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No sul do Brasil, golfinhos se aliaram com humanos para a captura de peixes

Figura 1. Um pescador em Laguna, Santa Catarina, esperando um sinal do golfinho para lançar sua rede. Foto: Fábio G. Daura-Jorge/Science


Ao longo de mais de 140 anos, pescadores no sul do Brasil têm formado uma notável parceria com golfinhos locais durante atividade pesqueira nas águas marinhas rasas do Oceano Atlântico, em particular na pequena cidade costeira de Laguna, Santa Catarina. Em um estudo publicado recentemente no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (Ref.1), explorando a potencial relação de cooperação entre esses mamíferos marinhos e humanos, pesquisadores encontraram convincente evidência de que os golfinhos são parceiros ativos e conscientes nessa parceria pesqueira. Aliás, os golfinhos podem estar inclusive guiando a pescaria e ensinando novas táticas aos pescadores.


"Ao longo dos anos, golfinhos vêm mostrando aos pescadores onde ficar e quando jogar as redes," disse em entrevista o biólogo marinho Simon Ingram, da Universidade de Plymouth, EUA, em entrevista à Science e comentando sobre o estudo (Ref.2). "É quase como se os golfinhos estivessem treinando os humanos." 


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O estudo inicialmente entrevistou 177 pescadores em Laguna, revelando uma preferência desses últimos por golfinhos que apontavam de forma confiável cardumes de tainha (nome genérico para vários peixes da família Mugilidae). Em seguida, os pesquisadores também registraram quase 5000 capturas de tainhas durante o período de 2018 até 2019, investigando também se os golfinhos locais (do gênero Tursiops) se beneficiavam da parceria com os pescadores, assim como os sinais acústicos emitidos pelos cetáceos durante a atividade de pesca (Fig.1). 


Figura 2. Um golfinho dando uma pista para um pescador na Praia da Tesoura, em Laguna. Golfinhos navegam e caçam através de ecolocalização, emitindo sons específicos e interpretando as reflexões sonoras (ecos) resultantes da interação das ondas sonoras e obstáculos no caminho (ex.: peixes nadando). Correta interpretação das emissões sonoras esclarece quando esses animais estão caçando ou fazendo outras atividades. Foto: Dr. Bianca Romeu, Departamento de Ecologia e Zoologia, Universidade Federal de Santa Catarina; Florianópolis, SC 88040-900, Brazil.


Figura 3. Pescador jogando a rede de pesca durante pesca conjunta com golfinhos. Foto: Dr. Fabio G. Daura-Jorge, Departamento de Ecologia e Zoologia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis SC, Brazil.

A análise dos dados acumulados mostraram que 86% das capturas efetivas envolviam "interações síncronas" com os golfinhos, ou seja, onde comportamentos perfeitamente sincronizados entre esses cetáceos e humanos resultavam em ambas as partes capturando peixes. Além disso, os pescadores eram 17 vezes mais prováveis de capturar tainhas quando os golfinhos estavam presentes. E quando havia sincronia comportamental efetiva entre golfinhos e pescadores, esses últimos capturavam quase 4 vezes mais peixes quando comparado com situações onde os golfinhos não estavam presentes. Nesse último ponto, os pesquisadores também mostraram que os golfinhos formando parceria com pescadores na área de estudo tinham uma chance 13% maior de sobrevivência em relação a outras populações de golfinhos - refletindo em ganhos sócio-econômicos e de bem-estar para os humanos parceiros.


           


Tanto os golfinhos estavam observando os humanos pescadores quanto os humanos pescadores estavam observando os golfinhos, com ambos os lados exibindo esforços no sentido de sincronizar corretamente as ações. Os pescadores esperavam com suas redes prontos para pistas exibidas pelos golfinhos se aproximando (entre ~12 a 4 metros de distância). Quando um golfinho via uma pescador pronto, o cetáceo emitia uma pista - geralmente um mergulho profundo - dizendo para o pescador que as tainhas estavam na posição correta para serem apanhados pela rede de pesca. 


Às vezes, nem os golfinhos nem os pescadores respondiam corretamente aos comportamentos, e nenhum deles pegavam os peixes. No entanto, os pesquisadores reportaram que de quase 3000 tentativas de pesca registradas, quase 46% eram de sucesso, com golfinhos e pescadores agindo em sincronia.


É possível que essa relação ecológica de mutualismo entre as duas espécies tenha inicialmente evoluído a partir de golfinhos individuais corajosos o suficiente para se intrometer na atividade pesqueira de humanos em regiões costeiras, visando apanhar uma maior quantidade de peixes com um menor esforço; com o tempo, os golfinhos teriam passado a ensinar os humanos pistas comportamentais visando otimizar a pesca e aumentar a oferta de peixes de fácil captura. 


Válido mencionar que esse tipo de colaboração entre humanos e golfinhos tem sido reportado em outras regiões, incluindo Austrália, Mauritânia e Sudeste Asiática. Muitas dessas parcerias históricas ou desapareceram ou estão em forte declínio. Destino similar pode ter a parceria interespécies em Laguna - e já existem sinais de declínio nesse sentido -, devido à escassez cada vez maior de peixes resultante de pesca predatória e outras agressões antropogênicas ao ambiente marinho.


> Golfinhos são animais com grandes cérebros, incluindo enorme quantidade de neurônios no córtex. De fato, são muito inteligentes, exibem elaborada comunicação e complexo comportamento social. Leitura sugerida: Estudo sugere que os Tiranossauros Rex eram tão inteligentes quanto babuínos


CURIOSIDADE: Fêmeas do golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) possuem um clitóris inesperadamente grande e bem desenvolvido, similar àquele de humanos e provavelmente com função de proporcionar prazer sexual. Para mais informações: Golfinhos possuem um clitóris similar ao humano e que parece dar prazer às fêmeas durante o sexo


REFERÊNCIAS

  1. Cantor et al. (2023). Foraging synchrony drives resilience in human–dolphin mutualism. PNAS, 120 (6) e2207739120. https://doi.org/10.1073/pnas.220773912
  2. https://www.science.org/content/article/dolphins-and-humans-team-catch-fish-brazil
  3. https://today.oregonstate.edu/news/fishing-synchrony-brings-mutual-benefits-dolphins-and-people-brazil-research-shows

No sul do Brasil, golfinhos se aliaram com humanos para a captura de peixes No sul do Brasil, golfinhos se aliaram com humanos para a captura de peixes Reviewed by Saber Atualizado on fevereiro 15, 2023 Rating: 5

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