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Linhagem canina possui pouca influência no comportamento do cão, conclui estudo


 - Atualizado no dia 6 de janeiro de 2023 -


No público em geral, é comumente assumido que o comportamento e o temperamento de um cão é basicamente determinado pela sua linhagem canina ("raça") (!). Por exemplo, Pit Bulls são considerados frequentemente "cães agressivos", como se isso fosse uma característica inata dessa linhagem. No geral, é muito comum linhagens caninas diversas (Akita, Poodle, Mastim Espanhol, Beagle, Basset Hound, etc.) serem separadas uma das outras em relação a alegados traços únicos de personalidade, temperamento e de comportamento (ex.: mais ou menos leal, mais ou menos paciente, mais ou menos calmo, mais ou menos brincalhão, etc.).


Em um massivo estudo publicado recentemente na Science (Ref.1), pesquisadores investigaram 18385 donos de cães (49% de linhagem pura) nos EUA, através de um questionário com mais de 100 questões sobre o comportamento e o temperamento dos companheiros caninos (ex.: o quão amigáveis eram quando perto de estranhos). Além disso, os pesquisadores sequenciaram o DNA de 2155 desses cães.


Os resultados das análises mostraram que apenas 9% da variação comportamental entre os cães era explicada pela linhagem canina, e com personalidade variando dramaticamente dentro de uma mesma linhagem. Labradores se mostraram amáveis ou mais reservados, Pastores-Alemães fáceis de treinar ou extremamente teimosos, traços que aparentemente dependem muito mais de fatores ambientais do que de fatores genéticos. Foram encontradas 11 regiões genômicas (loci) significativamente associadas com comportamento, incluindo frequência de uivos e sociabilidade humana, e 136 regiões sugestivas. Os loci comportamentais não mostraram significativa diferenciação entre as linhagens. Para alguns traços como treinabilidade (capacidade de resposta a direções e comandos), herança genética associada à linhagem canina mostrou-se significativa em considerável extensão, mas para traços como sociabilidade humana e limite agonístico (o quão fácil um cão é provocado por estímulo desconfortável ou amendrontador) a linhagem canina mostrou-se insignificante como preditor. 


No caso de traços físicos, pelo menos 80% deles mostraram ser determinados por traços genéticos, consistentes com diferenças inter-linhagens e com um histórico moderno de forte seleção artificial nesse sentido - incluindo frequente envolvimento de mutações de novo.


As linhagens modernas de cães possuem menos de 160 anos de idade (~50-80 gerações), um piscar de olhos em relação à história e origem evolucionária desses animais (>10 mil anos) (1). Além disso, existe pouca evidência de que humanos modernos (Homo sapiens) tenham intencionalmente selecionado cães há mais de 2 mil anos. Antes do século XIX, cães eram primariamente selecionados para papeis funcionais, como caça, guarda e uso pastoril - comportamentos herdáveis e derivados do comportamento específico de caça dos lobos ancestrais (Canis lupus). 

 

Portanto, os pesquisadores sugeriram que traços diversos de comportamento, personalidade e temperamento que emergiram no processo de domesticação há milhares de anos são ainda amplamente conservados e compartilhados em todas as linhagens caninas. Segundo o estudo, comportamentos percebidos como características de linhagens modernas derivaram de milhares de anos de adaptação poligênica, pré-datando a formação das linhagens. Apenas traços estéticos (aparência física) é que foram significativamente diferenciados e isolados entre as linhagens modernas de cães, ou seja, essas linhagens são primariamente distinguidas por características físicas e não comportamentais.


"Quando você adota um cão com base na sua linhagem canina, você está pegando um cão com uma certa aparência", disse a co-autora do estudo Elinor Karlsson, uma bióloga computacional da Universidade de Massachusetts, Worcester, EUA, em entrevista à Nature (Ref.2). "Mas em relação ao comportamento, é meio que uma questão de sorte."


Um estudo mais recente publicado na Cell (Ref.3), analisando dados genômicos associados a mais de 4 mil cães domésticos, semi-selvagens e selvagens, e incluindo uma pesquisa comportamental englobando mais de 46 mil cães,  identificou 10 distintas linhagens caninas - em contraste com as ~226 linhagens caninas oficialmente reconhecidas representando os cães analisados - e traços comportamentais correlacionados com essas linhagens, com cada uma dessas linhagens caninas exibindo varições genômicas, padrões de neurodesenvolvimento e comportamentos únicos. Porém, várias das variações genômicas definindo essas linhagens caninas também mostraram estar presentes nos lobos modernos, com a diversificação comportamental canina pré-datando a formação das linhagens modernas e predominantemente dirigidas por variações regulatórias não-codificantes. 


Em outras palavras, seguindo a linha desse último estudo, o que os humanos fizeram foi enriquecer diferentes linhagens selecionadas para expressar mais ou menos de certos traços conservados e compartilhados com o ancestral comum, mas não necessariamente excluindo esses traços de outras linhagens caninas ou criando novos traços genéticos. Aliás, até para importantes traços fenotípicos nas linhagens caninas - como as dramáticas variações de tamanho corporal entre os cães - temos conservação de variações genômicas já presentes em canídeos ancestrais (2).


Por exemplo, cães-pastores (ex.: Border Collies) instintivamente sabem como pastorear animais de criação com mínimo treinamento, mas isso não significa que outros cães não possam ser treinados para o mesmo fim ou mesmo que tal habilidade emergiu através de uma nova mutação genética. 


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(!) Não existem raças (subespécies) entre os cães domésticos. Autores classificam todos os cães como uma única subespécie (Canis lupus familiaris) ou uma espécie sem subespeciação (Canis familiaris).


Para mais informações, acesse:  

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REFERÊNCIAS

  1. Morrill et al. (2022). Ancestry-inclusive dog genomics challenges popular breed stereotypes. Science, Vol. 376, Issue 6592. https://doi.org/10.1126/science.abk0639
  2. https://www.nature.com/articles/d41586-022-01193-1
  3. Ostrander et al. (2022). Domestic dog lineages reveal genetic drivers of behavioral diversification. Cell, Volume 185, Issue 25, P4737-4755. https://doi.org/10.1016/j.cell.2022.11.003

Linhagem canina possui pouca influência no comportamento do cão, conclui estudo Linhagem canina possui pouca influência no comportamento do cão, conclui estudo Reviewed by Saber Atualizado on dezembro 18, 2022 Rating: 5

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