Primeiro registro visual de atividade sexual entre baleias-jubartes ... e eram dois machos
Figura 1. Dois machos adultos de baleias-jubartes nas águas de Maui, Havaí, durante atividade sexual. |
Baleias-jubartes (Megaptera novaeangliae) são uma espécie de cetáceo cujo comportamento social é bem descrito na literatura científica, mas com escassa descrição para comportamentos sexuais. Reportes de extrusão do pênis por machos são relativamente raros e copulação entre essas baleias não tem sido documentado. A maioria das jubartes passam os meses de verão se alimentando em águas polares e migram durante os meses de inverno para águas tropicais, onde comportamentos observados são amplamente relacionados à reprodução (1).
Sugestão de leitura:
Agora, em um estudo publicado no periódico Marine Mammal Science (Ref.1), pesquisadores reportaram o primeiro registro visual de penetração realizada por uma baleia-jubarte, e também o primeiro registro de atividade sexual entre machos (comportamento homossexual).
Os cetáceos são os mamíferos mais adaptados ao ambiente aquático, vivendo nos mares, oceanos, e até mesmo nos ambientes de água doce de todo o planeta. Esses animais são divididos em dois grupos (subordens): Mysticeti e Odontoceti. Os Mysticeti (sem dentes) são as “baleias propriamente ditas”, todas marinhas. São exemplos a Jubarte, a Franca e a Baleia Azul. Os Odontoceti (com dentes) reúnem animais como os golfinhos, os botos, as orcas e os cachalotes, e nesse grupo temos representantes de água doce (ex.: rios). Em cetáceos, o pênis fica normalmente escondido dentro da fenda genital - provavelmente para tornar o corpo mais hidrodinâmico - e é externamente extrudado [exposto] para atividades sexuais. Extrusão do pênis de jubartes parece ser rara e geralmente não ocorre na superfície marinha.
No registro inédito, feito próximo da Ilha de Maui, no Havaí, em 19 de janeiro de 2022, dois machos de jubarte foram acompanhados e fotografados por integrantes de uma embarcação privada. Ambos os machos se aproximaram lentamente da embarcação e estavam ~3-5 metros abaixo da superfície marinha. Um dos machos estava coberto por "piolhos de baleia" (Cyamus boopis) - uma espécie de ectoparasita que vive na pele de jubartes e pode proliferar em animais que estão feridos e com mobilidade reduzida -, e exibia uma ferida na mandíbula que provavelmente dificultava a alimentação (Fig.2). Esse macho debilitado (A) estava sendo perseguido pelo outro macho (B) que exibia o pênis extrudado, mantido assim durante todo o encontro.
O macho B repetidamente se aproximava pela parte de trás do macho A e penetrava esse último, parecendo segurá-lo com suas nadadeiras peitorais. As penetrações penianas foram rasas (alguns centímetros de profundidade na fenda genital do macho A), e cada uma durando menos de 2 minutos (Fig.1, 3). O aperto feito com as nadadeiras peitorais durante as penetrações parece ser um comportamento importante de cópula para as jubartes, algo reforçado pela novo registro e por evidências prévias.
Figura 3. Macho B com seu pênis inserido na fenda genital do macho A. Ref.1 |
Figura 4. Imagem ampliada da região genital da jubarte A, onde o macho B estava penetrando com seu pênis. Ref.1 |
Comportamento homossexual tem sido amplamente registrado em animais diversos. Entre mamíferos marinhos, observações desse comportamento vão desde morsas e focas até golfinhos e baleias verdadeiras (2). Em cetáceos machos, atividade homossexual pode envolver a inserção do pênis na fenda genital ou no ânus de outro macho. Funções propostas para o comportamento homossexual e não-reprodutivo são diversas, e incluem aprendizado de comportamentos reprodutivos, estabelecimento de dominância, formação de alianças e redução de tensão social (3).
Para mais informações
- (2) Comportamento homossexual é comum e está associado a benefícios adaptativos em mamíferos, aponta estudo
- (3) Homossexualidade é biológica ou social?
A saúde da jubarte macho A relativa ao macho B pode ser relevante para o comportamento homossexual reportado. Enquanto é incerta a causa da lesão na mandíbula do macho A - talvez choque com uma grande embarcação -, esse tipo de lesão pode causar sofrimento e enfraquecimento do cetáceo ao longo de semanas ou meses. A condição corporal do macho A e sua carga parasítica sugerem que esse indivíduo estava com saúde frágil, provavelmente declinante há algum tempo, e podia estar em processo de morte.
Nesse contexto, algumas possíveis explicações para o comportamento homossexual:
- o macho B confundiu o macho A com uma fêmea;
- o macho B estava reforçando uma relação social com um indivíduo doente;
- o macho B estava expressando dominância sobre um competidor fraco e lesionado.
Comportamento agonístico inclui exibição de força para fazer o animal parecer maior e/ou mais fisicamente apto do que seus competidores, permitindo acesso a recursos valiosos, como alimento ou parceiro sexual. É possível que a extrusão do pênis e/ou penetração de jubartes machos contra outras jubartes machos seja uma forma de comportamento agonístico. Aliás, o macho A exibia uma postura em forma de S durante o evento que sugeria incômodo com as investidas do macho B, mas com escape prejudicado pelo estado debilitado do corpo.
REFERÊNCIAS
- Stack et al. (2024). An observation of sexual behavior between two male humpback whales. Marine Mammal Science, e13119. https://doi.org/10.1111/mms.13119
- https://www.pacificwhale.org/pwf-researcher-documents-first-ever-humpback-whale-copulation/
- https://museunacional.ufrj.br/expobaleia/cetaceos.html