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Essas lesmas marinhas decepam a própria cabeça e crescem novos corpos dentro de 20 dias


De acordo com os pesquisadores responsáveis pela descoberta - reportada e descrita em um estudo publicado hoje no periódico Current Biology (1) -, em entrevista para a Science Magazine (2), foi como um "filme de terror". Em um laboratório da Universidade Nara da Mulher, no Japão, a ecologista Sayaka Mitoh estava estudando lesmas marinhas, quando uma delas arrancou sua própria cabeça. Mas a surpresa maior foi observar que a cabeça decepada da lesma marinha - da espécie Elysia marginata - continuou se rastejando como se nada tivesse acontecido, sobreviveu por um longo tempo assim, e ainda regenerou todo o seu corpo em menos de um mês! Apesar desse tipo de extrema regeneração ser bem estabelecida em formas de vida mais simples, como hidras e vermes platelmintos, nunca antes havia sido visto um complexo animal capaz de tal habilidade, sobrevivendo mesmo após a perda de órgãos pensados cruciais como coração e sistema digestivo.


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O clado Sacoglossa (Gastropoda: Heterobranchia) engloba o mais especializado grupo de herbívoros marinhos, incluindo algumas espécies que são capazes de fotossíntese a partir de cloroplastos sequestrados de algas (!), particularmente no gênero Elysia. Autotomia refere-se ao descarte voluntário de partes corporais por um organismo, e é comum em diversos grupos de seres vivos filogenicamente distantes, como artrópodes, gastrópodes, anfíbios e répteis. O processo de autotomia é geralmente seguido pela regeneração de partes corporais terminais, como apêndices ou caudas. 


(!) Leitura complementar: Essas lesmas realizam fotossíntese como as plantas, modificando cloroplastos sequestrados


No novo estudo, os pesquisadores reportaram e descreveram uma nova forma de autotomia extrema em duas espécies de sacoglossanos: Elysia marginata e Elysia Atroviridis. Após a observação inicial do fenômeno em um espécime, os dois pesquisadores envolvidos no estudo, Sayara Mitoh e Yoich Yusa, coletaram vários espécimes no meio selvagem da espécie E. atroviridis, junto com 15 indivíduos criados em laboratório da espécie E. marginata, para serem melhor analisados nesse sentido. 


Ao longo do estudo, cinco dos 15 espécimes de E. marginata decapitaram a si mesmos, com o ferimento resultante no pescoço sendo fechado geralmente dentro de 1 dia, e as cabeças permanecendo bastante ativas e funcionais, como observado no vídeo abaixo. Dentro de algumas horas, as cabeças "zumbis", especialmente em espécimes mais jovens, começaram a se alimentar de algas. Dentro de 7 dias, o coração foi regenerado. Cerca de 20 dias depois, um corpo inteiramente novo se formou.


             


No grupo da espécie E. atroviridis, três dos 82 espécimes coletados se decapitaram, e dois dos decapitados eventualmente cresceram novos corpos. 


Uma das lesmas conseguiu se regenerar duas vezes após o processo de autotomia. Porém, em nenhuma das duas espécies uma cabeça se regenerou a partir dos corpos decapitados, apesar do corpo descartado frequentemente permanecer ativo por vários meses.


Entre os espécimes auto-decapitados de E. atroviridis, todos estavam infectados com pequenos crustáceos conhecidos como copépodes (subclasse Copepoda). Em outro grupo analisado contendo 64 indivíduos E. atroviridis sem parasitas, nenhum deles se decapitou, levando os pesquisadores a propor que essas lesmas marinhas separam a cabeça do corpo como um meio de se livrarem de parasitas, estes os quais podem interferir de forma deletéria na capacidade reprodutiva desses animais. Outra possível explicação é a de que essas lesmas estariam usando a autotomia para escaparem de predadores durante um ataque. Porém, quando os pesquisadores imitaram situações de ataque por um predador - apertando e cortando as lesmas -, não houve decapitação voluntária. Aliás, o processo de autotomia observado durava várias horas, sendo improvável ter alguma serventia durante o escape de algum predador.


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O real grande mistério é como exatamente essas lesmas sobrevivem à decapitação, persistindo vivas por vários dias sem um coração, sem quase todo o aparelho digestivo e sem outros órgãos vitais. Os pesquisadores acreditam que o fato dessas lesmas serem fotossintéticas - com cloroplastos sequestrados e modificados espalhados por todos o corpo - forneceria uma crucial fonte alternativa de substratos energéticos na ausência de um intestino. De fato, a cabeça "zumbi" dessas lesmas continuava ávida por algas (fonte de cloroplastos) mesmo sem sistema digestivo completo para processar os nutrientes associados. Entre indivíduos observados dentro e fora dos grupos estudados com idades mais avançadas, as cabeças decepadas não eram capazes de consumir algas, morrendo cerca de 10 dias depois.


No caso da falta de bombeamento de sangue, os pesquisadores sugeriram que devido ao pequeno tamanho da cabeça dessas lesmas, a necessidade de oxigênio não é grande nessa região, com um mínimo de oxigênio podendo ser assimilado do ambiente aquático a partir da superfície corporal.


Mais experimentos serão necessários para melhor elucidar os mecanismos fisiológicos e moleculares por trás desse extremo e inesperado processo de regeneração, o qual provavelmente deve envolver células-tronco especiais na extremidade final do pescoço separado.


(1) Publicação do estudo: https://www.cell.com/current-biology/fulltext/S0960-9822(21)00047-6


(2) Referência adicional: Science Magazine

Essas lesmas marinhas decepam a própria cabeça e crescem novos corpos dentro de 20 dias Essas lesmas marinhas decepam a própria cabeça e crescem novos corpos dentro de 20 dias Reviewed by Saber Atualizado on março 08, 2021 Rating: 5

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