no estudo anterior, ataque direto do vírus na placenta e no feto podem também ser responsável por parte dos problemas, especialmente parto prematuro e natimorto. Somando-se a isso, é sugerido que a COVID-19 pode engatilhar o desenvolvimento de um quadro de diabetes, através de danos nas células pancreáticas (3).
Para mais informações, acesse:
- (3) COVID-19 pode causar diabetes, apontam as evidências
- (4) COVID-19 aumenta em várias vezes as taxas de mortalidade entre as mulheres grávidas
Estudos prévios (4) também corroboram o novo estudo de revisão em relação ao aumento na taxa de mortalidade em mulheres grávidas com COVID-19, a qual pode ser 13-17 vezes maior do que aquela observada entre mulheres grávidas sem COVID-19.