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Araras-Azuis morreram intoxicadas com agrotóxico altamente nocivo

 
As Araras-Azuis (Anodorhynchus hyacinthinus) são uma emblemática e ameaçada ave da fauna Brasileira, símbolo de campanhas de conservação no país. Infelizmente, populações dessa ave ainda continuam sofrendo significativo declínio devido a vários fatores ambientais, apesar dos resultados positivos de ações de preservação conduzidas pelo Instituto Arara Azul. Agora, em um estudo publicado no periódico Scientific Reports (1), pesquisadores confirmaram que três araras-azuis foram mortas na região Sul do Pantanal devido à contaminação do ambiente com pesticidas organofosfatos, elevando o alerta para o contínuo uso excessivo e inadequado de agrotóxicos muito nocivos no país. 


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O Instituto Arara Azul (IAA) é parte de um programa de conservação de 30 anos no qual, no início do projeto em 1987, foi estimado que existiam apenas 2500 araras-azuis no ambiente selvagem. Atualmente, como resultado de um programa de conservação de sucesso conduzido no Sul do Pantanal, Mato Grosso do Sul, a população selvagem dessa espécie é estimada em aproximadamente 6500 indivíduos. 


O Pantanal, localizado no centro da América do Sul, é uma das maiores planícies alagadas de água doce contínuas no mundo. Esse bioma suporta um conjunto de fauna e de flora neotropical altamente produtivo e diverso, fornecendo importantes serviços ecológicos regionais e globais, e sendo inclusive classificado pela UNESCO como uma Reserva da Biosfera (2002). Apesar de uma grande proporção territorial do Pantanal consistir de propriedades privadas – cujas principais atividades econômicas incluem extensiva produção pecuária, turismo e pesca – e ter sofrido graves perdas devido aos massivos incêndios de 2019 e em menor extensão em 2020 – culminando na destruição de quase 25% do bioma (2) –, a região ainda retém um dos maiores esforços de conservação ambiental, e numerosos animais ameaçados ainda podem ser vistos nesse bioma, como jaguares, tapires, tamanduás-gigantes e araras-azuis. 


Como as araras-azuis são especializadas nas suas escolhas de alimentos e locais de ninho, as populações dessa espécie ainda continuam sofrendo importantes perdas devido à degradação do habitat através de desflorestamento, fragmentação florestal e comércio ilegal da vida selvagem (Animais exóticos de estimação: o lado sombrio da história). 


Apesar dos esforços do IAA terem conseguido reduzir significativamente o número de capturas ilegais de araras-azuis no meio selvagem, através de programas de conscientização – focando na educação das comunidades locais – e da expansão de patrulhas efetivas de fiscalização, outros fatores continuam representando importantes ameaças à espécie. Além da devastação florestal, elementos de infraestrutura (ex.: linhas de energia) e poluentes (visuais, sonoros e químicos) aumentam a taxa de mortalidade de aves mais jovens. 


No caso dos poluentes químicos, uma preocupante e crescente ameaça no Brasil é representada pelos agrotóxicos – referidos de forma insistente pelo governo Bolsonaro como “defensivos agrícolas”. Desde 2019, em meio à agressiva campanha de desmonte ambiental promovida do governo federal, o Ministério da Agricultura Brasileiro têm liberado uma enxurrada de agrotóxicos, muitos deles proibidos na Europa e na América do Norte, e alguns comprovadamente letais para as abelhas mesmo em doses pequenas (Agrotóxico aprovado pelo governo é um verdadeiro assassino de abelhas). 


O uso de pesticidas pode afetar a vida selvagem diretamente ou indiretamente. Alguns animais podem ser diretamente afetados durante a aplicação do pesticida, ao consumir alimentos e água contaminados, ou via envenenamento secundário de efeitos residuais dos pesticidas no ar, água e solo contaminados. Os efeitos residuais de pesticidas podem promover mudanças comportamentais em vários organismos, e afetar importantes estágios ou aspectos do ciclo biológico, especialmente reprodução. 


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No novo estudo, pesquisadores Brasileiros reportaram e descreveram três espécimes de araras-azuis encontrados gravemente debilitados em 2014, em uma fazenda no Pantanal do Rio Negro. Dois dos espécimes foram encontrados vivos mas com sintomas neurológicos, e pouco tempo depois morreram. O terceiro espécime morreu recentemente, mostrando vazamento de fluídos corporais das cavidades oral e nasal – uma manifestação anômala nesse tipo de ave e também presente nos outros dois espécimes. A necropsia revelou sinais de edema hemorrágico nos pulmões, levando à provável causa de morte: parada cardíaca. 



Exame toxicológico dos três espécimes revelou altos níveis do pesticida organofosforado Fosdrin no fígado desses animais, alcançando 158,5 partes por bilhão (ppb), e assinaturas de fatores químicos promovendo alteração neural. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 1 ppb é a dose letal para animais de laboratório como ratos, e dependendo dos caminhos de exposição e de absorção, oral ou dérmica, concentração acima de 50 ppb é considerada altamente perigosa. As evidências acumuladas, portanto, confirmam morte aguda causada pela intoxicação desses animais com Fosdrin. 


Os organofosforados - compostos orgânicos derivados do ácido fosfórico e seus homólogos – podem persistir no ambiente por pelo menos três anos, e a alta solubilidade em água permite que esses compostos sejam rapidamente dispersados no ambiente, aumentando o potencial de contaminação (2). Intoxicação com organofosforados incluem sintomas neurológicos que comprometem o sistema respiratório e o centro cardiovascular. Assim como qualquer agente neurotóxico, esses compostos causam danos na função motora que leva a movimentos não-coordenados, sugeridos nos espécimes analisados de araras-azuis por hematomas espalhados pelo corpo. O histórico de intoxicações no ambiente selvagem por organosfosforados usados na agricultura é extenso na literatura acadêmica. 


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Os três casos descritos no estudo, apesar de isolados e aparentemente incomuns no Pantanal, aumentam o alerta para o uso descontrolado e excessivo de agrotóxicos no Brasil. Em 2020, em apenas quatro estados Brasileiros, mais de 500 milhões de abelhas foram encontradas mortas por apicultores. A principal causa para essa mortalidade em massa de abelhas é o uso de pesticidas neonicotinoides e fipronil, os quais são muito letais, com a contínua aplicação ao longo de diferentes ambientes levando ao extermínio de várias populações de abelhas. 


Apesar do impacto não ser tão grande quanto o sendo observado nas abelhas – pelo menos até onde sabemos –, as aves são muito vulneráveis e sensíveis a todos os tipos de agentes tóxicos, devido a adaptações fisiológicas únicas, caracterizadas por altas taxas metabólicas e baixa massa corporal. 


E o uso inadequado e abusivo desses pesticidas, incluindo a aprovação de compostos extremamente letais, não são uma ameaça apenas para a biodiversidade e equilíbrio ecológico. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentos e Agricultura (FAO), cerca de 75% das plantas consumidas por humanos são dependentes de abelhas. Insetos e outros animais polinizadores são essenciais para a agricultura e a economia global, mas estamos lavando-os com agrotóxicos, sob o irônico argumento de aumento da produção agrícola. Maior investimento em métodos de controle biológico de pragas e no campo de transgênicos é necessário para reduzir ao máximo o uso de agrotóxicos.


Na conclusão do estudo, os pesquisadores também recomendaram que o uso de qualquer organofosforado não deveria ser aplicado dentro ou em áreas adjacentes a reservas ambientais, especialmente em ecossistemas aquáticos como o Pantanal.


(1) Publicação do estudohttps://www.nature.com/articles/s41598-021-84228-3


(2) Referências adicionais

Araras-Azuis morreram intoxicadas com agrotóxico altamente nocivo Araras-Azuis morreram intoxicadas com agrotóxico altamente nocivo Reviewed by Saber Atualizado on março 24, 2021 Rating: 5

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