Novo estudo traz a controversa conclusão de que não existe criação de novos neurônios no hipocampo de adultos
Um controverso novo estudo publicado esta semana na Nature veio para derrubar a ideia de que o hipocampo humano diariamente cria várias novas células nervosas na fase adulta. Segundo os pesquisadores, após analisar dezenas de amostras de hipocampos de doadores variando de fetos até pessoas acima dos 70 anos de idade, concluiu-se que a quantidade de novos neurônios nessa região cerebral começa a diminuir após o nascimento e cai a praticamente zero já no início da fase adulta.
Se confirmado o novo achado, isso será um grande revés para os neurocientistas, já que sempre se esperou usar a suposta habilidade do hipocampo de regenerar novas células nervosas para tratar doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer e o Parkinson. Porém, muitos pesquisadores na área não estão convencidos pelo novo estudo, especialmente porque ele contradiz múltiplas linhas de evidências de que o hipocampo continua produzindo um substancial número de neurônios ao longo de toda a vida do indivíduo.
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Nos últimos 20 anos, cientistas vêm reportando que a criação de neurônios no hipocampo de humanos e outros mamíferos nitidamente diminui ao longo da vida, mas que novos neurônios ainda eram encontrados mesmo nos mais velhos indivíduos. na zona subgranular do giro dentado. Esse processo sempre foi ligado ao aprendizado e à memória, estresse e exercícios físicos, e acredita-se que possa ser alterado negativamente durante doenças neurológicas. Alguns estudos sugeriram que centenas de neurônios eram criados todos os dias no hipocampo de adultos, enquanto outros estudos encontravam números bem mais modestos. Apesar das discrepâncias, o consenso geral até o momento é que um bom número de novos neurônios continuam sendo produzidos na região hipocampal na fase adulta.
No novo estudo, porém, após a análise de 37 doadores de diferentes idades, os pesquisadores só conseguiram identificar a presença de novos neurônios no máximo em um indivíduo com a idade de 13 anos. Em uma amostra de uma pessoa de 18 anos, eles não encontraram nada. Apesar do número de amostras ser relativamente pequeno, a aparente ausência de novos neurônios estava presente em todos os indivíduos acima dos 13 anos de idade, o que não corrobora nem um pouco a hipótese até hoje mais aceita. Em primatas da espécie Macaca mulatta, eles também encontraram que a neurogênese parecia ter um fim na fase adulta.
Contra-argumentando, outros neurocientistas apontaram que não encontrar novos neurônios nas amostras de hipocampo não significa necessariamente que eles não estão lá. O método do novo estudo usou marcadores moleculares para a visualização de células imaturas no hipocampo dos indivíduos 48 horas depois de mortos. Nesse sentido, existe a dúvida se esses marcadores seriam eficazes nas sinalizações após todo esse período de morte, com a qualidade do tecido cerebral já comprometida. Além disso, as substâncias usadas para a preservação dos tecidos analisados podem interferir com a capacidade dos marcadores de se ligarem com as células alvos.
Além disso, foi apontado também que diversos fatores ao longo da vida das pessoas cujos cérebros foram analisados podem interferir profundamente na criação de novos neurônios, como estilo de vida (atividades físicas, dieta, etc.), grau do estado doentio (no caso de doenças crônicas antes da morte), estado de depressão, níveis de estresse, entre outros. Dependendo desses fatores, a quantidade de novos neurônios pode cair drasticamente, pelo menos segundo o nosso conhecimento de neurociência até hoje acumulado.
Os pesquisadores do novo estudo concordam com as limitações, mas estão confiantes com os resultados. Citam que também fizeram uma análise adicional do hipocampo de 22 pacientes tratados para a epilepsia que tiveram parte dos seus cérebros removidos, e nesses casos não foram encontrados novos neurônios em nenhum deles acima dos 11 anos de idade.
De qualquer forma, novos estudos serão necessários para refutar ou corroborar o novo achado. Até lá, muito debate ainda vai rolar, especialmente do porquê humanos e primatas possuiriam a neurogênese no hipocampo interrompida na fase adulta enquanto outras espécies de mamíferos nitidamente a conservam.
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Publicação do novo estudo: Nature
Referência adicional: Nature (Blog)
Novo estudo traz a controversa conclusão de que não existe criação de novos neurônios no hipocampo de adultos
Reviewed by Saber Atualizado
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março 10, 2018
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