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Estudo corrobora hipótese de que nossa espécie se auto-domesticou


Um estudo publicado esta semana na Science Advances (1) trouxe evidências genéticas e paleo-genéticas de que a nossa espécie (Homo sapiens) não domesticou apenas cães, gatos, entre outros animais, mas também a si mesma! Analisando a base genética de uma síndrome bastante curiosa, os pesquisadores concluíram que os humanos modernos provavelmente domesticaram a si mesmos após se separar dos seus parentes evolutivos mais próximos, os Neandertais (2) e os Denisovanos (3).

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Leitura complementar:

Animais domesticados, além dos traços comportamentais diferenciados (especialmente menor agressividade e maior amigabilidade), trazem características físicas que os diferem notavelmente dos seus parentes selvagens - como a orelha caída dos cães e o rabo enrolado de porcos - todas associadas a uma maior interação e melhor convívio com os humanos. E esses traços frequentemente são compartilhados entre diferentes espécies de mamíferos domesticados, como manchas brancas pelo corpo (áreas delimitadas de pelos brancos) e diminuição da cabeça e do focinho - expressão de fenótipos englobados na assim denominada por Charles Darwin de 'síndrome da domesticação'.

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Nesse contexto, é curioso notar que os humanos anatomicamente modernos exibem um leque de características craniofaciais (anatômicas) e pró-socais (comportamentais) que são similares aos traços que emergem em espécies domésticas que as distinguem dos seus ancestrais selvagens. Nossa espécie é menos agressiva e mais cooperativa do que muitos dos nossos ancestrais (considerando as evidências paleo-arqueológicas acumuladas) e também exibimos características físicas notáveis como crânios menores (apesar do grande cérebro) e uma testa plana - com consequentes sulcos de sobrancelhas menos pronunciados - que melhor expressam emoções (4). Esse marcante fenótipo alimentou inclusive a interessante hipótese de que nós, humanos, nos auto-domesticamos ao longo da nossa evolução. Essa hipótese foi primeiro defendida por Johann Friedrich Blumenbach, no século XIX, e já existem também evidências sugerindo fortemente que outras espécies - como cães, gatos, bonobos e ratos (5) - também podem ter passado por pelo menos uma fase de auto-domesticação (ou seja, sem interferência direta dos humanos selecionando indivíduos para procriarem).

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Leitura recomendada:

Ainda nesse contexto, temos a síndrome de Williams-Beuren e a variante de duplicação dessa síndrome (7dupASD), causadas respectivamente pela hemideleção e pela hemiduplicação de 28 genes na região 7q11.23, representando um estranho par de condições neurodesenvolvimentais cujos dismorfismos craniofaciais e traços cognitivos/comportamentais expressos são associados diretamente a traços de domesticação mais do que relevantes para a nossa espécie (redução e retração faciais, pronunciada amigabilidade e reduzida agressão reativa). Variantes estruturais nos genes da síndrome de Williams-Beuren, por exemplo, já mostraram basear hiper-sociabilidade em cães domésticos e raposas (6).

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(6) Leitura recomendada: Cientistas revelam um importante gene envolvido no processo evolutivo de domesticação

Nesse sentido, no novo estudo, pesquisadores da Universidade de Milão, Itália, resolveram investigar o gene BAZ1B, o qual realiza tarefas importantes na movimentação de células neuroectodérmicas da crista neural, mas que uma cópia - junto com várias outras de outros genes - está curiosamente ausente em pessoas com a síndrome de Williams-Beuren. Para entender se o BAZ1B atua na expressão de características faciais, eles criaram culturas de 11 linhagens de células-tronco de crista neural: 4 de pessoas com a síndrome de Williams-Beuren, 3 de pessoas com a variante da condição (região de duplicação) e 4 de pessoas sem nenhuma das desordens. Em seguida, os pesquisadores utilizaram uma variedade de técnicas para aumentar ou diminuir a atividade do gene BAZ1B em cada uma das linhagens celulares analisadas.

Ao manipularem o grau de atividade do gene, os pesquisadores descobriram que o BAZ1B de fato afeta centenas de outros genes conhecidos de estarem envolvidos no desenvolvimento facial e cranial. Em seguida, ao usarem técnicas paleo-genéticas e compararem todos esses gentes afetados entre humanos modernos, Neandertais e Denisovanos, os pesquisadores revelaram um substancial acumulado de mutações regulatórias nesses genes. Isso também se soma à hipermetilação (fator epigenético) na própria região regulatória do gene BAZ1B, previamente identificada e única nos humanos modernos. Em outras palavras, esses achados fortemente indicam que a seleção natural agiu nas últimas centenas de milhares de anos no sentido de moldá-los. E como vários desses genes também foram submetidos à seleção em outros animais domesticados, isso traz a primeira forte evidência empírica que os humanos modernos também passaram por um processo de domesticação, validando a hipótese da auto-domesticação e posicionando o gente BAZ1B como um crucial regulador da face moderna humana.

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Sobre a causa macro do processo de auto-domesticação humana, os pesquisadores sugeriram que à medida que a nossa espécie começou a formar sociedades cooperativas, pressões evolucionárias favoreceram parceiros de acasalamento cujas características eram menos 'alfa' ou agressivas. Indivíduos mais empáticos, menos agressivos e amigáveis catalisam grupos sociais maiores e mais coesos. Nesse sentido, basicamente, a seleção natural começou a não favorecer os 'bullies' e os seus genes de maior agressividade, aumentando a frequência de genes pró-sociais.


(1) Publicação do estudo: Science Advances

Estudo corrobora hipótese de que nossa espécie se auto-domesticou Estudo corrobora hipótese de que nossa espécie se auto-domesticou Reviewed by Saber Atualizado on dezembro 06, 2019 Rating: 5

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