Quase 80% da população de Manaus foi infectada pelo novo coronavírus até outubro
Dois importantes estudos sobre as dinâmicas de disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2) foram recentemente publicados. Quase 80% da população de Manaus foi infectada pelo novo coronavírus até outubro e imunidade de rebanho foi detectada. E evidências sugerem que 1000 partículas virais parece ser o valor mínimo necessário para iniciar uma infecção.
No primeiro estudo, publicado na Science (Ref.1), pesquisadores investigaram a agressiva epidemia que atingiu a capital do Amazonas. Com uma população acima de 2 milhões de pessoas e densidade populacional de 158 habitantes/km2, o primeiro caso em Manaus foi confirmado no dia 13 de março e foi seguido por um explosivo alastramento epidêmico e elevada taxa de mortes, com um pico alcançado no início de maio e um excesso de mortalidade 4,5 vezes maior do que o esperado para o mesmo período. O número de reprodução foi estimado em 2,5-3,0. Em junho, 44% da população tinha anticorpos IgG SARS-CoV-2-específicos. Corrigindo para casos sem resposta humoral detectável e decréscimo da resposta de anticorpos com o tempo, os pesquisadores estimaram que 66% da população na cidade havia sido infectada até junho, e 76% até outubro. Em São Paulo, como comparação, foram estimados 29%. Segundo análises subsequentes dos pesquisadores, a substancial redução na taxa de contágio observada na cidade - mesmo com o relaxamento das medidas não-farmacológicas de controle epidêmico - foi menor do que o previsto por modelos epidemiológicos, indicando que, em parte, houve um efeito de imunidade de rebanho gerado pela enorme taxa de contágio. Mudanças voluntárias de comportamento também ajudaram.
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IMPORTANTE: Manaus é um caso até o momento único no mundo, e está sendo observado de perto pelos cientistas, especialmente em termos de variações temporais nas respostas humorais da população e de imunidade de rebanho - algo com implicações para as vacinas. Fica aqui também um alerta não explorado pelo estudo: o vírus continua circulando na cidade, e provavelmente está evoluindo sob um cenário de seleção natural, com potencial de novas mutações de evasão imune serem fixadas com maior facilidade (I). É preciso ficar muito atento com as cepas circulando na região, e com cepas estrangeiras entrando na região - mutações de evasão imune têm sido já observadas em um número de países.
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Já no segundo estudo, publicado no periódico Science Translational Medicine (Ref.2), pesquisadores analisaram - epidemiologicamente e genomicamente - a dinâmica de disseminação do SARS-CoV-2 na Áustria. Foram analisadas mais de 500 amostras virais associadas com principais linhagens do SARS-CoV-2 em circulação no país, permitindo inclusive a reconstrução de eventos de super-disseminação e a caracterizações de processos de bottleneck (um processo de deriva genética). Além de novos conhecimentos sobre as taxas e fixações de mutações ao longo das cadeias de transmissão, os pesquisadores conseguiram estimar a quantidade mínima de partículas virais necessárias para iniciar a infecção em um indivíduo: 1000 partículas de SARS-CoV-2. Isso entra em concordância com estimativas prévias variando de 300 a 2000 partículas virais infecciosas (II).
(I) É importante o esclarecimento dessa informação para a população: durante as campanhas de vacinação e avanço do vírus, a imunidade crescente começará a engatilhar pressões seletivas sobre o vírus, fomentando a fixação de mutações de evasão imune. Medidas não-farmacológicas de controle epidêmico (máscaras, distanciamento social, etc.) precisam continuar até que a pandemia seja realmente controlada, especialmente durante as massivas campanhas de vacinação. Não sabemos ao certo ainda como será a evolução do vírus nesse novo cenário (por enquanto o vírus está evoluindo essencialmente sob um cenário de deriva genética). Para quem quiser entender melhor essa questão, fica a sugestão de leitura: Vacina é o início da real luta contra o novo coronavírus: Evolução viral sob Seleção Natural
(II) Aliás, existe uma hipótese de que as máscaras podem não apenas diminuir o risco de infecções como também diminuir o risco de desenvolvimento de casos graves de COVID-19. Para mais informações, acesse: Uso universal de máscaras pode ajudar a prevenir casos severos de COVID-19
REFERÊNCIAS
Reviewed by Saber Atualizado
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dezembro 15, 2020
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