Aquecimento global antropogênico está acelerando as correntes oceânicas, com robusto aumento de temperatura na parte superior dos oceanos
A circulação oceânica transporta calor e nutrientes e é importante para as mudanças climáticas e a resposta do ecossistema marinho no cenário de crescente aquecimento global por excesso de gases estufas na atmosfera. Mais de 90% do aquecimento gerado pelo efeito estufa atmosférico é absorvido pelos oceanos.
Evidências acumuladas têm mostrado que não apenas as águas marinhas estão sofrendo crescente aquecimento, como também os fluxos marinhos têm acelerado como resposta ao aquecimento da baixa atmosfera - em cerca de 15% por década de 1990 a 2013 (1). Até pouco tempo atrás, muitos cientistas suspeitavam que a aceleração nas correntes oceânicas era uma consequência de ventos oceânicos mais rápidos. De fato, circulação na camada superior dos oceanos é amplamente dirigida pelos ventos. Porém, convincente evidência de que houve significativa aceleração dos ventos oceânicos permanece inexistente. Gradiente de densidade é outro fator importante, dependente das variações de temperatura e de salinidade da água marinha. Nesse sentido, outra hipótese defendida é que mudanças estruturais no oceano em si, e não nos ventos, seriam o real responsável pela aceleração das correntes.
Agora, em um estudo publicado no periódico Science Advances (2), pesquisadores testaram um robusto modelo climático dos oceanos ao redor do mundo, analisando a influência individual de três fatores (ventos, salinidade e temperaturas superficiais) enquanto mantendo outras variáveis constantes. Eles encontraram que o aumento da temperatura causava um aumento de 77% na aceleração das correntes na parte superior dos oceanos. O aumento da temperatura superficial representou, de longe, a principal variável de impacto.
O estudo mostrou que esse efeito era devido ao modo como o oceano tende a se aquecer a partir da atmosfera, ou seja, progressivamente de cima para baixo. O aumento da estratificação vertical intensifica os giros subtropicais superiores e correntes equatoriais ao tornar mais rasos esses sistemas, enquanto o aquecimento diferencial entre a zona de convecção do Oceano Sul e a região ao norte aceleram as correntes zonais superficiais no Oceano Sul.
No geral, à medida que as águas superficiais se tornam mais frias do que as camadas inferiores, e estas mais quentes do que as camadas mais profundas, cria-se uma constrição, onde as águas quentes intermediárias no nível superior dos oceanos ficam espremidas entre camadas mais frias e mais densas, gerando uma aceleração extra (como sangue circulando em vasos sanguíneos obstruídos). Quando maior o aquecimento superficial dos oceanos, maior a estratificação fomentando a constrição.
Uma notável exceção encontrada pelo estudo é a Corrente do Golfo, a qual está provavelmente desacelerando, mas por outro motivo bem distinto: à medida que o gelo Ártico derrete (!), a água resultante dilui a água salgada afundando no Atlântico Norte, reduzindo a densidade das águas mais profundas.
(!) Leitura recomendada (incluindo vídeo): Veja o gelo marinho do Ártico afinando e desaparecendo
REFERÊNCIAS
- Hu et al. (2020). Deep-reaching acceleration of global mean ocean circulation over the past two decades. Science Advances, Vol. 6, No. 6. https://doi.org/10.1126/sciadv.aax7727
- Peng et al. (2022). Surface warming–induced global acceleration of upper ocean currents. Science Advances, Vol. 8, No. 16. https://doi.org/10.1126/sciadv.abj8394
- https://www.science.org/content/article/global-warming-speeding-ocean-currents-here-s-why
Reviewed by Saber Atualizado
on
janeiro 02, 2023
Rating:
