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"Olhos de tadinho" evoluíram nos cães como armas de afeto humano, aponta estudo


- Atualizado no dia 28 de maio de 2024 -

Segundo um interessante estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (Ref.1),  ao longo de milhares de anos dois novos músculos evoluíram ao redor dos olhos dos cães permitindo uma melhor comunicação com os humanos (!). A conclusão veio após uma análise anatômica e comportamental comparativa  entre cães e lobos. Apenas uma linhagem de cão - o Husky Siberiano - mostrou não possuir um desses músculos faciais, coincidindo também com o fato dessa linhagem ser uma das mais antigas que emergiram durante a domesticação.

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(!) Atualização: Músculos para o "olhar de tadinho" parecem ter evoluído também em outra espécie de canídeo: mabeco (Lycaon pictus). Mais informações no final desta matéria.
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O estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Portsmouth, Reino Unido, e da Universidade de Duquesne, EUA, e seus achados sugerem que expressivas sobrancelhas nos cães pode ser o resultado de uma seleção positiva baseada nas preferências inconscientes dos humanos durante o processo evolutivo de domesticação. Os pesquisadores observaram que quando cães fazem o movimento chamado de Unidade de Ação 101 (AU 101) - o popularmente conhecido "olhar de tadinho" -, é aflorado um maior desejo nos humanos de cuidarem dos seus companheiros caninos.  Isso fornece aos cães que conseguem mover suas sobrancelhas dessa forma mais uma vantagem adaptativa em relação aos outros, favorecendo a fixação desse traço adaptativo após várias gerações.

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Para determinar a essência evolutiva desses movimentos carismáticos da sobrancelha, os pesquisadores compararam de forma minuciosa e detalhada a anatomia facial e o comportamento de cães (Canis familiares) e de lobos-cinzentos (Canis lupus). Para isso, 4 lobos-cinzentos e 6 cães domésticos foram dissecados, e 9 lobos e 27 cães vivos foram examinados em testes específicos. Enquanto que nos cães em geral os músculos que permitem o característico movimento de subida da sobrancelha estão presentes de forma bem definida, nos lobos eles não estão presentes, dando lugar a um grupo escasso e irregular de fibras musculares. Ou seja, esses músculos provavelmente não estavam também presentes no ancestral comum das duas espécies (gênero Canis), algo que é reforçado pela ausência dessa estrutura muscular no Husky Siberiano, uma das mais antigas linhagens ainda existentes de cães e muito próximo relacionada com os lobos.




Considerando que os atuais lobos-cinzentos e cães divergiram há cerca de 33 mil anos, a marcante emergência desse traço anatômico mostra o quão forte foi a influência da interação social entre canídeos e humanos no processo evolutivo dos cães domésticos. Corrobora também trabalhos prévios mostrando fortes laços na interação de olhares entre cães e humanos, os quais envolvem inclusive a liberação do hormônio oxitocina em ambas as espécies (hormônio associado a comportamentos afetivos nos mamíferos, notavelmente na ligação maternal).  Além do AU 101 fazer os olhos dos cães parecerem grandes - dando a eles uma aparência mais infantil e carismática -, esse movimento parece também imitar o movimento facial que os humanos fazem quando estão tristes. E estudando o comportamento desses animais, os pesquisadores mostraram que quando expostos a um humano por dois minutos, os cães levantavam mais seus músculos associados às sobrancelhas e com maior intensidade do que os lobos, explicitando um esforço maior de comunicação.

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Uma hipótese alternativa, porém menos plausível, é que os cães evoluíram o AU 101 como uma resposta à preferência dos humanos pelo branco dos olhos de outros indivíduos e de outros animais. Com o AU 101, a parte branca dos olhos caninos ficam mais expostas, potencialmente chamando mais a atenção dos humanos ao redor e aumentando a probabilidade de receberem alguma comida e abrigo.

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(!) EXCLUSIVIDADE DOS CÃES?

Segundo os achados de um estudo publicado no periódico The Anatomical Record (Ref.2), musculatura mimética e auricular responsável pelo "olhar de tadinho" evoluiu também nos cães-selvagens-Africanos (Lycaon pictus), popularmente também chamados de mabeco. Isso implica que esses músculos não são uma exclusividade de cães domésticos e não evoluíram como uma resposta evolutiva única a humanos.

O mabeco é um canídeo altamente social que engaja em sofisticadas e coordenadas táticas de caçada em grupo na busca por grandes presas. É um dos mais efetivos caçadores na savana Africana, devido aos métodos de comunicação altamente desenvolvidos. Também possuem orelhas grandes e móveis que otimizam suas capacidades auditivas enquanto caçam e auxiliam na termorregulação.

No estudo, os pesquisadores analisaram a musculatura de um mabeco adulto de 12 anos de idade que havia sido medicamente sacrificado. No geral, o mabeco exibia músculos faciais e auriculares bem desenvolvidos. Em específico, os músculos LAOM e RAOL também estavam presentes e possuíam dimensões comparáveis àquelas dos cães domésticos. Essa semelhança morfológica sugere que expressões faciais oculares - incluindo o icônico "olhar de tadinho" (foto abaixo) - contribuem para a comunicação em grupo dos mabecos, ou seja, não é uma habilidade comunicativa única dos cães. 

Um mabeco juvenil demonstrando a expressão de "olhar de tadinho". Ref.3

Além disso, os pesquisadores também reportaram que os músculos auriculares do mabeco suportam manipulação mais refinada das orelhas do que observado nos cães. Possivelmente outro fator de adaptação muscular para a ecologia altamente social desses canídeos selvagens.

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REFERÊNCIAS
  1. kaminski et al. (2019). Evolution of facial muscle anatomy in dogs. PNAS, 116 (29) 14677-14681. https://doi.org/10.1073/pnas.18206531
  2. Smith et al. (2024). Adaptations to sociality in the mimetic and auricular musculature of the African wild dog (Lycaon pictus). The Anatomical Record. https://doi.org/10.1002/ar.25441
  3. https://www.nature.com/articles/d41586-024-01315-x
"Olhos de tadinho" evoluíram nos cães como armas de afeto humano, aponta estudo "Olhos de tadinho" evoluíram nos cães como armas de afeto humano, aponta estudo Reviewed by Saber Atualizado on junho 17, 2019 Rating: 5

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