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Cientistas descobrem que ratos parecem conseguir domesticar a si mesmos sem a intervenção humana


Pesquisadores reportaram essa semana na Royal Society Open Science que ratos selvagens parecem conseguir se auto-domesticar sem a necessidade de uma seleção artificial humana, algo antes pensado ser uma exclusiva ação humana e cunhado por Charles Darwin de 'síndrome da domesticação'.

Animais domesticados, além dos traços comportamentais diferenciados, trazem características físicas que os diferem notavelmente dos seus parentes selvagens - como a orelha caída dos cães e o rabo enrolado de porcos - algo sempre associado com a contínua intervenção humana direta. E esses traços frequentemente são compartilhados entre diferentes espécies de mamíferos domesticados, como manchas brancas pelo corpo (áreas delimitadas de pelos brancos) e diminuição da cabeça e do focinho - expressão de fenótipos englobados na síndrome da domesticação.

Muito do que sabemos sobre a mudança física dos animais domesticados vem de um famoso experimento na Sibéria realizado na década de 1950. Nesse experimento, quando raposas selvagens eram selecionadas para permitir que apenas as mais mansas se reproduzissem, esses animais começavam a desenvolver características típicas de cães, como rabos curvados, cabeças menores e orelhas caídas.

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A partir de resultados acidentais de um experimento científico iniciado em 2002, porém, algo inesperado ocorreu. Cientistas estavam estudando o comportamento e dinâmica de transmissão de doenças de 12 ratos selvagens em um celeiro de 72 metros quadrados localizado na região de Illnau, Suíça, onde os animais eram permitidos de irem e virem (via inúmeros pequenos buracos no espaço do celeiro), com total liberdade de acasalamento e feitura de ninhos. O espaço em que viviam era seguro contra predadores e o celeiro também continha uma grande quantidade de comida e água, fornecidos pelos pesquisadores regularmente. Roedores externos geralmente entravam na área, mas não chegavam a colonizá-la.

Os ratos que não se importavam com as visitas dos pesquisadores permaneceram no celeiro e acabaram gerando uma população de 250-430 animais a qualquer período de averiguação, com alguns inclusive correndo para cima dos pesquisadores em vezes de fugirem da presença humana. Em outras palavras, esses roedores perderam o medo de humanos sem que os pesquisadores intervissem diretamente de forma a acasalar e selecionar esses animais.

Quatro anos depois, uma bióloga evolucionista da Universidade de Zurique, Anna Lindholm, começou a notar que manchas brancas de pelo surgiram em alguns desses ratos - tímidos na maioria, mas suficientes para serem notados. Então, entre 2010 e 2016, a proporção de ratos adultos com manchas de pelos brancos mais do que dobrou. E como já mencionado, manchas brancas nesses animais estão associadas a traços oriundos da domesticação. Além disso, o tamanho da cabeça deles diminuiu, na média, 3,5%, e o comprimento corporal também sofreu uma significativa redução. Em outras palavras, quatro características físicas surgiram nesses ratos selvagens que fortemente indicam uma evolução biológica de auto-domesticação após poucas gerações.


O surpreendente achado sugere que a auto-domesticação dos animais pode produzir os mesmos traços vistos na domesticação por seleção artificial (humana). Isso traz a possibilidade de que animais domesticados diversos podem ter iniciado naturalmente com o processo de domesticação a partir dos ancestrais selvagens, somando-se com a contribuição humana. Ou seja, os seres humanos em um passado distante podem ter agido para acelerar a domesticação quando esse processo evolutivo já estava em curso.

Os pesquisadores também propuseram que um grupo de células envolvidas no desenvolvimento embrionário chamadas de 'a crista neural' são responsáveis pelo espectro de traços do fenótipo associados com a síndrome da domesticação. Essas células afetam a cor da pele, orelha, a cartilagem das orelhas, a formação dos ossos faciais, e as glândulas adrenais (envolvidas com a produção de hormônios do estresse e testosterona) - todos parâmetros físicos de diferenciação entre animais domesticados e não-domesticados.

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É válido também frisar que esse é o primeiro estudo de análise do fenômeno. Outros mecanismos evolutivos - como a deriva genética e processos adaptativos para diferentes fontes de alimentos explicando algumas ou todas as mudanças morfológicas nas dimensões da cabeça, e ausência de predadores para explicar a persistência de manchas brancas pelo corpo - podem ser alternativas de causalidade para as alterações morfológicas observadas não-ligadas à síndrome de domesticação. Porém, essas explicações alternativas não conseguem explicar algumas tendências observadas, como a reversão no tamanho da cabeça que inicialmente teve uma profunda queda dentro da população em geral, mas que voltou a aumentar substancialmente a partir de 2014 - com uma queda global em torno de 3,5%.

O novo achado, se confirmado, traz importantes implicações sobre o processo evolutivo e pode ser importante para entendermos como espécies sociais, como humanos, cães e bonobos podem resolver problemas - como o compartilhamento de comida e ajuda do próximo em situações de estresse - que outros animais não conseguem, especialmente entre espécies domésticas e selvagens.


Publicação do estudo: RSP

Referência adicional: Science

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Cientistas descobrem que ratos parecem conseguir domesticar a si mesmos sem a intervenção humana Cientistas descobrem que ratos parecem conseguir domesticar a si mesmos sem a intervenção humana Reviewed by Saber Atualizado on março 10, 2018 Rating: 5

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