Aquecimento global pode ter ultrapassado o limite estabelecido pelo Acordo de Paris
![]() |
Figura 1. Incêndio em Los Angeles, Califórnia, em janeiro de 2025. |
Em 2024, a temperatura média da Terra ultrapassou +1,5°C em relação aos níveis pré-industriais. Potencialmente falhamos com o Acordo de Paris. E isso bem antes da metade do século XXI.
O mundo está se movendo e rápido para uma zona de perigo para a humanidade.
Múltiplos estudos independentes apontaram que a temperatura média da superfície terrestre está 1,55°C mais quente do que no período pré-industrial (1850-1900) (Ref.1). Esse período "pré-industrial" é quando os humanos ainda não estavam injetando grande quantidade de gases estufas na atmosfera.
É ainda preciso esperar os próximos anos para ver se esse valor vai se manter, para só então confirmar que ultrapassamos o limite de aquecimento global estabelecido no Acordo de Paris - assinado em 2015 por quase 200 países.
Desde a assinatura do acordo, ações efetivas de frear as emissões de gases estufas têm sido muito limitadas ou ineficientes. Emissões de dióxido de carbono (CO2), de metano (CH4) e de outros gases 'estufas continuam aumentando ano após ano.
Hoje é bem estabelecido que a temperatura média da superfície da Terra (na baixa atmosfera) está 1,3°C mais quente do que o pré-industrial, devido ao aquecimento global antropogênico.
Mas não apenas a atmosfera está aquecendo com grande rapidez, mas também os oceanos. Aliás, cerca de 90% do aquecimento global é armazenado nas águas oceânicas - que cobrem 70% da superfície da Terra. E 2024 testemunhou mais um recorde de aquecimento oceânico.
Segundo um recente estudo (Ref.2), de 2023 até 2024, até 2000 metros de profundidade oceânica, o conteúdo térmico aumentou em 16 zettajoules (10^21 joules). Esse valor é ~140x o total da energia elétrica global gerada em todo o ano de 2023. E evidência também recente (Ref.3) aponta que a atual (2019-2023) taxa de aquecimento na superfície oceânica é mais de 4 vezes (0,27°C/década) a taxa de aquecimento observada no período de 1985-1989 (0,06°C/década).
![]() |
Figura 2. Mudança no conteúdo de calor do oceano (CCO) até 2000 metros de profundidade, desde 1958 (as barras verdes indicam o nível de acuracidade da medida). |
Com a superfície terrestre (oceanos e continentes) ficando cada vez mais quente, bruscas mudanças climáticas são fomentadas e eventos temporais extremos se tornam cada vez mais intensos e frequentes (secas, fogo, furacões, inundações, etc.) e o nível dos mares aumenta de forma preocupante (1).
E, algo que continua sendo amplamente ignorado pelo público: o rápido avanço do aquecimento global aumenta o risco de que pontos de inflexão climática sejam alcançados em relativo curto espaço de tempo.
Por exemplo, é possível que até 2050, no atual cenário de aquecimento global, ocorra um colapso da circulação AMOC, no Atlântico, causando dramáticas mudanças no clima de várias regiões do mundo e com limitada capacidade para adaptação humana (2).
Leitura recomendada:
- (1) O nível dos mares não estão aumentando?
- (2) Estudo prevê catastrófico colapso de correntes no oceano Atlântico na segunda metade deste século
REFERÊNCIAS
- https://www.nature.com/articles/d41586-025-00010-9
- Cheng et al. (2025). Record High Temperatures in the Ocean in 2024. Advances in Atmospheric Sciences. https://doi.org/10.1007/s00376-025-4541-3
- Merchant et al. (2025). Quantifying the acceleration of multidecadal global sea surface warming driven by Earth's energy imbalance. Environmental Research Letters, Volume 20, Number 2. https://doi.org/10.1088/1748-9326/adaa8a
.jpg)