Estudo sugere que os Tiranossauros Rex eram tão inteligentes quanto babuínos

Imagina um predador de 12 metros de comprimento, massa corporal de 7 toneladas e uma cabeça de 1,5 metro de comprimento recheada de enormes dentes afiados e, ainda por cima, inteligente a ponto de usar ferramentas. Segundo um estudo publicado no periódico Journal of Comparative Neurology (Ref.1) e conduzido pela neuroanatomista Suzana Herculano-Houzel, da Universidade de Vanderbilt, EUA, dinossauros terópodes como o tiranossauro provavelmente possuíam alta densidade de neurônios no córtex - uma área cerebral crítica para a maioria das tarefas associadas com inteligência e alta capacidade cognitiva.

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Com base em estimativas de massa cerebral obtidas com escaneamentos de tomografia computacional (CT) do crânio de dinossauros extintos e de pterossauros e um grande banco de dados relativo ao cérebro de aves (dinossauros terópodes ainda vivos) e de répteis modernos, os pesquisadores no estudo desenvolveram uma equação correlacionando a massa cerebral de um animal e o número aproximado de neurônios no cérebro, incluindo o córtex.

No caso específico do Tyrannosaurus rex, um dos mais icônicos e temidos predadores terópodes do Cretáceo, os pesquisadores estimaram uma massa cerebral de ~340 gramas e cerca de 3,3 bilhões de neurônios corticais - uma densidade maior do que aquela encontrada em babuínos (primatas do gênero Papio)! Babuínos possuem alta capacidade cognitiva, complexa comunicação, transmissão cultural e têm sido referenciados inclusive para o estudo da evolução da linguagem humana (2-3).

Terópodes em geral (ex.: Alioramus, Allosaurus), mostraram exibir alta densidade cortical, equivalentes aquelas observadas em macacos. Além disso, o estudo trouxe mais uma evidência suportando que esses dinossauros eram endotérmicos, similares às aves modernos.

Na imagem, alguns gêneros de primatas e de dinossauros terópodes não-aviários explorados no estudo, incluindo a massa cerebral total (g) e o número em milhões (M) de neurônicos corticais estimados. Herculano-Houzel, S., 2022

"Eu tenho agora um novo nível de respeito pelos T. rex," disse a autora do estudo em uma entrevista para a Science (Ref.4). "Algo daquele tamanho com aqueles dentes e que tinha a capacidade cognitiva equivalente àquela de um babuíno... isso é realmente assustador."

Segundo Suzana, é possível que Tiranossauros tenham sido capazes até mesmo de usar ferramentas, de forma similar àquela observada em corvos (ex.: uso de gravetos ou pedras para obter comida).

> Humanos possuem um cérebro de 1,5 kg e ~16 bilhões de neurônios no córtex, e um número total de neurônios em torno de 86 bilhões (Ref.5-6). É interessante mencionar que 80% dos neurônios do cérebro humano estão no cerebelo apesar dessa região ter apenas ~10% da massa cerebral; isso porque os neurônios no cerebelo são pequenas células granulares empacotadas em densas camadas celulares. O córtex, por outro lado, constitui ~80% da massa cerebral, mas apenas ~20 de todos os neurônios; neurônios corticais são maiores, possuem projeções axonais mais extensivas e estão associados a um maior número de estruturas celulares (dendritos, axônios, sinapses e células gliais).

> Elefantes possuem uma massa cerebral ~3 vezes maior do que aquela de humanos e cerca de 257 bilhões de neurônios. Porém, 97,5% do total de neurônios no cérebro desse animal está no cerebelo, com o córtex possuindo apenas 5,6 bilhões de neurônios (apesar de uma massa cortical ~2 vezes maior) (Ref.7).

> Por outro lado, o golfinho da espécie Globicephala melas - popularmente chamado de baleia-piloto-de-barbatana-longa - possui aproximadamente 37,2 bilhões de neurônios corticais, mais do que o dobro de neurônios no córtex humano (Ref.8). Orcas (Orcinus orca) também parecem possuir um maior número de neurônios corticais do que humanos (Ref.9). No geral, golfinhos possuem um número de neurônios corticais próximo ou superior do que aquele de humanos. Apesar desses cetáceos serem animais muito inteligentes e exibirem elaborada comunicação e complexo comportamento social, o córtex muito avantajado desses animais contradiz a hipótese relacionando um maior número absoluto de neurônios corticais com uma maior capacidade cognitiva. É notável mencionar que a densidade neuronal no córtex de golfinhos é significativamente menor do que a densidade neuronal de humanos.

> De qualquer forma, não é tão difícil imaginar evolução convergente de alta capacidade cognitiva entre dinossauros terópodes não-aviários e primatas, já que o mesmo ocorreu nas aves modernas (dinossauros aviários), em particular papagaios e corvos: Performance cognitiva dos corvos é similar àquela de primatas superiores não-humanos

> E falando no T. rex, é um questionamento interessante: por que esses animais tinham braços tão reduzidos? E o mais curioso: outros grandes terópodes também exibiam tal característica, fortemente sugerindo um traço adaptativo. Fica a sugestão de leitura: Por que o Tiranossauro rex tinha braços tão pequenos?

REFERÊNCIAS