COVID-19 aumenta em várias vezes as taxas de mortalidade entre as mulheres grávidas
Um estudo publicado no periódico American Journal of Obstetrics and Gynecology (Ref.1) trouxe evidência mostrando que contrair COVID-19 durante a gravidez pode ter consequências letais para a mãe. O estudo - conduzido por pesquisadores da Universidade de Washington, EUA - acompanhou 240 mulheres grávidas entre março e junho de 2020, encontrando que a taxa de mortalidade nas grávidas com COVID-19 era significativamente maior quando comparado com a taxa de mortalidade de COVID-19 em indivíduos em similares condições e idade no estado de Washington.
Especificamente, o estudo encontrou que:
- Mulheres grávidas com COVID-19 tinham uma taxa de hospitalização 3,5 vezes maior do que na população geral com similar idade. No total, foram 24 pacientes hospitalizados entre as grávidas com COVID-19 (1 em cada 10), e 1 em cada 11 desenvolveram uma doença severa ou crítica.
- As taxas de mortalidade por COVID-19 foram 13,6 vezes maiores nas mulheres grávidas do que na população com similar idade. Por outro lado, a maioria das pacientes grávidas com COVID-19 possuíam uma doença assintomática ou leve e gravidezes saudáveis.
- As três mulheres que morreram de COVID-19 no estado de Washington no período de estudo eram oriundas de grupos étnicos minoritários, e a maioria delas tinham outras condições como obesidade e hipertensão.
- Entre os casos severos/críticos de COVID-19 entre as grávidas, 45,4% deles tiveram um parto prematuro; em casos leves, a taxa foi de 5,2%.
Os dados derrubam a ideia frequentemente propagada que as grávidas estão protegidas da COVID-19 e apontam um grave sub-reporte de mortalidade entre as mães associada com a COVID-19. As três mortes maternas no estudo representam 6,7% de todas as mortes maternas associadas com COVID-19 registradas em todo os EUA até outubro de 2020, e apesar dos registros de nascimento nos locais de coleta de dados em Washington - incluindo 35 grandes hospitais e sistemas de saúde (61% dos 86 mil partos/ano no estado) - representarem apenas 1,4% de todos os nascimentos anuais Norte-Americanos.
Corroborando esse estudo, um trabalho apresentado hoje no encontro anual da Sociedade para Medicina Materna-Fetal (SMFM) (Ref.2), pesquisadores trouxeram dados sugerindo que mulheres grávidas que se tornam severamente ou criticamente doentes com a COVID-19 estão em grande risco de morrerem e experienciarem sérias complicações durante a gravidez quando comparado com grávidas que tiveram COVID-19 assintomática, leve ou moderada. O estudo analisou os registros médicos de 1219 mulheres grávidas de 33 hospitais em 14 estados Norte-Americanos, de 1 de março até 31 de julho de 2020, e todas testadas positivamente para a COVID-19, onde 47% eram assintomáticas, 27% tinham um quadro leve, 14% um quadro moderado, 8% um quadro severo, e 4% um quadro crítico.
Nesse último estudo, mulheres grávidas com COVID-19 que se tornaram severamente ou criticamente doentes eram mais velhas, tinham um maior índice de massa corporal (IMC), e eram mais prováveis de possuírem uma comorbidade prévia, como diabetes e hipertensão. Um total de 4 grávidas com COVID-19 (0,3%) morreram, um valor que é 17 vezes maior do que a taxa de mortalidade entre mulheres grávidas sem COVID-19 no território Norte-Americano, segundo dados mais recentes do Centro de Controle de Doenças dos EUA (CDC).
Enquanto que os dois estudos sugerem que mulheres com COVID-19 assintomática ou leve-moderada (a maioria dos casos) não precisam se preocupar com sérias complicações de gravidez associadas com a doença, a COVID-19, em termos globais, aumenta de forma mais do que significativa as taxas de mortalidade nesse grupo.
Essa preocupante conclusão dá suporte para um estudo publicado esta semana no periódico Canadian Medical Association Journal (Ref.3), defendendo que mulheres grávidas, tentando engravidar e amamentando deveriam receber vacinação contra a COVID-19 sob justificativa puramente ética, mesmo sem dados clínicos específicos de segurança ou eficácia publicados. Os autores do estudo apontam que não existem evidências suportando efeitos deletérios das vacinas nesse grupo - especialmente considerando dados clínicos de testes em animais não-humanos -, e que a autonomia individual deveria ser respeitada, após balanço de riscos e benefícios entre a mulher e o médico responsável. Além disso, durante os testes clínicos da vacina mRNA-baseada da Pfizer em 23 participantes que deram a luz após receberem a vacina, nenhum efeito adverso foi observado.
> Leitura complementar: Placentas de grávidas infectadas com a COVID-19 mostram sérias lesões