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Cientistas Brasileiros finalmente flagram quem poliniza essa estranha planta


Em um estudo publicado no periódico Ecology (1), da Sociedade Ecológica da América, pesquisadores do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista, depois de quase três décadas da hipótese proposta, finalmente provaram que um pequeno mamífero da família Didepphidae é, de fato, o principal responsável por polinizar a estranha flor de uma curiosa planta parasita encontrada no sudeste do Brasil.

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O clado Balanophoraceae é uma família pantropical com aproximadamente 50 espécies descritas e distribuídas em 18 gêneros. Todas as espécies são holoparasitas de raízes obrigatórios (ou seja, se alimentam dos nutrientes de outras plantas via suas raízes e não realizam fotossíntese). O único modo de observar uma planta dessa família na superfície é quando suas robustas inflorescências (parte da planta onde se localizam as flores) unissexuais emergem do solo para a reprodução sexual. No gênero Scybalium, existem três espécies, uma ocorrendo na Jamaica e duas no Brasil, mas apenas a Scybalium fungiforme apresenta uma inflorescência composta por rígidas e grossas estruturas similares a placas. A distribuição da S. fungiforme é restrita a florestas sazonais no Centro-Oeste e no Sudeste do Brasil, especialmente em áreas abaixo de 1400 metros acima do nível do mar. Não lembrando nem mesmo uma planta, e com as flores cobertas com uma verdadeira armadura, a primeira óbvia pergunta é: 'Qual tipo de animal poliniza essa espécie?'.




Há 27 anos, Patrícia Morellato, uma professora e pesquisadora na Universidade Estadual Paulista, propôs a hipótese que a S. fungiforme seria polinizada por gambás ou por pequenos roedores. Enquanto a maioria das espécies pertencentes à Balanophoraceae são primariamente polinizadas por abelhas e vespas, as duras brácteas (folhas modificadas protegendo a inflorescência) cercando as pequenas e pálidas flores da S. fungiforme impediriam em grande extensão o acesso de insetos e de pássaros ao néctar. Os gambás, com seus polegares opositores nas patas traseiras, e habitantes das regiões onde essa planta floresce, seriam animais capazes de alcançar as flores. De fato, na década de 1990, Morellato e seu time de pesquisa chegou a capturar um gambá com néctar da planta em seu nariz, com o auxílio de substâncias fluorescentes colocadas em flores da S. fungiforme. No entanto, evidências diretas dessa polinização não foram obtidas.

No novo estudo, iniciado em maio de 2019, os pesquisadores resolveram revisitar essa hipótese de polinização, analisando uma população de S. fungiforme localizada próxima da Floresta Sazonal Atlântica. Foram realizadas observações noturnas dessas plantas com a ajuda de câmeras de infravermelho, deixadas ao longo da noite nos locais onde as inflorescências ocorriam. As câmeras foram dispostas de forma estratégica e a cerca de 50 metros umas das outras, fazendo registros entre 21:00 h e 04:00 h.

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Após quatro noites de observação, como previsto, foi registrado um gambá-de-orelha-preta (Didelphis aurita) visitando inflorescências de diferentes plantas da S. fungiforme. No total, o gambá fez 14 visitas (2 a 7 visitas toda noite), as quais ocorreram entre 22:30 h e 02:30 h, e duravam de 25 a 70 segundos. As visitas seguiam um padrão bem definido, com um intervalo de visita entre duas plantas em torno de 40 minutos. Três raras visitas de ratos da espécie Akodon montensis também foram registradas durante a noite; durante o dia, algumas abelhas, vespas e beija-flores também foram flagrados visitando as inflorescências. A secreção de néctar ocorria predominantemente à noite (113-1858 microlitros, com 8-10% de concentração de açúcar), mas grandes quantidades também ficavam disponível durante o dia, indicando um possível sistema combinado de polinização.




Os resultados do estudo reforçam, portanto, que os gambás são polinizadores primários e de maior importância da S. fungiforme, com abelhas, vespas e beija-flores servindo como polinizadores secundários e aproveitando néctar impregnando partes mais expostas da inflorescência (ou mesmo deixadas pelas visitas noturnas dos gambás). Além disso, o novo estudo ajuda a derrubar a comum ideia de que apenas morcegos são importantes polinizadores entre os mamíferos. No vídeo abaixo, é mostrado um dos registros em vídeo do flagra.

          

Os pesquisadores pretendem agora, em um estudo futuro, melhor quantificar a importância e a eficiência dos gambás, pássaros e insetos como polinizadores da S. fungiforme.


(1) Publicação do estudo:  Ecology

Cientistas Brasileiros finalmente flagram quem poliniza essa estranha planta Cientistas Brasileiros finalmente flagram quem poliniza essa estranha planta Reviewed by Saber Atualizado on fevereiro 13, 2020 Rating: 5

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