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Descoberto mais um vestígio evolutivo: dedo 'ausente' do mabeco encontrado


Em um estudo publicado ontem no periódico PeerJ (1), pesquisadores anatomistas identificaram não só adaptações musculares no cão-selvagem-africano para o distinto modo de perseguição das suas presas (corrida de resistência) como também um dedo vestigial que derruba a ideia de que essa espécie era o único canídeo tetradáctilo conhecido - pelo menos em temos morfológicos.


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O cão-selvagem-africano (Lycaon pictus) - também conhecido como mabeco ou cão-caçador-africano - é uma espécie única entre os canídeos por vários motivos. Diferente de outras espécies de canídeos, o L. pictus utiliza predação exaustiva ao invés de velocidade, força ou aproximação discreta (aproximar-se cuidadosamente para não ser percebido) para caçar e capturar suas presas. Nesse tipo de caça, comportamentos sofisticados são empregados pelo L. pictus, incluindo decisões de caça em alguns bandos, onde os membros comunicam seus 'votos' através de "espirros" ou bruscas exalações de ar pelas narinas.


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> Antes disseminado por todas as áreas não-florestadas e não-desérticas da África, hoje o L. pictus encontra-se em perigo de extinção, com as populações desse canídeo muito fragmentadas e ocupando áreas restritas à Namíbia, Botswana, Moçambique, partes do Zimbábue, Swazilândia e Transvaal. É estimado que existam apenas 6600 indivíduos por todo o território Africano. A maior ameaça é a fragmentação do habitat, o que aumenta os conflitos com as comunidades humanas.




Hipercarnívoro, o L. pictus possui adaptações morfológicas bem estabelecidas para sua dieta, incluindo uma morfologia craniodentária especializada comparado com outros canídeos. Alimenta-se primariamente de antílopes, os quais são caçados em bandos, enquanto presas menores como roedores e lebres são caçadas por membros individuais. Possuem altas taxas de sucesso nas caçadas (>60%), bem maiores do que aquelas observadas em leões (27-30%) e hienas (25-30%), apesar de frequentemente perderem as presas abatidas para esses predadores de maiores dimensões. Além disso, o L. pictus exibe um estilo de via nômade, com os bandos viajando até 50 km por dia, e áreas de habitação geograficamente extensas e variando entre 560 e 3000 km2.


Esses distintos e comportamentos e modo de caça sugerem que a anatomia do L. pictus possui adaptações para corridas de resistência/longa distância, especialmente nos membros dianteiros. Uma dessas adaptações poderia ser a estranha e suposta ausência de um dedo.


Nesse último ponto, um traço fenotípico adicional que distingue o L. pictus de outros caniformes é a reportada ausência do dedo polegar. A ausência desse dedo pode permitir um aumento na velocidade e no comprimento das passadas nessa espécie, portanto facilitando perseguição a longa-distância de presas. Entre os mamíferos, existe uma tendência entre predadores cursórios (adaptados para a corrida) de perda de dedos e alongamento dos membros, ambas adaptações morfológicas que, de fato, otimizam velocidade e capacidade de caça. 


Evidências fósseis limitadas sugerem que os gêneros Lycaon, Canis e Cuon (todos canídeos) divergiram de um ancestral comum no Plioceno (5,3 até 2,6 milhões de anos atrás), e a subsequente redução do polegar na linhagem do Lycaon evoluiu pouco tempo depois junto com as adaptações dentárias. Análises genéticas/moleculares recentes têm identificado vários genes associados com essa perda do polegar no L. pictus, a qual se desenvolve através de apoptose da estrutura associada durante o desenvolvimento embrionário, especificamente via um caminho que no geral regula a apoptose de tecido interdigital.


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Para esclarecer melhor as possíveis adaptações anatômicas associadas com essas notáveis características do L. pictus - e com foco na musculatura dos membros -, os pesquisadores dissecaram e descreveram em mínimos detalhes um espécime doado pelo Centro do Arizado para a Conservação da Natureza/Phoenix Zoo. As dissecações ocorreram no Departamento de Anatomia (Faculdade de Veterinária) da Universidade de Medicina de Midwestern (Glendale, AZ, EUA). Como referências anatômicas comparativas primárias, os pesquisadores usaram dados descritivos de cães domésticos (Canis lupus familiaris), raposa-dos-pampas (Lycalopex gymnocercus), panda-vermelho (Ailurus fulgens), panda-gigante (Ailuropoda melanoleuca) e furão-pequeno (Galictis cuja).


Comparações estatísticas dos volumes e massas musculares revelaram que o L. pictus possui rotadores (pronador teres, pronador quadrado, supinador) relativamente menores do que qualquer outro táxon carnívoro, sugerindo pressões adaptativas para a estabilidade antebraquial sobre o movimento rotatório na carpo desse canídeo. Várias outras adaptações musculares também foram identificadas para a corrida a longa distância, como um robusto ligamento no pulso que age como um suporte, ajudando com a flexão passiva e ressalto da perna dianteira; esse ligamento fornece propulsão não-muscular durante o impulso da pata dianteira, o que pode ajudar a sustentar as corridas de resistência sem cansar os músculos do pulso. Adaptação similar é observada nos cavalos. Outra adaptação encontrada nesse sentido foram grossos ligamentos ligando o rádio e a ulna (os dois ossos do antebraço), o que resulta em maior estabilidade do antebraço.


Um número de músculos associados com a estabilidade das articulações e energia elástica armazenada durante a locomoção também se mostraram expandidos comparado a outras espécies.


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E enquanto um polegar completo de fato mostrou-se ausente no L. pictus, um metacarpal vestigial I (parte intermediária do esqueleto da mão que está localizado entre as falanges - ossos dos dedos - e os carpos que formam a conexão com o antebraço) foi descoberto, na forma de uma pequena protusão óssea, e resultando em mudanças nas inserções dos  músculos da 'mão' (pata dianteira). Isso significa que o L. pictus é funcionalmente tetradáctilo (quatro dedos), mas não morfologicamente.



O dedo vestigial do L. pictus não possui uma garra e, portanto, não consegue agarrar o substrato durante locomoção. No entanto, os músculos associados ao dedo polegar podem fornecer estabilidade adicional à pata dianteira durante as corridas de resistência, e uma consequente maior economia energética. Nos equídeos, por exemplo, os metacarpais II e IV vestigiais servem uma importante função de suporte para a articulação do carpo e da mão. Outra possível função do dedo vestigial do L. pictus pode ser propriocepção (captação de informação referente à localização do corpo, sua movimentação e outras através dos sistemas neurais de sentido).

 

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Além de aumentar o nosso conhecimento sobre os canídeos, o estudo anatômico detalhado do L. pictus pode ajudar nas ações de preservação e de recuperação dessa espécie, ao oferecer referências úteis para veterinários e outros cientistas que trabalham com esses animais.

 

 

(1) Publicação do estudo: PeerJ


Referência adicional: Animal Diversity 

Descoberto mais um vestígio evolutivo: dedo 'ausente' do mabeco encontrado Descoberto mais um vestígio evolutivo: dedo 'ausente' do mabeco encontrado Reviewed by Saber Atualizado on setembro 08, 2020 Rating: 5

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