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Vacinas Chinesa e Britânica contra o novo coronavírus passam na Fase 2 em humanos



Os resultados clínicos preliminares das Fases 1 e 2 de duas promissoras vacinas - uma Chinesa e outra Britânica, ambas baseadas em um adenovírus modificado - foram positivos: mostraram-se seguras e efetivas em treinarem o sistema imune humano contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2), ativando respostas humorais (anticorpos) e de células-T. Os resultados foram publicados hoje no periódico The Lancet. Uma das vacinas - a ChAdOx1 nCoV-19, desenvolvida pela Universidade de Oxford, Reino Unido, e a farmacêutica AstraZeneca - mostrou aparente maior potencial e já está em parceria de produção com o Brasil. 

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VACINA BRITÂNICA

COMO FUNCIONA?

A vacina da Oxford - ChAdOx1 nCoV-19 (AZD1222) - é feita a partir de um vírus (ChAdOx1) que foi geneticamente modificado de um vírus de resfriado comum em chimpanzés, visando incapacitá-lo de se proliferar em humanos. No entanto, o vírus modificado ainda possui a capacidade de infectar células humanas e entregar o material genético responsável por expressar a proteína Spike (S) associada à estrutura proteica do SARS-CoV-2. Esse material genético foi artificialmente adicionado à estrutura do ChAdOx1.

A proteína S é crucial para a capacidade de infecção do SARS-CoV-2 - com a ajuda do receptor ACE2 (!) - nas células humanas, e constitui as famosas coroas na superfície das partículas virais dos coronavírus.

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Ao vacinar as pessoas com o ChAdOx1 nCoV-19, os cientistas esperam fazer o corpo reconhecer a proteína S e desenvolver respostas imunes específicas que irão ajudar a impedir que o SARS-CoV-2 infecte as células humanas, prevenindo infecção e subsequente desenvolvimento da COVID-19.


TESTES CLÍNICOS

Nos resultados preliminares publicados hoje no The Lancet (1), os pesquisadores reportaram que a ChAdOx1 nCoV-19 foi testada de forma randomizada em 1077 voluntários (adultos saudáveis com idades de 18 a 55 anos), estes os quais foram divididos em dois grupos: um efetivamente recebendo uma ou duas doses da vacina visada e o outro recebendo uma ou duas doses da vacina MenACWY (a qual protege contra meningite e sepse). Essa última vacina serve como um controle ativo, porque caso fosse injetado apenas uma solução salina, efeitos típicos de uma vacina não seriam observados (febre, dor de cabeça, vermelhidão no braço), o que resultaria nos participantes envolvidos saberem que estão ou não recebendo a vacina. Por isso, para evitar efeito placebo, um controle ativo é geralmente usado nesse tipo de estudo clínico randomizado.

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Todos os participantes foram submetidos a testes de laboratório antes da vacina para garantir que não haviam sido infectados pelo SARS-CoV-2. Metade desses participantes eram homens, 90,9% caucasianos e com a idade média de 35 anos, e foram recrutados de 5 centros no Reino Unido e acompanhados por 28 dias após receberam as vacinas de teste.

Adversos eventos locais e sistêmicos foram comuns, incluindo fatiga, dor de cabeça e inchaço no local da injeção, mas todos bem tolerados. Anticorpos neutralizantes contra o SARS-CoV-2 foram gerados em mais de 90% dos participantes recebendo a ChAdOx1 nCoV-19, e essas respostas imunes persistiram por 56 dias de observação. Aqueles que receberam a segunda dose de reforço reportaram respostas de anticorpos neutralizantes ainda mais forte, e poucos eventos adversos leves. Importante, respostas de células-T foram induzidas em todos os participantes.

Anticorpos são pequenas proteínas produzidas pelo sistema imune que se ligam à superfície do corpo estranho invasor (o novo coronavírus, no caso). Os anticorpos neutralizantes podem inutilizar as partículas virais. Já as células-T são um tipo de leucócito (células-brancas) que ajudam a coordenar o sistema imune e são capazes de identificar quais células do corpo foram infectadas pelo vírus e destruí-las. Quase todas as vacinas efetivas induzem tanto resposta de anticorpos quanto respostas de células-T.

O Reino Unido já ordenou a produção de 100 milhões de doses da vacina. No acordo de parceria com o Brasil, caso seja comprovada a eficácia da imunização em testes de maior escala, ao menos 30,4 milhões de doses serão entregues em dois lotes a serem disponibilizados à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz): 15,2 milhões em dezembro de 2020, e 15,2 milhões em janeiro de 2021, com prioridade para os grupos de risco e para profissionais de saúde.

O IFA (ingrediente farmacêutico ativo) associado à vacina, inicialmente virá pronto do exterior, e será processado e distribuído para a população Brasileira através de tecnologia desenvolvida pela FioCruz. Para mais informações, acesse: Ministério da Saúde anuncia parceria com a Universidade de Oxford para a produção de vacinas contra a COVID-19

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VACINA CHINESA

COMO FUNCIONA?

A vacina Chinesa - conhecida como Ad5-nCoV  - é similar à Britânica e usa um vírus de resfriado comum enfraquecido - um adenovírus modificado, no caso, capaz de infectar células humanas prontamente mas incapaz de causar doenças - para entregar material genético que codifica para a glicoproteína S do SARS-CoV-2 (gene S clonado e inserido no DNA do adenovírus). Essas células infectadas, então, produzem a proteína S e viajam para os nódulos linfáticos do organismo onde o sistema imune cria anticorpos que irão reconhecer a proteína, tornando o corpo capaz de lutar contra infecções futuras causadas pelo novo coronavírus (por já possuir anticorpos específicos capazes de reconhecer a estrutura proteica na superfície do SARS-CoV-2).

TESTES CLÍNICOS

O grupo de pesquisa responsável pela Ad5-nCoV já havia publicado os resultados de uma Fase 1 no The Lancet (Primeira vacina testada em humanos se mostra segura e capaz de gerar resposta imune), reportando resultados positivos. Porém, o estudo reportado englobou um pequeno número de participantes, foi de relativa curta duração e não foi randomizado com controle, o que limita substancialmente a detecção de reações adversas e o fornecimento de robusta evidência para a habilidade da vacina de gerar resposta imune.

Agora, os pesquisadores reportaram uma Fase 2 realizada de forma randomizada, controlada e em duplo-cego, envolvendo 508 voluntários saudáveis recrutados da cidade de Wuhan, na China. Os voluntários foram certificados de não estarem contaminados com o novo coronavírus, 50% eram homens e todos eram adultos de 18 a 83 anos de idade (idade média de ~40 anos).

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Os participantes foram divididos em três grupos: um recebendo uma dose da Ad5-nCoV com concentração de 1×10^¹¹ partículas virais por mililitro (mL), um recebendo uma dose de 5x10^10 partículas virais/mL, e o outro um placebo. Após receberem ou a vacina ou o placebo, os participantes foram acompanhados por 28 dias. Eventos adversos como febre, fatiga, dor de cabeça e dor no local da injeção ocorreram no final desse período em 77% dos 382 que receberam a vacina e em 48% dos 126 que receberam o placebo. Homens estavam associados com menores ocorrências de febre pós-vacinação.

Em cerca de 85% dos participantes, anticorpos neutralizantes foram gerados, e em mais de 90% respostas de células-T foram geradas. Pessoas com mais de 55 anos de idade expressaram menores respostas humorais (apesar de maiores do que aqueles recebendo placebo), assim como pessoas com imunidade prévia ao vetor (!!), mas esses fatores não afetaram as respostas das células-T. Imunogenicidade não diferiu entre os sexos. 

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(!!) Essa é uma das grandes limitações da vacina Chinesa, porque boa parte das pessoas já possuem imunidade prévia contra esse adenovírus vetor - algo inexistente do vetor usado pela vacina Britânica, derivado de chimpanzés -, o que pode limitar a eficácia da Ad5-nCoV. 

OBS.: Existe uma outra vacina Chinesa (CoronaVac) que começará a ser aplicada amanhã em 890 voluntários de São Paulo no Hospital das Clínicas (HC). Essa vacina é baseada em tecnologia tradicional (vírus inativado) e está em parceria de testes e de produção com o Instituto Butantan. As 20 mil doses dessa vacina - produzidas pelo laboratório chinês Sinovac Biotech - chegaram hoje no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, e planeja-se aplicá-la em 9 mil voluntários aqui no Brasil, como parte de uma Fase 3. Se tudo der certo, espera-se que a CoronaVac possa estar disponível para a população Brasileira no começo do ano (3).
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CONCLUSÃO

No geral, os resultados de ambas as vacinas (Ad5-nCoV e ChAdOx1 nCoV-19) foram similares - apesar da vacina Britânica mostrar um maior potencial - e muito promissores, justificando uma Fase 3 envolvendo grupos muito maiores de voluntários - maior diversidade geográfica e étnica - e um período de maior acompanhamento. Nesse sentido, é importante reforçar que os resultados, apesar de animadores, estão ainda longe de serem conclusivos e ambas as vacinas podem falhar futuramente em demonstrar suficiente eficácia preventiva nos testes de maior escala.

A Fase 3 precisa ser rápida, pragmática e em escala suficiente para adereçar eficácia em vários subgrupos de interesse. Será que uma única dose será suficiente nos idosos, ou uma dose de reforço será necessária? As respostas imunes de longo prazo diferem em termos de taxa de enfraquecimento imune com o regime de dose dupla, e a longevidade da proteção clínica requer respostas células-mediadas? Existem diferenças de imunogenicidade em termos de idade, sexo e etnicidade? Respostas de células-T são independentes das respostas humorais? Existem efeitos adversos específicos para mulheres grávidas?

Vários são ainda os questionamentos sem resposta, e até termos todos os esclarecimentos e uma efetiva vacina pronta para ser distribuída, é necessário que a população continue firme nas medidas de prevenção, como distanciamento social e uso universal das máscaras.


(1) Publicação do estudo: The Lancet

(2) Publicação do estudo: The Lancet

(3) Referência: G1

Referência adicional: The Lancet (Comentário)

> Existe também uma promissora vacina Norte-Americana baseada em RNA mensageiro que passou na Fase 1 em humanos. Para mais informações, acesse: Vacina de mRNA Norte-Americana contra a COVID-19 mostrou-se segura e efetiva

Vacinas Chinesa e Britânica contra o novo coronavírus passam na Fase 2 em humanos Vacinas Chinesa e Britânica contra o novo coronavírus passam na Fase 2 em humanos Reviewed by Saber Atualizado on julho 20, 2020 Rating: 5

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