Cigarro eletrônico gera mudanças epigenômicas ligadas ao câncer vistas em fumantes
Em um estudo publicado no periódico Epigenetics (1), pesquisadores reportaram que pessoas que usam cigarro eletrônico exibem modificações químicas no genoma geral e em partes do DNA similares àquelas vistas em pessoas que fumam cigarro tradicional. Essas alterações químicas - também conhecidas como mudanças epigenéticas - podem fazer com que os genes não funcionem bem e são comumente encontradas em quase todos os tipos de cânceres humanos assim como em outras graves doenças. Esse achado se soma às inúmeras evidências acumuladas nos últimos anos indicando que esses produtos estão longe de serem minimamente seguros, sendo questionável inclusive chamá-los de 'alternativas mais seguras aos cigarros tradicionais'.
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Nos EUA, uma misteriosa doença pulmonar ligada diretamente aos cigarros eletrônicos - em sua maioria produtos usando THC - já atingiu 2758 usuários e matou 64. Porém, a grave doença pulmonar não é o único problema associado aos cigarros eletrônicos. Inúmeros estudos publicados nos últimos anos vêm acumulando evidências de que esses produtos causam danos em diversos graus no trato respiratório e à saúde em geral. Não só a nicotina e o THC (tetraidrocanabinol) são motivos de preocupação. O aerossol gerado pelo aquecimento da mistura de solventes orgânicos voláteis no e-cigarro leva aos pulmões dos usuários radicais livres, metais pesados, flavorizantes e outras substâncias tóxicas - e mesmo carcinogênicas (I). Efeitos de longo prazo não são conhecidos.
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(I) Leitura recomendada: Cigarros eletrônicos são realmente seguros?
E, infelizmente, cada vez mais pessoas estão se viciando nesses produtos, especialmente os mais jovens. O uso de e-cigarro passou de 7 milhões de usuários em 2011 para 41 milhões em 2018, com um aumento projetado para mais de 55 milhões até 2021, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Nos EUA o e-cigarro já virou oficialmente uma epidemia entre os adolescentes. Aliás, marcas grandes e criminosas como a Juul estavam consciente visando o público mais jovem e não viciado, e também fomentando a disseminada ideia que esses produtos são completamente seguros.
No novo estudo, os pesquisadores recrutaram 45 participantes, divididos em três grupos: fumantes, usuários de cigarro eletrônico (e-cigarro) e controle (aqueles que não fumam e não usam e-cigarro). Sangue foi retirado de cada um dos participantes e testados para mudanças nos níveis de dois marcadores químicos específicos anexados ao DNA que são conhecidos de impactar a atividade e/ou a função dos genes. Esses marcadores químicos incluíram grupos metila (metilação) em uma sequência específica do DNA, chamada de Elemento Nucleotídico Intercalado 1 (LINE-1), e grupos hidroximetilas (hidroximetilação, 5-hmC) no genoma em geral. Mudanças nos níveis desses marcadores, os quais são importantes para a estabilidade genômica e a regulação da expressão genética (III), ocorre em vários estágios de desenvolvimento, assim como em doenças como o câncer.
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Dos 45 participantes, fumantes e usuários de e-cigarro mostraram significativa redução nos níveis de ambos os marcadores quando comparado com o grupo de controle. Esse é o primeiro estudo a mostrar que os usuários de e-cigarro, assim como os usuários de cigarro tradicional, possuem as mesmas mudanças extra-genômicas detectáveis nas células sanguíneas. O mesmo time de pesquisa responsável pelo novo estudo também encontrou uma expressão genética anormal em um grande número de genes ligados ao câncer nas células epiteliais tanto de fumantes quanto de usuários de e-cigarro, em um estudo publicado em 2019 (III).
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(II) Leitura recomendada: Epigenética, Plasticidade Fenotípica e Evolução Biológica
(III) Para mais informações, acesse: Cigarros eletrônicos geram várias desregulações moleculares ligadas ao câncer
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Os achados não significam que os usuários de e-cigarro necessariamente desenvolverão câncer, mas que existe um maior risco para o desenvolvimento de tumores, especialmente a longo prazo. Assim como no cigarro tradicional, indivíduos que usam e-cigarro e que são geneticamente mais suscetíveis podem desenvolver a doença mesmo com uma menor quantidade de toxinas cancerígenas sendo produzidas nesses dispositivos, considerando outros fatores de risco sendo somados.
(1) Publicação do estudo: Epigenetics
Cigarro eletrônico gera mudanças epigenômicas ligadas ao câncer vistas em fumantes
Reviewed by Saber Atualizado
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fevereiro 12, 2020
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