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Copos de papel são tão tóxicos quanto copos de plástico, alerta estudo

 
Cada vez mais estudos têm alertado sobre a poluição de plásticos contaminando todas as partes do planeta e potencialmente todos os seres vivos, fomentando a troca desses materiais por outros ambientalmente mais amigáveis ou biodegradáveis. Nesse sentido, copos descartáveis de plástico têm sido comumente substituídos por copos descartáveis de papel, estes os quais são alegados ser uma "alternativa verde". Porém, um estudo publicado recentemente no periódico Environmental Pollution (Ref.1) e conduzido por pesquisadores da Universidade de Gotemburgo, Suécia, mostrou que esses copos de papel podem ser tão prejudiciais para o meio ambiente quanto copos de plástico, liberando várias substâncias tóxicas que podem prejudicar o desenvolvimento de organismos vivos e ser um risco à saúde dos consumidores [humanos]. Em particular, os pesquisadores mostraram que os copos de papel liberam toxinas prejudiciais a larvas do mosquito Chironomus riparius.


"Nós deixamos copos de papel e copos de plástico em sedimentos molhados e na água por algumas semanas e acompanhamos como as substâncias liberadas afetavam as larvas. Todos os copos negativamente afetaram o crescimento das larvas de mosquito," disse em entrevista a Dra. Bethanie Carney Almroth, autora principal do novo estudo e professora de Ciência Ambiental no Departamento de Biologia e Ciência do Meio Ambiente da Universidade de Gotemburgo (Ref.2).


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Produção global de plástico continua aumentando, superando nossos esforços de lidar com o excesso de lixo plástico criado e de prevenir contaminação do meio ambiente. Detritos plásticos são uma das principais preocupações - em especial micro- e nanopartículas (1) - e já poluem todos os ecossistemas no planeta. O Brasil é o quarto maior gerador de resíduos plásticos no mundo, produzindo 11,3 milhões de toneladas por ano e, ao mesmo tempo, reciclando apenas 4% desses resíduos (significativamente abaixo da média mundial, em torno de 9%), realçando que o problema é de especial preocupação aqui no país. Os materiais plásticos descartáveis, como embalagens e copos, estão entre os resíduos mais comuns ao redor do mundo, e itens pequenos são facilmente perdidos para o ambiente. A substituição desses materiais plásticos por produtos mais renováveis, degradáveis e atóxicos pode, portanto, representar uma potencial solução para os problemas associados com os plásticos.


(1) Leitura recomendada:


Além de ameaças físicas, materiais descartáveis de plástico podem conter milhares de diferentes substâncias, adicionadas intencionalmente ou não. Cientistas já identificaram 10 mil substâncias usadas em plásticos, como monômeros, aditivos e agentes de processamento, e mais de 2400 dessas substâncias (24%) são conhecidas de ter propriedades tóxicas, e mesmo assim mais de 900 delas são usadas em itens e embalagens plásticas que ficam em contato com alimentos. Essas substâncias são liberadas em todos os estágios de vida útil dos produtos plásticos, incluindo não apenas transferência nos alimentos e ultimamente humanos durante a fase de uso, mas também para ambientes naturais como sistemas aquáticos. A distribuição e destino dessas substância irá depender das suas propriedades físico-químicas, incluindo coeficiente de partição, assim como a fisiologia dos organismos e a propensão destes de acumular esses compostos químicos.


Entre alternativas para embalagens e copos plásticos descartáveis, papel tem sido usado e promovido como uma opção mais segura para a saúde humana e ambientalmente mais amigável. Porém, evidência científica disponível não suporta esse tipo de vantagem de um material sobre o outro. Mesmo assim, copos de papel são vistos pelo público em geral como alternativas biodegradáveis ou eco-amigáveis, frequentemente via campanhas de greenwashing ("lavagem verde") - quando empresas afirmam que seus produtos são sustentáveis, seja usando publicidade, seja colocando informações indevidas nos rótulos (2).


(2) Leitura recomendada: Produtos feitos de falso plástico biodegradável estão sendo vendidos em supermercados do país


Como papel não é resistente à interação com água ou gordura, esse material precisa ser tratado com um revestimento superficial, tipicamente um filme plástico. Esse plástico de proteção frequentemente é feito de poliácido láctico (PLA), um tipo de polímero bioplástico constituído de uma cadeia de moléculas de ácido lático (subproduto comum no metabolismo de seres vivos diversos). Bioplásticos, no geral, são produzidos a partir de recursos renováveis (PLA é comumente obtido a partir de milho, mandioca ou cana-de-açúcar via fermentação lática de carboidratos). O PLA - além de boas qualidades comerciais como resistência mecânica, rigidez, estabilidade térmica e transparência - é frequentemente considerado biodegradável, significando que pode ser degradado mais rápido do que plásticos plásticos tradicionais sob as condições certas - embora esse tempo de biodegradação possa ser relativamente muito longo em comparação a outros materiais biodegradáveis.


Independentemente da questão sobre a biodegradabilidade, estudos nos últimos anos vêm mostrando que os bioplásticos, como o PLA, exibem toxicidade comparável aos polímeros plásticos tradicionais derivados de petróleo (ex.: polietileno de baixa densidade, cloreto de polivinila, PS), incluindo estresse oxidativo, citotoxicidade, e efeitos estrogênicos e anti-androgênicos. Inúmeros aditivos orgânicos plásticos têm sido observados vazando de copos de papel e embalagens de PLA, incluindo estabilizadores de UV (UV328, 327 e 326), antioxidantes (ex.: nonilfenol), e plasticizantes (ex: vários ftalatos), e retardantes de chamas. E, para piorar, copos de papel geralmente não são recicláveis, em parte devido aos revestimentos plásticos usados. 


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No novo estudo, pesquisadores expuseram larvas de Chironomus riparius ao longo de 7 dias a copos plásticos (ex.: polipropileno) e de papel em ambientes aquáticos e úmidos, avaliando os efeitos agudos e crônicos de toxicidade em termos de crescimento, risco patológico e taxas de mortalidade. Essa espécie [aquática na fase larval] é um modelo comumente usado em testes de toxicidade e representa um importante grupo de organismos em termos ecológicos. As larvas de C. riparius são sensitivas à exposição de plásticos, incluindo fibras e partículas de microplásticos, e a exposições químicas. Os copos de papel usados no experimento foram obtidos de Cafés locais na região de Tingstad, na cidade de Gotemburgo, Suécia, e todos eram revestidos com PLA segundo informações dos fabricantes.


Os resultados mostraram que tanto os copos plásticos quanto os copos de papel podem induzir efeitos tóxicos nas larvas de C. riparius, prejudicando o crescimento e o desenvolvimento desses insetos. Além disso, os pesquisadores encontraram evidência de teratogenicidade nas larvas em sedimentos especificamente contaminados com copos de papel. Efeitos deletérios foram diretamente proporcionais ao tempo de exposição, e observados após 7 dias de exposição. O descarte inadequado de copos de papel pode ter sérios impactos ambientais na biota aquática, com exposição química deletéria potencialmente se somando com a exposição a microplásticos.


"Bioplásticos não degradam efetivamente quando vão parar no ambiente, na água. Pode existir um risco que os resíduos plásticos na natureza e microplásticos resultantes possam ser ingeridos por humanos e outros animais, assim como outros plásticos fazem. Bioplásticos contêm pelo menos tantos compostos químicos quanto plásticos convencionais," comentou a Dra. Almroth. "Alguns compostos nos plásticos são conhecidos de ser tóxico, outros nós não sabemos. Embalagens de papel também apresentam um perigo potencial de saúde comparado a outros materiais, e estão se tornando mais comuns. Nós estamos expostos aos plásticos e os compostos associados via contato com alimento."


"Quando produtos descartáveis chegaram ao mercado após a Segunda Guerra Mundial, grandes campanhas foram conduzidas para ensinar as pessoas a descartarem seus produtos, porque esse não era um hábito natural! Agora, nós precisamos voltar atrás e nos mover para longe de um estilo de vida descartável. É melhor se você trazer sua própria caneca quando estiver consumindo uma bebida fora de casa. Ou, através de outros meios, gaste alguns minutos para sentar e tomar seu café em uma xícara de porcelana," complementou a Dra. Almroth.


Os autores do estudo também pediram por maior transparência da indústria sobre os compostos químicos adicionados aos plásticos e bioplásticos, assim como feito na indústria farmacêutica, em paralelo à redução do uso e produção de produtos plásticos e bioplásticos em geral.


REFERÊNCIAS

  1. Almroth et al. (2023). Single-use take-away cups of paper are as toxic to aquatic midge larvae as plastic cups. Environmental Pollution, Volume 330, 121836. https://doi.org/10.1016/j.envpol.2023.121836
  2. https://www.gu.se/en/news/paper-cups-are-just-as-toxic-as-plastic-cups
  3. https://www.scielo.br/j/rmat/a/dKWdVfkcLnbvpdrBnwNLDPj/

Copos de papel são tão tóxicos quanto copos de plástico, alerta estudo Copos de papel são tão tóxicos quanto copos de plástico, alerta estudo Reviewed by Saber Atualizado on outubro 03, 2023 Rating: 5

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