Principal componente psicoativo da maconha pode tratar séria doença respiratória
A enterotoxina-B estafilocócica (SEB) é um dos mais potentes super-antígenos bacterianos, exercendo profundos efeitos tóxicos ao induzir um excesso de resposta pró-inflamatória. A ARDS é ativada por uma variedade de agentes etiológicos e a toxina SEB é um deles. A incidência de ARDS nos EUA é de 78,9 para cada 100 mil pessoas por ano e a taxa de mortalidade é alta, em torno de 38,5%. Com a atual pandemia da COVID-19, essa taxa anual de incidência provavelmente irá ter um robusto crescimento. A SEB é capaz de induzir ARDS fatal em primatas não-humanos seguindo exposição aérea, algo sugestivo de que essa toxina pode ser também usada como arma biológica.
A habilidade da SEB de induzir uma "tempestade de citocinas" (proteínas pró-inflamatórias) pode estar relacionada com o fato dessa toxina agir como um super-antígeno ao ativar uma grande proporção de células-T, que acaba levando à produção excessiva de citocinas e consequentes danos a vários órgãos, incluindo os pulmões. É complicado tratar a ARDS e até o momento não exitem agentes farmacológicos que possam proteger o hospedeiro da toxicidade SEB-mediada. Exposição de pequenas doses de SEB em ratos podem engatilhar uma ARDS que, se não tratada, leva a uma mortalidade de 100%.
No novo estudo, pesquisadores do Departamento de Patologia, Microbiologia e Imunologia da Universidade da Carolina do Sul (UofSC) testaram a eficácia do THC como um tratamento contra a ARDS em ratos expostos ao SEB. Os resultados mostraram que o canabinoide protegeu os ratos dos efeitos fatais da síndrome respiratória induzida ao alterar a microbiota nos pulmões e no intestino desses animais. O THC significativamente aumentou a abundância da espécie bacteriana benéfica Ruminococcus gnavus, mas diminuiu a abundância da espécie bacteriana patogênica Akkermansia muciniphila.
Somando-se a isso, o tratamento com THC levou a um aumento de ácidos graxos de cadeia curta, dos quais o ácido propiônico se mostrou capaz de inibir a resposta inflamatória associada ao sistema imune. Nesse sentido, análises transcriptômicas mostraram que o THC up-regulou vários genes como a lisozima-1&2, beta-defensina-2, claudina, ocludina-1, zonula-1, Mucina2 e Muc5b, enquanto down-regulou o gene beta-defensina-1. Esses genes estão associados com caminhos anti-microbianos e anti-inflamatórios.
O estudo é o primeiro a trazer forte evidência que o THC atenua a ARSDS SEB-mediada e a toxicidade da SEB. Isso sugere que esse canabinoide pode ser usado como tratamento dessa condição respiratória, com potencial terapêutico inclusive para a COVID-19.
ATENÇÃO: O uso de THC proposto nesse estudo é medicinal, via isolamento e administração controlada do componente visado. Uso recreativo não é medicinal, muito menos via fumo. O THC é um composto que pode trazer muito prejuízo caso consumido sem controle e orientação médica. Nenhum canabinoide, mesmo o canabidiol, deve ser administrado em grávidas ou crianças e adolescentes. Leitura recomendada: Fumo e uso recreativo da maconha: lobo sob pele de cordeiro
(1) Publicação do estudo: BJP
Reviewed by Saber Atualizado
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setembro 08, 2020
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