Estudo prevê catastrófico colapso de correntes no oceano Atlântico na segunda metade deste século
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Figura 1. A Circulação Termohalina é muito immportante para a redistribuição de calor dos trópicos para partes mais ao norte do Atlântico. |
Em um estudo publicado esta semana na Nature Communications (Ref.1), pesquisadores da Universidade de Copenhagen, Dinamarca, concluíram que o sistema de correntes oceânicas que atualmente distribui frio e calor entre a região do Atlântico Norte e os trópicos irá parar completamente nas próximas décadas caso as emissões de gases estufas na atmosfera continuem no atual nível. Esse colapso irá trazer impactos climáticos abruptos no clima global.
A Circulação de Revolvimento Meridional do Atlântico (AMOC na sigla em inglês) - ou Circulação Termohalina - é parte de um sistema global de correntes oceânicas e uma das principais preocupações com o atual processo de aquecimento global antropogênico e mudanças climáticas associadas. De longe, a AMOC responde pela mais significativa parte da redistribuição de calor dos trópicos para as regiões mais ao norte na região do Atlântico - incluindo a Europa Ocidental - e representa um dos elementos chaves de inflexão do clima terrestre.
Depois de uma longa trajetória de águas superficiais no sentido meridional, do Sul para o Norte, a circulação AMOC alcança regiões mais frias na região do Ártico, onde resfria e ganha salinidade, tornando-se densa o suficiente para subsidir. Ao alcançar uma profundidade média em torno de 3000 m, a água densa formada flui na direção Sul e, à medida que perde densidade e ganha flutuabilidade, é bombeada para cima, por sucção de Ekman, ressurgindo na bacia do Atlântico Sul até a superfície do lado do flanco sul da Corrente Circumpolar Antártica (CCA). Esta corrente, por sua vez, fecha o ciclo e é a fonte - devido ao transporte de Ekman - das águas superficiais nos primeiros 100 ou 200 metros, que fluem para o Norte.
A AMOC é gerada por dois processos concomitantes e inseparáveis: um termohalino, gerado por diferenças de temperatura e salinidade no Atlântico Norte, e outro mecânico no Oceano Sul, aproximadamente em 45º S, devido à tensão dos ventos de oeste e à força de Coriolis, que causam o bombeamento para cima das águas que vem do fundo e, consequentemente, uma circulação resultante para o norte a partir da CCA.
A AMOC possui papel central na variabilidade do clima da Terra e uma grande redução na circulação termohalina do Atlântico pode induzir mudanças no clima em escala global. Aliás, a circulação termohalina é crítica para a manutenção de um clima relativamente ameno na região do Atlântico Norte.
No novo estudo, usando avançadas ferramentas estatísticas e dados de temperatura dos oceanos nos últimos 150 anos, os pesquisadores calcularam que a corrente AMOC irá colapsar - com certeza de 95% - entre 2025 e 2095, e sendo mais provável que ocorra nos próximos 34 anos, em 2057. Esse colapso pode resultar em grandes desafios climáticos para a humanidade, particularmente um maior aquecimento nos trópicos e um maior estado tempestuoso na região do Atlântico Norte.
"Desligar a AMOC pode ter consequências muito sérias para o clima da Terra, por exemplo, ao mudar como calor e precipitação são distribuídos globalmente. Enquanto um resfriamento da Europa pode parecer menos severo à medida que o globo como um todo se torna mais quente e ondas de calor ocorrem com maior frequência, esse desligamento contribuirá para um maior aquecimento dos trópicos, onde elevação das temperaturas já proporciona condições de vida desafiadoras," disse em entrevista o Dr. Peter Ditlevsen, um cientista no Instituto Niels Bohr da Universidade de Copenhagen e um dos autores do novo estudo (Ref.3). "Nossos resultados reforçam a importância de se reduzir as emissões globais de gases estufas o mais rápido possível."
A corrente AMOC está ativa desde a última Era Glacial, há aproximadamente 11 mil anos, onde essa circulação, de fato, colapsou. Atualmente, a Terra está em um período interglacial, iniciado com contínuo e lento aquecimento que foi acelerado de forma robusta desde o pós-Industrial (século XX) como consequência do Aquecimento Global Antropogênico. Abruptas mudanças climáticas devido a colapsos dessa corrente têm sido observadas 25 vezes em análises paleoclimáticas, todas em conexão com eras do gelo. Essas mudanças climáticas, conhecidas como Eventos Dansgaard-Oeschger, foram extremas, com mudanças de 10-15°C ao longo de apenas uma década - enquanto atualmente o aquecimento global antropogênico aumentou a temperatura superficial global em 1,5°C ao longo de um século.
REFERÊNCIAS
- Ditlevsen & Ditlevsen (2023). Warning of a forthcoming collapse of the Atlantic meridional overturning circulation. Nature Communications 14, 4254. https://doi.org/10.1038/s41467-023-39810-w
- Aimola & Moura (2016). A Influência da Circulação de Revolvimento Meridional do Atlântico na Definição da Posição Média da ZCIT ao Norte do Equador. Uma Revisão. Revista Brasileira de Meteorologia, v. 31, n. 4(suppl.), 555-563. http://dx.doi.org/10.1590/0102-7786312314b20150059
- https://news.ku.dk/all_news/2023/07/gloomy-climate-calculation-scientists-predict-a-collapse-of-the-atlantic-ocean-current-to-happen-mid-century/
- https://www.sciencedirect.com/topics/earth-and-planetary-sciences/last-glacial
