Confirmado: o novo coronavírus é também transmitido da mãe para o feto no útero

Um estudo publicado hoje no periódico The Pediatric Infectious Disease Journal (1), analisando um bebê do sexo feminino nascido prematuramente no Texas - e com a mãe infectada pelo SARS-CoV-2 - confirmou a transmissão intrauterina (transmissão direta) de mãe para filho do novo coronavírus. O estudo foi baseado na análise de evidência ultraestrutural e imune-histoquímica da infecção pelo SARS-CoV-2 em células fetais e na placenta. A mãe também possuía diabetes tipo 2 e o bebê nasceu com uma massa corporal acima do normal para a idade gestacional (34 semanas) - como esperado para um quadro de diabetes na gravidez. 

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O bebê parecia inicialmente saudável, mas desenvolveu febre e sintomas respiratórios no segundo dia de vida. Recuperou-se sob tratamento hospitalar (suporte extra de oxigênio por vários dias), mas sem necessidade de ventilação mecânica. O bebê testou positivo para o SARS-CoV-2 duas vezes: 24 horas e 48 horas após o nascimento, e os testes subsequentes permaneceram positivos por 14 dias. Ao final de 21 dias, ambos, mãe e filha, foram liberadas do hospital em boa condição.

No estudo, os pesquisadores primeiro observaram sinais de inflamação no tecido da placenta (I). Somando-se a isso, testes especializados documentaram a presença de partículas virais assim como uma proteína (nucleocapsídeo do SARS-CoV-2) específica do vírus da COVID-19 nas células fetais associadas à placenta. Esses achados confirmaram que a infecção foi transmitida através do útero. Isso corrobora evidências prévias (II) e um estudo publicado também hoje como preprint (2) na medRxiv, o qual também encontrou evidência fortemente sugerindo a transmissão intra-uterina, após a análise de quatro mães e seus recém-nascidos (anticorpos IgM e IgG específicos para o SARS-CoV-2 identificados no plasma sanguíneo do cordão umbilical). Esse último estudo, além de ter encontrado também a presença de partículas virais e de anticorpos específicos na placenta, encontrou anticorpos específicos no leite materno e na mucosa vaginal (II).

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(I) Estudos já confirmaram que o SARS-CoV-2 pode infectar a placenta e causar sérios danos nesse tecido, potencialmente deletérios ao feto. Para mais informações, acesse: Placentas de grávidas infectadas com a COVID-19 mostram sérias lesões 

(II) Importante lembrar que especialistas recomendam que a amamentação materna seja permitida e incentivada mesmo em mães testadas positivo para o SARS-CoV-2. Para mais informações, acesse: Amamentação, esgoto e atividade sexual transmitem o novo coronavírus?

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No estudo revisado por pares, os pesquisadores citaram dois relatos de casos também publicados hoje na The Pediatric Infectious Disease Journal  de provável transmissão vertical, reforçando mais uma vez o achado. Em específico, um dos reportes (3) encontrou que o genoma viral do SARS-CoV-2 era praticamente idêntico (com um nucleotídeo apenas de diferença) na mãe e no bebê, mesmo este tendo sido isolado imediatamente após o parto por cesárea. Sintomas respiratórios e febre apareceram no bebê desse último caso no 5° dia após o nascimento, mas se resolveram espontaneamente.

Segundo os pesquisadores, apesar dos dados serem limitados, a transmissão direta do SARS-CoV-2 parece ser rara. De qualquer forma, o achado reforça que as grávidas devem tomar medidas extras de prevenção para minimizarem ao máximo as chances de infecção.

(1) Publicação do estudo: PIDJ

(2) Publicação do estudo: medRxiv

(3) Publicação do estudo: PIDJ